Hoje que o ano começa
e p´ra que comece bem
vou fazer uma promessa
ao meu pai e à minha mãe...
Prometo, que eu sou boazinha,
rigorosa obediência
aos decretos, circulares
regras, leis e invenções
que o novo ano me traga
que nas férias fiquei zen
treinei minha paciência
até nem quis ser titular
e resisto a qualquer praga.
Prometo também, todavia,
nunca ficar calada
e dizer a qualquer hora
quando o juízo indicar
que não concordo com lei
que faça a já pobre escola
transformada em caranguejo
só para trás caminhar.
Prometo, ainda, abraçar
o melhor que posso e sei
tudo o que faz sentido
e mantém a chama acesa
mas ser só à superfície
corpo a boiar sem entrega
na montanha de papéis
da estéril burocracia
que em cada ano nos chega.
Prometo (oh se prometo!)
continuar a tecer
sonhos, asas, fantasias
vestir a minha armadura
levantar bem alto a espada
e combater os dragões
os piratas, os ladrões
para salvar sem temor
sem medalhas, nem louvor
aquela que é minha amada.
Hoje que o ano começa
e p´ra que comece bem
vou fazer uma promessa
ao meu pai e à minha mãe...
Prometo que não prometo
prometer o que não posso
nunca a ninguém prometer
(ser chão, tapete, alcatifa)
que promessas dessas sabemos
é no vento que se montam
e partem depressa a correr
levadas p'ra não sei onde
lá onde o escuro se esconde
e eu nem quero saber.
A todos vocês: um bom regresso de olhos sempre mais além.
(o "refrão"... quadra de partida, retirei-o da memória de um qualquer poema que me lembro de recitar mas não sei de quem é... alguém sabe?)
ADENDA 1: A esta pergunta respondeu a bell... Obrigada! Lembrava-me das duas primeiras quadras de cor... mas depois... "a coisa" perdia-se lá para os lados da infância...
O poema é de Maria Isabel Mendonça Soares:
"Hoje, que o ano começa,
e para que comece bem,
vou fazer uma promessa
ao meu pai e à minha mãe.
E para não a esquecer
e que ninguém me desminta,
nesta folha de papel
aqui fica escrita a tinta.
Prometo solenemente
não brigar com o meu irmão,
repartir com toda a gente
brinquedos, bolos ou pão;
ter sempre tanto juízo
quer de dia, quer de noite,
que nunca há-de ser preciso
apanhar nenhum açoite.
Se assim fizer, hei-de ter
muitos amigos e amigas
porque a amizade se pega
mais que o sarampo e as bexigas."
ADENDA 2: Um leitor atento :) (HM, ora quem!) deixou-me este escrito em privado. Eu nem lhe pedi autorização para o transcrever, mas ele já me conhece e não se incomoda, por certo (?):
Gostava de me insurgir veementemente contra uma informação incorrecta que V. Exa tem no seu bilógui. Diz a supra referida informação respeito ao Caranguejo que, ao contrário do que V. Exa diz, não anda para trás mas para o lado, o que não sendo bom, sempre é melhor do que andar para trás.
Ora vem a presente afirmar que sabia do facto, mas os condicionalismos poético-rimáticos (não confundir com reumáticos, que a presente ainda revela alguma saúde articular) não lhe permitiram explicar que se tratava de um caranguejo (o da poesia, claro) com evidentes problemas de lateralidade. A bem dizer, um caranguejo com n.e.e. que, não conseguindo andar nem sequer para o lado, encontrou "nas arrecuas" a sua forma primeira de deslocação. É caso para dizer que, assim, mais valia ficar parado. :)
Recordação
Há 5 anos
10 comentários:
Lindo poema.
Um bom regresso!
João
Bom regresso para ti também.
Fico à espera das teias que lerei cuidadosamente, mesmo que não comente.
Um abraço.
Margarida
É de Maria Isabel Mendonça Soares:
"Hoje, que o ano começa,
e para que comece bem,
vou fazer uma promessa
ao meu pai e à minha mãe.
E para não a esquecer
e que ninguém me desminta,
nesta folha de papel
aqui fica escrita a tinta.
Prometo solenemente
não brigar com o meu irmão,
repartir com toda a gente
brinquedos, bolos ou pão;
ter sempre tanto juízo
quer de dia, quer de noite,
que nunca há-de ser preciso
apanhar nenhum açoite.
Se assim fizer, hei-de ter
muitos amigos e amigas
porque a amizade se pega
mais que o sarampo e as bexigas."
Bom recomeço!
:)
obrigada pelas visitas e... pela reposta!
Como sempre ...fantástico!
Bom regresso!
Zami
Boas promessas (estas que valem a pena).
Bom ano lectivo :) Muita poesia e doce insubordinação!
~CC~
Teresa:
Poema lindíssimo. Que grande volta ao texto... Parabéns
Vou usá-lo no meu blog, com a devida vénia, posso não posso?
Bom ano lectivo
João P.
Claro que sim, João! Obrigada pelas tuas palavras e pela distinção. Um bom ano lectivo!
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