quinta-feira, junho 08, 2006

Porquê?

OK. Maria Teresa, respira fundo. Foi só mais um Conselho Pedagógico... e até nem durou muito muito muito.


Portanto:
acrescentar à lista... PCE, aulas, acabar de preparar festa da DT, preparar disquetes para as reuniões dos CTs, aulas, preparar reunião da minha DT, avaliação extraordinária, reuniões, planos de recuperação, PCE, lançar notas dos profs, faltas, relatórios dos apoios, PCE, relatórios das aulas de substituição, relatório de DT, PCE, relatório de coordenação de DT, organizar processos individuais dos alunos, matrículas, reunião com os pais, secção de avaliação - reformular fichas despacho 50, PCE, livros para ler, reunir para discutir ECD,...perdi-me... sei que há mais... onde está a lista em que escrevi o resto?
Síndrome do pensamento acelerado... felizmente não tomo café... onde estaria?

Ai tenho tantas dúvidas sobre as competências nesta profissão. Tantas... que nem sei por onde começar... Talvez colocando outras dúvidas mais simples que me ocorreram há tempo (num tempo com tempo para colocar dúvidas existenciais no reino da fantasia) . Acho que será mais fácil desvendar os mistérios que se seguem do que o mistério de celulose em que se transformou esta coisa do ser professor. Desculpem voltar ao mesmo. Mas só me ocorre: oh filhos que não tenho! Se vos tivesse já teriam sido encaminhados para a comissão de protecção de menores por falta de assistência da mãe...



Porquê?


Porque é a palavra grande
mais pequena que
pequena
e maior ou menor do tamanho
que tem a palavra igual?

E mais, mais pequena que
menos
dez
, inferior a oito
filho, maior que
pai
bolo
, menor que biscoito?

Porque é que a palavra enorme
tem tamanho pequenino
e pequenino é enorme
homem menor que menino
Sol, mais pequena que
Terra
mar
, menor que serra,
céu, tão pequenininha
que se deixa ultrapassar
por uma só libelinha?

Mas para um
amor
assim tão pequeno
encontrei uma razão:
se fosse maior
como poderia
morar nas palavras

sonho e coração?

quarta-feira, junho 07, 2006

Quem me quer?

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Já tenho dois meses e preciso urgentemente de uma casinha e de um nome. Estou um bocado cansado que a "madrinha" se refira a mim como gatinho preto e branco. Nem parece dela. Não revela criatividade nenhuma. Até podia chamar-me PEB, estão a ver, Preto E Branco... mas não.
Alguém por aí quer ficar comigo? Gostava tanto de ter todas as atenções só para mim...

Insisto. Não é que eu não goste da mamã (Ainda vou lá beber um leitinho de vez em quando)... Mas, enfim, ela é muito controladora e eu acho que estou a precisar de espaço... percebem? Estou a crescer, é o que me parece. Uma casinha... alguém se oferece?


Meninos, não estão já muito grandes para isso?

Passaram dois meses. A Cleo foi hoje para a nova casinha. Dos seis, já só ficam três. Dois deles estão prometidos a um senhor que me telefonou quando eles nasceram. Como não fiquei com o contacto dele... confesso alguma apreensão. Mas aguardo. Quanto ao PEB (pronto, já não te chamei Gatinho Preto e Branco)... se souberem de alguém que o queira adoptar, digam-me. Ele precisa mesmo de arranjar uma casinha. Temos de começar a pensar em tratar a Pantera para que não volte a ter filhos e os seus meninos já não devem estar aqui quando isso acontecer.

Missão (quase) cumprida.

Agradeço imenso que usem os vossos contactos para me ajudar a cumpri-la até ao fim...

terça-feira, junho 06, 2006

Sorriso

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Pronto.
Rendo-me a um sorriso antes do dia começar...

(Não, não sofro da doença bipolar...)
Há sempre boas razões para um sorriso. Uma delas está ao meu colo nesta foto. (Tive de colocar link, pois o blogger está com problemas e não me deixa colocar imagens)


Nem penso no milhão de tarefas ali à minha espera. Opto agora, neste arranque de dia, por colocar as coisas noutra perspectiva...

Nestes últimos tempos a dar aulas em salas com mais de 30º, ontem a obrigar os alunos a concentrar-se para uma última ficha de avaliação no meio de um calor insuportável, acabei por lhes dizer docemente e a sorrir: meus queridos. É bom sentir calor. Calor é muito bom. Só não sente calor quem está morto.
Risota.
Oh stora! Do que se foi lembrar!

Pronto. Há dias em que apenas estar vivo e de boa saúde é uma benção para a alma.

O resto há-de resolver-se. (Pergunto-me, que atrevida sou, se nos gabinetes dos que sabem sempre o que é melhor para nós fará tanto calor assim... ou talvez, como dizia este ano um engenheiro da DREL, a propósito do frio nas salas e de outros absurdos: conforto a mais é mau para a aprendizagem... Não fosse triste, até daria vontade de rir. Por outro lado... Será que é por isso tanto disparate que nos chega?)

