terça-feira, fevereiro 17, 2009

Os meus e os que não são meus mas são meus também

Professora! Professora! Tive Bom a Matemática!
Deu-me a mão por volta das 8 da manhã, sem me deixar entrar, com a alegria que não queria conter... Ex-aluna, sempre revelou dificuldades no 5º e no 6º anos, depois de um ou dois choros e muita conversa, percebeu que era preciso trabalhar muito, com a minha ajuda, e nunca mais deixou de o fazer... Agora já no 7º é uma das que se tem mantido sem sobressalto... ao ponto de ter conseguido finalmente o Bom... ao contrário de, por exemplo, um dos meus melhores alunos dessa turma (mas demasiado "brincalhão e conversador") que teve... Insuficiente. Parece que progrediu na brincadeira e na conversa, mas regrediu na dedicação ao estudo. Celebrei com ela. Fico feliz por eles. Serão sempre os meus meninos, mesmo depois de crescerem e seguirem caminho...

Professora! Tive Bom a Matemática e Suficiente mais a Português!
No meio da enorme confusão do pavilhão, no ambiente apertado e tumultuoso da entrada para as salas, ele apareceu no meio da multidão para me dar a notícia.
E quem é ele?
Não sei bem.
Na quinta-feira da semana passada apareceu à porta do clube (já nos havia namorado um dia destes) perguntando se podia experimentar. Que a professora da tutoria não estava... que gostava de ver o que fazíamos ali. Percebi que é amigo do "conguito" (o tal menino complicado que no clube não é nada complicado). Claro que o deixei ficar. Expliquei que estamos um pouco no limite, mas se ele tinha computador (pareceu-me vê-lo um dia no chão a... jogar? com um) que podia trazê-lo e aprendia a programar nele. Oh professora, mas eu tenho tutoria na primeira hora do Clube, só posso... Deixa estar, depois vens à segunda... ou até podes pedir à professora que venha conhecer este espaço... Diz ele: Eu até podia pedir-lhe para mudar a hora da tutoria...
Nesse dia ficou e aprendeu e acho que gostou.
Não é meu, mas já é quase meu.
Hoje abordou-me como se fossemos velhos conhecidos percebendo-se o enorme prazer e alegria na partilha dos bons resultados. Depreendo que deve ser um aluno pouco habituado a boas notas e com alguma dificuldade no percurso escolar (a tutoria deve ter alguma razão).
A verdade é que não o conheço bem... mas palpita-me que virei a conhecer.

A escola dos laços perde-se aos poucos.
Luto para me manter à tona e continuar a sentir cada aluno como pessoa que merece respeito e atenção, não apenas mais um nome num impresso, umas notas para a estatística das coisas, um objecto sentado à minha frente numa correria em que as caras e os lugares vão mudando ao longo do dia e da semana, sem mais. Meu ou não meu que depois fique meu do coração, tanto me faz. São gente.

O que mais me dói nas comunicações em papel que são feitas aos professores de forma fria e distante, para os informar dos incumprimentos e da não aplicação (injusta e provavelmente ilegal) deste ou daquele artigo e respectiva progressão, é este amarrotar e rasgar progressivo da humanidade que sempre habitou a escola. É esta sensação de que deixámos de ser gente para passar a ser um ser que não é nem deixa de ser a não ser que preencha todos os papéis com ou sem razão de ser.
Ao optarem, alguns país fora, por esses gestos impessoais e irreflectidos é feita uma opção clara: para não trairem uma tutela cega e injusta (o que tem feito ela de bom pela escola?), traem e tratam de forma cega e injusta aqueles que mais têm dado ao serviço das crianças e, portanto, da escola. Das suas escolas.
Os riscos são óbvios. E as consequências muitas... duvido que alguma boa.

Explicação?
Não encontro.
Mas eu sou uma pessoa simples...

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