quinta-feira, março 11, 2010

Dias repetidos por fora, sem nunca se repetirem por dentro




Os dias às vezes repetem-se por fora, sem nunca se repetir por dentro.
Hoje foi novamente um daqueles dias de
madrugada até ao infinito, com as mesmas personagens a povoá-los.
Mas diferentes histórias.
De manhã, na turma de currículo alternativo que visitei, o D. mal chegou disse-me: tenho uma coisa para a professora.
Foi buscar o caderno e trouxe-a. Eram os divisores de 48 que pedi a todos que fizessem (em jeitinho de TPC) há umas semanas, quando me despedi deles depois de mais um acompanhamento. Só ele se lembrou.
Grande, grande, grande, 14 anos de muita altura, mostrou-me o trabalho impecavelmente feito (faltava apenas o 1).
A aula decorreu entre divisores e jogos de luz e sombra que me seduziram, confesso, tanto como o empenho e envolvimento de todos na tarefa...
O L., ao fim de dois exercícios, recostou-se na cadeira, pousou o lápis e disse: o cérebro está parado e não me apetece fazer mais nada.
Respondi: percebo-te. Estás constipado e cansado, como eu. Mas temos os dois de fazer um esforço. Também me está a custar um bocadinho hoje, pois ando adoentada há já uns dias e sempre a trabalhar.Ele já havia percebido que era verdade. A tosse não se disfarça...A voz anasalada também não.
Regressou ao trabalho confidenciando que ficava sempre assim quando se constipava... e que até talvez fosse alergia... porque uma vez apareceram umas manchas nas mão... e tal... E assim o trabalho se fez e se acabou sem dor. Professora, veja lá se está bem (enquanto a verdadeira professora ia também apoiando de forma individualizada outros alunos).





Na turma seguinte... também havia prendas, pois deixei-lhes um desafio semelhante... Outras características... outro tipo de apresentação dos trabalhos em forma de cartões de Páscoa com coelhos e ovos. Ternura igual.

Chegar a casa. Comer a correr.(Correr a comer?)
Arrancar para a escola. Os meus meninos.
Uma tarefa rica (na sequência de outra que realizámos há tempos). A primeira pretendia que investigassem qual o espaço (rectangular) com maior área, mas um perímetro fixo de 20 m, que conseguiriam construir para o cão Farrusco (já que a cerca estava comprada e queríamos o maior conforto possível para o animal - usando apenas valores inteiros). A tarefa de hoje (Oh professora, parece um filme! Hoje é o Farrusco II!) pretendia que encontrassem a forma de poupar dinheiro na cerca para fechar um espaço (rectangular) para o Farrusco (que foi pai entretanto) com 36 metros quadrados de área. (Qual o menor perímetro? ...)

A tarefa foi desenvolvida em grupo com entusiasmo (no final partilha e discussão dos resultados e caminhos seguidos - este texto que preparámos para os formandos do PFCM ajuda a estruturar o processo) e reviram, iniciaram ou consolidaram algumas aprendizagens, ao mesmo tempo que ficaram lançadas as sementes, sem saberem, para avançar para divisores, múltiplos, critérios de divisibilidade... e o mais que vier. Oh professora... podemos desenhar o quadrado, não é? Porque um quadrado também é um rectângulo e nós aprendemos isso na outra tarefa? Oh professora, a tabuada não acaba no 10! Professora, eu pensei que em vez de usar a tabuada ou tentativas, podíamos usar a divisão! E assim... fiz 36 a dividir por 2, por 3... (o 1 também dá, diz outro aluno)... mas o 5 não dava porque sobrava 1 e não dava conta certa.
Conta certa? Provoco
Resto zero! Diz outro: tem de ser uma divisão exacta... é assim que se chama!
E podemos partir a unidade?
Não!... alguém responde... Tem de ser uma divisão inteira que foi aquilo que aprendemos ontem!


Enfim... Usar tarefas exigentes e cognitivamente estimulantes que levem a conexões de vários tipos, ao desenvolvimento do raciocínio e sua comunicação, é uma das formas de abordagem do currículo que deve ser privilegiada.
Dali... começar a pensar em aproveitar o trabalho feito para projectos Scratch relacionados com estes temas... foi um passinho...

E, logo de seguida, a tarde no Clube Scratch time, a paciência do FFred de novo. Num dia em que precisei mesmo de ajuda, porque o cansaço se acumula, a saúde não anda a 100%, o piloto automático está ligado, os deveres cumprem-se com um sorriso, claro, mas levando com eles toda a energia disponível em cada dia, nem sempre completamente reposta de noite.
Na imagem o meu X e o FFred com o seu projecto "Teia"...
(Bom ter um Avô para lhe prestar atenção e o ajudar... Fez toda a diferença. Ah! E o X hoje foi dos que mais se empenhou na tarefa do Farrusco... As coisas continuam muito serenas... No vídeo - blogue do Clube - entrada de hoje -poderão escutá-lo a falar sobre o seu projecto).

Agora vou mudar para a casa do lado e fazer a entrada de hoje no blogue do Clube...
(Fim-de-semana... estou a precisar tanto de ti!)

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