Simplex. Reduzir. Tudo muito objectivo, uniformizador, transparente. Basta saber adicionar (em alguns casos pode recorrer-se à tabuada da multiplicação, que ajuda).
Fiz as minhas contas por curiosidade. Queria saber quanto valiam 20 e tal anos de dedicação à causa.
Consegui a módica quantia de 109 pontos. Sou, portanto, um razoável embrião de titular, não fosse o facto simples de não querer nascer para esse título, por muitas e variadas razões de que já falei.
Este ano, em que sou coordenadora da BE-CRE, ter-me-iam dado afinal (depois da proposta de zero na 1ª versão) 3 pontos. Mas como é neste ano e este ano não conta... lá ficam menos três na minha conta. Matemática de "sumir" é o que tudo isto me lembra.
Na escola e no departamento onde estou, o risco de conseguir chegar a titular se me candidatar é imenso. É quase uma certeza absoluta. E há riscos que não quero correr. Medo de passar o resto da vida a aceitar tarefas com as quais não concordo e para as quais não me sinto motivada. Medo de deixar de ser feliz por não ter o tempo necessário para os alunos e para tudo o que me faz ser uma professora exactamente como gosto e eles gostam.
Mas, parece que este meu medo não é o medo certo.
Uma Amiga dizia-me ontem que, numa certa escola, a delegada sindical aconselhava os professores a candidatarem-se porque "colocava a hipótese de poderem vir a sofrer alguma penalização, que não está ainda prevista, mas poderia vir a existir"...
Ora, para além do prémio de consolação - passagem para um 6º escalão de professor (não titular) só em vigor neste concurso - oferecida a quem se candidate e não consiga atingir o pódium (portanto, penalização de quem não se candidata, que permanece no 5º do novo ECD) não existe aparentemente mais nenhuma consequência. Claro que o professor que não se candidata verá os outros passarem-lhe à frente, estagnará na carreira... os que desejam ser apenas professores têm de ter consciência disso. Mas... mais castigos ainda? Medo de leis ainda inexistentes que venham a contrariar outras leis que nos dão um direito (o de escolha) e depois nos penalizem por isso? Foi a isto que chegámos? O que se está a passar? O que é isto?
Medo.
Esta palavra assusta-me.
Sinto-o à minha volta na voz de pessoas que me dizem que se vão candidatar e rezarão para não ficarem titulares. Nas que se candidatam apenas para um dia não sofrerem penalizações se as inventarem, mas sabendo, desde já, que na escola e na posição em que estão não têm qualquer hipótese e sentindo-se felizes com essa coisa de continuarem a ser apenas professores, mas aliviados por terem feito o gesto de se candidatar...
Medo nas que me dizem que só se candidatam porque são ambos professores, os filhos, o futuro e se um dia o emprego e tal...?
Medo quando me dizem para jogar à defesa e me aconselham a aproveitar agora que é fácil. E se um dia fores obrigada e depois for mais complicado com provas e coisas assim?
Muita gente me disse que não se iria candidatar. Desses, mais de metade vai fazê-lo. Não sei se pelas certas razões.
Confesso que este medo me mete medo. Não as penalizações futuras.
Não leiam nas minhas palavras qualquer gesto de afronta ou birra de miúda. Ou qualquer juízo de valor sobre a questão de concorrer ou não concorrer. Devemos ter direito a fazê-lo ou a não o fazer com a convicção que deve orientar qualquer decisão.
Acho que quem tem vocação para titular deve claramente avançar. Quem tem feito formação na área da gestão e formação de professores, deve seguir o caminho que aproveitará melhor as suas habilitações. Quem o deseja apenas porque o deseja, ou porque quer ver o esforço de uma vida recompensado com a natural progressão, deve seguir em frente.
Mas seguir em frente por medo... por receio de um futuro desconhecido é algo, como direi?, profundamente assustador.
Receio este medo que cheiro no ar.
O desimportamento, o silêncio que pode gerar.
Assim encolhidos, assim perdidos e afligidos, será fácil continuar a fazer o que até aqui nos tem sido feito...
Medo do medo. Confesso. Isso tenho.
