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Aprender, o quê?
Crónica
Hoje traz-me aqui o espanto de sempre.
Espanto de constatar que muito mais de metade do que aprendi na escola esqueci.
Muito mais de metade do que aprendi na faculdade, não sei.
O que ficou? O que se acrescentou?
O que me faz falta. O que é belo e dá prazer. O que me serve. O que faz sentido. O que alguém tornou importante aos meus olhos.
Que tempo é este que se consome, cada vez em maior quantidade, e não nos faz crescer?
Valerá a pena insistir numa organização congelada da vida escolar, como se lá fora não existisse um líquido rio? Deixar que se beba fora dos muros tudo/muito do que agora parece fazer mais falta aos dias, em época de incerto e variável futuro? Alimento para o qual há fome, mas que deixou de ser possível confeccionar com cuidado e rigor (num tempo sem tempo, tão propício ao fast-food). Dificuldade em descobrir nutrientes essenciais perdidos por entre as listas extensas de pratos, num desconexo e pobre menu imposto a todas as refeições. Previsível a curto prazo uma obesidade de ar. E cada dia sem exigência de algo mais saturará o sangue de espessa e assassina apatia.
Não foi sempre assim? Não sobrevivemos?
Achamos realmente que a velha receita resulta com um público escolar, um contexto, uma vida em nada semelhante à que fomos percorrendo? Que os velhos acepipes, mesmo moendo qualquer volume mastigável para tentar que tudo se engula sem dor, serão oportunidade aberta ao crescimento de todos? Consciência tranquila?
Há diferenças claras na organização dos dias de hoje. No desfiar das horas de que se faz cada caminho de cada criança/pessoa neste mundo de metálicas distâncias com nome de comunicação. É preciso mais tempo de encontro? As turmas crescem. É preciso não ter frio? As assimetrias persistem. É preciso mais tempo? O tempo é roubado.
Urgente acordar para essa diferença, ajustar a formação dos professores, reinventar a escola, esquecer, desistir do inútil, do vazio, do sem sentido condenado ao esquecimento. Do pouco. Do nada. Da ocupação quase estéril. Devolva-se o tempo levado aos professores (que os empurrou para um fazer retalhado sem pensamento dentro) e que ele seja (re)organizado de forma exigente para aprendermos todos qualquer coisa. Nós e os alunos. Ou isso, ou definhar.
2 comentários:
Já tinha lido a tua crónica. Agridoce q.b. Linda. Noto-lhe uma mágoa recente, um desgaste sobre o qual já temos conversado. Sabes, Teresa, podem desgastar-nos, mas as nossas torres de marfim permanecerão erectas, e um dia voltarão a ser guarida da liberdade que nos vão tirando, pouco a pouco, de forma sofrida.
Repito: "Jamais os invasores levaram consigo as nossas torres de marfim." (José Régio)
Abraço forte.
Voto então nas nossas torres de marfim...
É urgente protegê-las de todas estas agressões...
Obrigada pelas tuas palavras.
Beijinho
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