Always Look on the Bright Side of Life... já o disse uma vez, hoje repito-o e convenço-me que sim.

A aranha está de volta!
(Mas não posso gritar muito alto, que qualquer dia, por conta daquele artigo do ECD que nos impediria de acumular tarefas remuneradas ou não... proibem-me de escrever nesta teia, ou em outro lado qualquer... E lá teria eu de me transformar numa aranha anónima e clandestina...).

segunda-feira, junho 05, 2006

Saudade

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Acordei com um vago sentimento de saudade...

De ser professora...

De um tempo com tempo para demorar os minutos...

De um tempo de absoluto prazer oferecendo o melhor aos alunos (gastando todo o tempo do mundo), sem a cabeça cheia de apreensões e revoltas por dentro...

Um tempo cheio de crianças em volta... (cada vez agora mais substituídas por papéis)


A minha irmã Lena (Educadora de Infância) deve ter pressentido...
Sabendo-me também a recuperar de pé (sempre de pé, sem tempo para faltar) de uma crise que mereceu a atenção de antibiótico, resolveu fazer-me uma surpresa...

Acabei de atender o telefone (ela trabalha lá para as bandas do Oeste) e de ouvir os 25 meninos de que cuida a cantar para mim duas canções que compus há tempo (no tempo em que tinha tempo para oferecer mais magias, do que só as esperadas, aos meus meninos). Os "Números" e o "Sol".

Comovi-me, claro. Mas o que é que querem? É a saudade do futuro que receio não voltar a ver.

Preciso de criar para me manter do lado iluminado da vida e assim reflectir e derramar o sol para cima de quem esteja disposto a não se resguardar na sombra da tristeza. A luta para o conseguir por entre a aridez da burocracia escolar e a sensação de que não querem que eu exista, começa a mexer comigo e a tolher-me os movimentos. Eu tento boiar. Eu quero boiar.
Parece que me empurram para baixo de água.

Passarei a escrever, a criar, quando conseguir, na clandestinidade das sobras cansadas dos dias.


O que me traz de novo à saudade.
Apagada pelas vozes de 25 meninos pequeninos do outro lado da linha cantando, pedindo.

Anda cá! Anda cá através do telefone!
Eu vou, eu hei-de ir para o ano, Lena, prometo, meninos, prometo. Mesmo que não me deixem eu vou ter com vocês e hei-de cantar-vos tudo o que souber, sentada no chão do vosso lado. Este ano já não posso. (Mas consegui visitar outros meninos num tempo de vida que seria meu e foi só deles com prazer. Porque a Escola para mim é sem fronteiras como o céu de José Gomes Ferreira. Não há várias escolas. Há uma apenas, num abraço gigantesco que não nos querem deixar dar.)

Procurarei reinventar um tempo novo, perdido por entre o tempo marcado nos relógios, para mais um poema, mais uma canção, mais um gesto de amor. Na esperança de que, tal como disse alguém segredando docemente no meu ouvido, se cumpra a magia do poeta:
quanto mais te dou mais tenho para te dar

domingo, junho 04, 2006

O Romance

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Os mais improváveis, os mais impossíveis, têm um sabor especial.
No dizer de
Rubem, o acto de ensinar também se cumpre melhor neste universo de amor e de desafio.

Tinha saudades de ouvir
Shel Silverstein.
Este Domingo quente pede o sorriso que ele esconde sempre atrás de cada palavra.
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http://www.shelsilverstein.com/pdf/classroom.pdf

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Said the pelican to the elephant,

I think we should marry, I do.

Cause there's no name that rhymes with me,

And no one else rhymes with you.

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Said the elephant to the pelican,

There's sense to what you've said,

For rhyming's as good a reason as any

For any two to wed.

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And so the elephant wed the pelican,

And they dined upon lemons and limes,

And now they have a baby pelicant,

And everybody rhymes.

sábado, junho 03, 2006

nemoptera bipennis


Com a ajuda da Tagis, conseguimos identificar o insecto observado pelo Cara-Metade em Almograve (uma colónia numerosa) de que mostrei foto (ver acima) há dias
nesta entrada .
Neuroptera: nemoptera bipennis
A internet fez o resto...
Estamos sempre a aprender!


http://www.hlasek.com/nemoptera_bipennis_6964.html

sexta-feira, junho 02, 2006

Um pássaro que regressou...

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Descobri, através do Público, que um dos meus livros preferidos voltou ao nosso convívio...
Um voo de regresso que me deu um prazer imenso. (Nunca consegui arranjar para mim o original.)

Já tenho o meu, e já tenho para oferecer...
Porque as palavras de Pina fizeram-se para voar. Tal qual o pássaro da cabeça (Ed. Quasi).

Um dos livros que trago no coração. Na "minha caixa dos brinquedos"...


Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta
canta onde lhe apeteça.

Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
(mesmo as que julgas que não).

Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada.

E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão

e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.


(M A Pina, 1983)

quinta-feira, junho 01, 2006

Universal, Mundial, Internacional... mas pouco.

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Pena que os dias mundiais, universais, internacionais... andem por aí e por ali perdidos... sempre mais perdidos do que encontrados.
Pouco. Muito pouco. Bem mais dão muitos professores deste País...

1Junho - Dia Mundial da Criança
4 Junho - Dia Internacional das Crianças Inocentes(?) Vítimas de Agressão

20 Novembro - Dia Universal da Criança




Abri o baú das lembranças:

Einstein: Um exemplo no Ano Internacional da Criança
Chamusca Ilustrada, nº 13, Maio.1979

Eduardo Martinho


(...)

"Tudo quanto o espírito inventivo do homem criou nos últimos cem anos poderia assegurar-nos uma vida despreocupada e feliz se o progresso em matéria de organização tivesse caminhado a par do progresso técnico. Mas, assim, tudo quanto se conseguiu à custa de muito esforço, lembra, nas mãos da nossa geração, uma lâmina de barbear nas mãos de uma criança de três anos. A aquisição de maravilhosos meios de produção não nos trouxe a liberdade, mas sim a preocupação e a fome. Mas o efeito do progresso técnico torna-se mais nocivo quando fornece meios para a destruição de vidas humanas ou de produtos do seu trabalho penoso. Nós, os mais velhos, vimos isso com horror durante a guerra mundial. Mas pior ainda que a destruição parece-me ser a escravidão indigna para a qual a guerra arrasta os indivíduos. Não será horrível uma pessoa ver-se obrigada pela colectividade a praticar acções que cada um, arbitrariamente, considera como crimes medonhos? Só poucos tiveram a grandeza moral suficiente para se oporem a isto: são esses, a meu ver, os verdadeiros heróis.
Estas são passagens de uma colectânea de textos produzidos por Einstein em diversas circunstân­cias ao longo da sua vida, intitulada “Como Vejo o Mundo” (Empresa Nacional de Publicidade, 1962). (...)

Educação para a independência do pensamento
Não basta preparar o homem para o domínio de uma especialidade qualquer. Passará a ser então uma espécie de máquina utilizável, mas não uma personalidade perfeita. O que importa é que venha a ter um sentido atento para o que for digno de esforço, e que for belo e moralmente bom. De contrário, virá a parecer-se mais com um cão amestrado do que com um ser harmoniosamente desenvolvido, pois só tem os conhecimentos da sua especialização. Deve aprender a compreender as motivações dos ho­mens, as suas ilusões e as suas paixões, para tomar uma atitude perante cada um dos seus semelhan­tes e perante a comunidade.
Estes valores são transmitidos à jovem geração pelo contacto pessoal com os professores, e não – ou pelo menos não primordialmente – pelos livros de ensino. São os professores, antes de mais nada, que desenvolvem e conservam a cultura. São ainda esses valores que tenho em mente quando reco­mendo, como algo de importante, as humanidades e não o mero tecnicismo árido, no campo histó­rico e filosófico.
A importância dada ao sistema de competição e à especialização precoce, sob pretexto da utilidade imediata, é o que mata o espírito de que depende toda a actividade cultural e até mesmo o próprio florescimento das ciências de especialização.
Faz também parte da essência de uma boa educação desenvolver nos jovens o pensamento crítico independente, desenvolvimento esse que é prejudicado, em grande parte, pela sobrecarga de discipli­nas em que o indivíduo, segundo o sistema adoptado, tem de obter nota de passagem. A sobrecarga conduz necessariamente à superficialidade e à falta de verdadeira cultura. O ensino deve ser de modo a fazer sentir aos alunos que aquilo que se lhes ensina é uma dádiva preciosa e não uma amarga obri­gação.


Uma alocução às crianças
Queridos meninos!
Regozijo-me por vos ver hoje diante de mim(....).

Lembrai-vos de que as coisas maravilhosa que ides aprendendo nas vossas escolas são a obra de muitas gerações, levada a cabo por todos os países do Mundo, à custa de muito entusiasmo, muito esforço e muita dor. Tudo é depositado nas vossas mãos, como uma herança, para que a aceiteis, hon­reis, desenvolveis e a transmitais fielmente um dia aos vossos filhos.
Se tiverdes esta ideia sempre em mente, encontrareis algum sentido na vida e no trabalho, e pode­reis formar uma opinião justa em relação aos outros povos e aos outros tempos.

As preocupações morais e humanas, e algumas desilusões, que o acompanharam até ao final da sua vida, temperou-as Einstein com a esperança que depositava nas novas gerações: nas crianças reside a esperança do Mundo.Completaria 100 anos em 14 de Março de 1979, o Homem cuja memória recordamos (se recordou) no Ano Interna­cional da Criança. "