11 comentários:
Há tão pouco a acrescentar, Teresa. É tão difícil desenlaçar este nó que sinto na garganta… que às vezes chamo raiva… e outras, motivação…
Este teu texto tem tanto de trágico como de belo…
"Receio este medo que cheiro no ar."
Também eu, Teresa, também eu. E então esse conselho vindo de um sindicato, ainda mais medo me mete, sabendo que, neste momento, todos os sindicatos estão unidos contra o ECD.
Realmente, realmente, mas que é isto?...
Até quando, colegas?
... pois, Teresa. Até quando? Receio a resposta que está a ser dada nos corações de cada um. E é exactamente isso Miguel... nó na garganta e força/motivação para manter a cabeça erguida e dar o melhor aos que nos aguardam todos os dias ávidos de flores... Têm de permanecer juntos a raiva e a motivação. Abraço
Não corro o risco de ser titular. Se tudo acontecer com estou a prever, nunca o serei. Mas olho para alguns dos meus colegas, que serão certamente futuros titulares, e se vejo medo em alguns, vejo profunda satisfação noutros.
Satisfação que não está lá pelas melhores razões! Satisfação porque vão poder meter medo aos que não serão titulares! Satisfação porque vão ter um "posto"! Satisfação porque já podem dizer quase que à boca cheia:"Eu vou ser titular! Tu não!"
É nestas alturas que eu me sinto profundamente feliz por não correr o risco de o vir a ser! Detestaria ser contaminada pelo vírus da "Titularidade aguda"!
Deixem-me ser professora "de segunda": deixem-me dar aulas!
Afinal...foi para isso que eu andei a adquirir preparação! Desde os seis anos de idade!
Olá Teresa,
aflige-me ler e reconhecer que acontece este medo de que fala. Parece-me que os sindicatos não têm feito o melhor trabalho e o silêncio instalou-se cúmplice e arrepiante. O país está, lamentavelmente, infeliz e vazio.Ainda bem que existem pessoas assim desassombradas, e que não deixam que as imposições, sem sentido, as tolham.
Bjs
Maria João... há verdade nas tuas palavras. Acredito que alguns o serão por razões menos boas... mas estaremos lá nós todos, que somos diferentes, para tentar equilibrar o sistema... e sei a força que podemos ter...
Cristina, obrigada pelas palavras deixadas. Sejamos, eu, vocês, o que tivermos e quisermos ser com convicção e razões válidas para ver se conseguimos mudar esta cor cinza que se cheira... Acredito no poder daqueles com o coração no lado certo sobre os outros...
Beijinhos
Mau maria, então não vos roubaram já que chegasse nestes dois anos de congelamento? (Digo "vos" porque sou do 10º jurássico - não estive congelada, estive só gelada a assistir)
Então agora querem entregar de mão beijada a massa à ministra?
Se na altura certa não conseguimos opôr-nos a essa divisão pacóvia dos"titulares de quê"
parece-me, embora ainda não tenha reflectido muito sobre isto, que o que há a fazer é avançar e tentar encontrar os meios para que todos no mais curto prazo avancem.
Esta foi a primeira medida penalizadora mas parece claro que virão mais.
E essa dos sindicatos unidos contra o ecd faz-me comichões. Então não deixaram aprová-lo?
