quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Sempre (mais) professora (que)...

Pois...
Como formadora de professores (formação em contexto), sempre que faço um acompanhamento de uma aula (me desculpem os adultos) centro a minha atenção nos alunos.
A atenção que dispenso ao professor-formando relaciona-se com
- o reforço ou encorajamento de gestos bons para os alunos
- o (meu) exemplo de acção (tomar das rédeas, ou em paralelo) que ajude e promova o saber e descobertas dos alunos, a valorização dos seus produtos, o raciocínio e sua explicação pelos próprios, a comunicação da forma como pensam, ou o que pensam sobre a forma como outros pensaram e, até, a introdução de conteúdo matemático substantivo que por vezes os professores receiam antecipar por considerarem prematuro (a relação de proximidade entre mim e o professor-formando tem permitido essa minha acção de forma natural, o que é muito estimulante)
e, até,
- a correcção de gestos que entenda serem prejudiciais para o aluno em particular, ou para aula em geral (de forma discreta, mas não deixando que não seja feito o melhor possível na aula em que estou presente).
Não estou lá para assistir a nada, para avaliar nada, estou lá para ajudar a crescer quem se deixar contagiar pela minha experiência e entusiasmo.

Acabo sempre por chegar à mesma conclusão, independentemente das características do professor ou das aulas que acompanho: sou sempre muito mais professora do que formadora.
E , por causa disso, até talvez seja boa formadora (não sei, hei-de vir a sabê-lo nos balanços finais) mas é dos alunos que não voltarei a ver (quando os acompanhamentos terminarem) que sentirei mais saudade.
É de dar aulas (mais aulas minhas) que sinto saudade.

Decididamente houve uma razão forte para não ter aceite o convite para ficar como professora na Universidade de Lisboa aos 22 anos. Houve uma razão para não ter aceite nunca integrar os quadros da ESE quando o convite me foi feito, alguns anos depois (antes de ter 30).

Quando finalmente este ano aceitei este papel relacionado com a formação de adultos, sorriram e disseram: finalmente conseguimos arrancar a Teresa aos meninos dela...

Mas a verdade é que não conseguiram. Aprendo muito, sim. Cresço. Cada minuto vale a pena por toda aprendizagem feita e que ainda farei. Mas arranjei mais meninos (centenas), criei muitos laços com eles e, naturalmente, não pude/poderei aprofundá-los. Não são completamente os "meus" meninos. Terei saudades de tudo o que aprendo com as suas descobertas e perguntas. E dos abraços e sorrisos deles. A formação de adultos, por muito desafiante que seja, não é a minha paixão. Nem a minha vocação. Só experimentando poderia ter a certeza.
Gosto destes balanços. Fazem-me pensar que na vida tenho feito sempre as escolhas certas das portas que abro e das que fecho. Paz, portanto. Um bem maior. Sei disso.

Deixo aqui um dos momentos de hoje que não resisti a captar. O anonimato fica preservado porque o nome que eu digo não é o do aluno em causa (depois de desligar ele corrigiu-me... oh professora de matemática, o meu nome não é esse... é... ....... são tantos meninos, perco-me... respondi-lhe eu e... perdoou-me a falha.)
O aluno é de uma turma de 1º ano e tem 6 anos.
Digam lá se não é absolutamente delicioso vê-los a crescer mesmo ali à nossa frente.

Será a imagem que guardarei do dia de hoje. O som dele.
É por isso continuo sempre (mais) professora (que)...
Não tenho remédio. Não tenho cura.
Nem quero ter.


3 comentários:

rabina disse...

:)
:)

IC disse...

:)
Mas também são precisas mais professoras que queiram ser "mais professora que..."

Teresa Martinho Marques disse...

:) :) :) (um para cada um)