Dizem que eu tenho a mania de fazer filmes sobre o futuro ainda não acontecido.
Sim. Tenho. Admito.
Hoje apetece-me fazer um. Vamos lá a isto...
À categoria de professor titular, além das funções de professor (leiam o capítulo correspondente às mesmas), correspondem funções diferenciadas pela sua natureza, âmbito e grau de responsabilidade.
Os cargos de coordenação científico-pedagógica são assegurados pelos professores titulares. Entre outras competências (as de professor, claro) destacam-se estas: coordenação da prática científico-pedagógica dos docentes das disciplinas; áreas disciplinares ou nível de ensino; acompanhamento e orientação da actividade profissional dos professores da disciplina ou área disciplinar, especialmente no período probatório; intervenção no processo de avaliação do desempenho dos docentes das disciplinas, áreas disciplinares, ou níveis de ensino; participação no júri da prova pública de admissão ao concurso de acesso na carreira...
O filme: se eu me candidatar a (e chegar a ser) professora titular... posso, portanto, ser coordenadora de departamento. Vejamos algumas funções de um coordenador (para além das já enunciadas) enquanto avaliador: preencher uma ficha de avaliação sobre os professores (no meu departamento – matemática e informática - são bastantes...), entrevistar individualmente os avaliados... (avaliação feita de dois em dois anos).
Claro que para avaliar os professores terei de ponderar o seu envolvimento e as suas qualidades científico-pedagógicas (ao longo dos dois anos, suponho), com base na apreciação dos seguintes parâmetros classificativos: preparação e organização das actividades lectivas, realização das actividades docentes, relação pedagógica com os alunos, processo de avaliação das aprendizagens dos ditos... Claro que para o fazer, diz o estatuto, deverei recorrer à análise dos (imensos) materiais produzidos pelos (muitos) professores, assistir-lhes a aulas mais do que uma vez, conversar com eles sobre as assistências e os materiais... fazer a leitura dos seus relatórios de auto-avaliação... reunir com os demais responsáveis pela avaliação dos docentes para aferição de observações...
... não é preciso ser um génio para perceber que com cerca de 20 professores (ou mais) a meu cargo, pouco tempo me sobrará para tratar dos meus próprios alunos, se levar a sério o meu papel de avaliadora... E que, repito, os “titulares” são professores, com a sua lista própria de funções, sendo também avaliados... Com o modelo de distribuição da carga lectiva em vigor, cada vez se têm mais tarefas de diversa natureza e menos tempo na componente individual. A dispersão é imensa, a concentração, aprofundamento e dedicação a tarefas específicas relacionadas com os nossos alunos é cada vez menor. Gasta-se o tempo sem aprofundar coisa alguma, saltitando de nenúfar em nenúfar, de acompanhamento em acompanhamento, de substituição em substituição, de reunião em reunião, de papel em papel, de projecto em projecto, de formulário em formulário, de absurdo em absurdo. Achar que é possível fazer com seriedade tudo o que o estatuto preconiza para o professor titular (já nem falo do resto), só pode resultar de um completo desconhecimento do que é a realidade da escola e o trabalho de um professor dedicado.
A única coisa que sei é que os alunos continuarão a ser a minha prioridade.
E espero que alguém dê pelo absurdo, antes de acontecer o pior.
Como sempre, o meu optimismo inclina-se a acreditar na vitória da inteligência...
Já fiz o meu filme. Pronto. Se vier a acontecer exactamente assim, deixem-me cá pensar:
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Professora titular? Eu?
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Recordação
Há 5 anos
2 comentários:
Não tarda a aparecer no “mercado educativo” um maravilhoso formulário que resolverá esse problema… modelo único tipo pronto-a-vestir… hummmm creio que as experiências com o SIADAP são o ponto de partida para essa notável “inovação”. Vitória da inteligência, Teresa? Não sei não…
Pois Miguel... mas ainda vou no filme com alguma nota verde de esperança... enfim... não sei quando desbotará...
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