Setora, eu percebo bem o que dizes. A minha questão é outra: penso que se deve defender que um professor-professor possa progredir na carreira tanto quanto um professor titular... Eu (e isto é pessoal) não tenho qualquer vocação para os cargos atribuídos no ECD ao titular e sentir-me-ia infeliz exercendo-os. Entendo bem a questão do roubo na pele... sou das que entregou tudo, fui avaliada no 8ºEsc, em teoria teria transitado para o 9º mas por 10 dias fiquei congelada... ou seja, nestes anos vou perder "algum" (bastante)dinheiro e, depois, continuarei a perder... MAs não consigo imaginar-me a assistir a aulas de colegas, avaliar-lhes dossiers, ser juri de exames de novos colegas, fazer-lhes as provas de admissão... andar num virote de tarefas burocráticas de avaliação de terceiros... se tivesse vocação para acompanhamento/formação de profs teria ficado na Universidade logo a seguir ao curso (fui convidada para ficar no Dep de Educação), ou teria aceite ir para a ESE quando me convidaram no segundo ano em que estava a dar aulas. Resumindo: é mesmo uma questão pessoal de vocação: sou oficial de campo, amo o trabalho com os miúdos, não é coisa que consiga mudar... Concordo contigo quando dizes que não se deve entregar a massa de mão beijada... por isso defendo que quem quer ser titular pelas certas razões deve avançar... por medo é que não... Obrigada pela visita e pelas tuas palavras! (Fui ao teu canto e gostei muito... vais direitinha para os favoritos da teia...) :)
Este medo assusta!!! Se assusta, minha amiga! Tudo porque, cada vez mais, parece que, afinal, de nada serviram tantos anos de sofrimento, dor e luta de tantos! Quanta conquista desperdiçada! Quanta alegria e vida que, mal tiveram a oportunidade de brotar, logo foram caladas. Quantos Viva!!! à liberdade e à democracia mais elementar mal foram proferidos logo foram calados. Quanta má memória e ignorância propositadas que tão depressa dão de novo lugar ao país cinzento de outrora da educação, da saude, da justiça, ... E é o quero, posso e mando que parece de novo estender os seus tentáculos sem apelo nem agravo e nós sugados, esbracejando alguns, ainda, e sempre (talvez sem resultado??), encolhidos outros (resignados???), e outros... haverá? Um deserto! Este país está a tornar-se, cada vez mais, num deserto! Mas, pelo menos, os desertos a sério têm uma alma própria. Mas este? Alma? Nem história, nem memória, nem inteligência, nem visão de identidade, de esperança, de força, de querer, de felicidade!!! O que nos resta, senhores?
Não acho que devamos ver nesses termos o assistir à aula alheia. Eu acho que não tenho qualquer jeito para polícia mas tenho jeito para par. Logo no primeiro ano de trabalho (73), à revelia da directora, fazia aulas emparelhadas com uma colega. Eu ia a algumas das dela e ela a algumas das minhas. Se nos divertíamos! E para os alunos era excelente. A que estava na plateia também podia intervir e isso gerava óptimos momentos de aprendizagem. Dávamos literatura aos complementares, hoje secundário.No meu estágio (em 76, no 2º ciclo e unificado) nunca marquei o horário para as aulas assistidas. Quando quisessem, que fossem.Agora quando trabalho em parceria - Estudo Acompanhado e Área de Projecto - gosto. Nós é que definimos os termos em que cumprimos essas tarefas.
Uma explicação - quando abri o blog foi por "raiva" como é evidente nos posts. Nem frequentava a blogosfera. Assim tirei logo à partida os links achando que não iriam ter préstimo para a meia dúzia de pessoas que iriam visitar-me. A coisa não foi assim e descobri que isto possibilita uma extraordinária comunicação. O problema agora é que não sei voltar a pôr os links e ainda não tive tempo para estudar o como fazer. Por isso, por enquanto não posso devolver a passagem.
Boas férias.
Mais uma vez estamos de acordo. Já trabalhava voluntariamente a pares muito antes de ser inaugurada a ideia de EA ou AP... e, tal como tu, gosto bastante. lembro-me de uma série de projectos, por exemplo de`Área-escola em que me instalava na aula de LP (e eu sou de MAt e CN) para ajudar... Gostava imenso de trabalhar em contexto de projecto em que, por exemplo, prof de Mat e EVT trabalham lado a lado no desenvolvimento de projectos que envolvem a aplicação directa dos conceitos matemáticos. Não tenho realmente jeito para polícia nem para formalizar burocraticamente o acompanhamento e avaliação de profs professores (informalmente, ajudo sempre e a toda a hora... ainda agora estivemos voluntariamente reunidos na escola porque me têm pedido que faça alguma formação informal TIC... blogues... sites... etc... e eu digo sempre que sim. Divertimo-nos bastante...
Não te preocupes com os links... hás-de descobrir... ou um colega-par ajuda (passo a vida a fazer isso na escola e a receber também. É na partilha que cumprimos o melhor de nós...). Bom descanso!Quanto a férias... pois... não será bem... tenho bastante trabalhito para pôr em ordem... mas só o poder dispor do tempo sem horário já ajuda a relaxar!
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