quinta-feira, setembro 20, 2007

Poesia, Matemática e Ensino (muito pouco) Especial...

Para quem, como eu, lecciona matemática do 6º ano.
Para quem, como eu, gosta de ler.
Para quem, como eu, acredita que até a matemática serve para contagiar para a leitura...
...deixo aqui ligação para dois poemas matemáticos que não são recentes e estão algures lá para os lados do Sabor e Saber:

RAIO DO DIÂMETRO
"PI"RÍMETRO DO CÍRCULO

Os usos possíveis são muito variados... Divirtam-se!

A propósito de actividades menos convencionais na aula de Matemática, deixo aqui um apontamento que me fez sorrir.
Oh N.! Ensinei o hino da Matemática à tua direcção de turma e hoje descobri que o M. (asperger) quase o decorou por completo e canta-o, com entoação e alegria!
Não me digas! Eu perguntei à professora anterior, do 1ºC, se ele cantava e ela respondeu que não!
Mas canta, acredita. Voltei a repetir hoje e cantámos os dois a canção para a turma, no finalzinho da aula, com o poema à frente. Ele estava feliz! Quando chega à parte do "Insiste, pratica..." ri com gosto!
Ainda no início, primeira semana-duas aulas, encontrei felizmente uma primeira janelinha para o coração do M. Agora é preciso continuar o difícil caminho... Recordo o Zé, há muitos anos, autista profundo que tive numa das minhas aulas, depois de ter insistido com a mãe, colega nossa, que o deixasse frequentar Matemática - não estava previsto no PEI. No final do ano, o trabalho do CT - todos inexperientes, mas cheios de amor para dar (que reuniam voluntariamente na sua componente não lectiva, num tempo com mais tempo)- foi elogiado e os progressos foram muito evidentes. A Mãe abraçou-nos chorando, nós dissemos que havíamos feito o possível, com todas as limitações de recursos, condições e conhecimento... Ela retorquiu: fizeram o mais importante...deram colo, acolheram, exigiram.
E cresci muito, sempre imenso, quando tive ocasião de trabalhar com crianças com diferença um pouco mais acentuada. Será mais um ano de aprendizagem, embora muito difícil pelas condições em que sou obrigada a trabalhar.

(O que me leva à eterna questão - que vou persistentemente fazendo, para que não se pense que são tudo rosas e me esqueço dos erros graves cometidos: como se espera que um professor, com a distribuição de serviço que é a minha e a de muitos outros, trabalhe com todo o rigor e exigência necessários, quer para os alunos em geral, quer para estes casos tão especiais, integrados em turma, que exigem um cuidado extremo e um tempo grande de preparação de estratégias e materiais específicos? O aluno em causa está a meu cargo em Matemática, Ciências e Estudo Acompanhado. A turma de sexto também é "especial"... )

Cito o Terrear, que se questiona sobre as medidas anunciadas pelo ME para criar condições para que os alunos com necessidades educativas especiais beneficiem de um apoio mais efectivo e eficaz ('palavra de ME').

Nem sei se chore, se ria. Em todo o documento (dirigido essencialmente aos profissionais do ensino especial) são esquecidos os professores dos Conselhos de Turma que trabalham TAMBÉM com essas crianças. Ora como muitos alunos passam TAMBÉM MUITO tempo com esses professores dos Conselhos de Turma... seria de esperar alguma indicação especial para a distribuição de serviço dos mesmos... assim... sei lá... (que eu sei tão pouco) Menos sobrecarga? Um tempito para reunirem? Para prepararem materiais específicos? Para irem melhorando a sua formação? Não. Em vez disso o absurdo de que já vos dei conta. O horário dos professores transformado em enchido de má qualidade.
No documento em causa pode ler-se esta frase (única referência à integração no ensino regular): A inclusão destes alunos nas escolas do ensino regular deverá processar-se de forma a garantir a todos os estudantes uma resposta às suas necessidades educativas em igualdade de circunstâncias.
Lá fico eu sem saber se hei-de rir, ou chorar.

Bonito na teoria... Mas na prática... Experimentem dar uma vista de olhos pelas escolas. Eu estou como sabem. A Directora de turma do M. tem 8 turmas a seu cargo. É caso para dizer, como Yogi Berra (que, para além da fama desportiva, se destacou pelas suas muitas frases 'especiais' ao bom estilo Bush):

In theory there is no difference between theory and practice. In practice there is.

(Teoricamente, não há qualquer diferença entre a teoria e a prática. Mas, na prática, a diferença é enorme - Tradução que encontrei no livro: Matemática para aprender a pensar, da ASA)


O texto completo do ME pode ser lido AQUI.
"ME reforça apoio a alunos com necessidades educativas especiais
O Ministério da Educação (ME) lançou diversas medidas no âmbito da Educação Especial, com o objectivo de criar condições nas escolas e nos agrupamentos para que os alunos com necessidades educativas especiais beneficiem de um apoio mais efectivo e eficaz."

2 comentários:

Anónimo disse...

Foi preciso ir para uma direcção de serviços a mãe de um autista que outras qualificações não tem que essas, para haver escolas com recursos especiais para meninos autistas...

Teresa Martinho Marques disse...

Pois... Quem sente na pele sabe tudo o que é preciso e será sem dúvida o melhor conselheiro em qualquer situação! Bem hajam as mães e pais que com coragem e devoção desbravam florestas para que os seus meninos tenham a vida que lhes pertence por direito! Abraço