sábado, setembro 20, 2008

A teia... (às moscas?)

... pois é.
Não estranhem as muitas ausências que se podem seguir a esta entrada. Não estou doente nem parada. Apenas admiti finalmente que, ou me convenço de que só tenho duas mãos, ou o excesso de preocupação pelo que anda irremediavelmente atrasado não terá boas consequências na sanidade mental e energia que ainda me vão caracterizando.

Uma turma muito complicada, blogue novo - desejo deles (a criar brevemente em AP) para unir a diversidade e procurar resolver problemas graves que se vão detectando aos poucos e fazem dela uma forte candidata a insucesso demasiado extenso - mais de 50% com muitas dificuldades de vários tipos e em várias áreas que não permitirão enfrentar o sexto ano se não forem vencidas (sim, que cosmética não faço - exigo, dou de mim, apoio, envolvo, motivo, mimo, acarinho, acompanho... mas...).

Alguns meninos a progredir na sua escrita por conta dos blogues individuais que foram agora reactivados e também exigem atenção, mimo e acompanhamento para consolidar os progressos (tal como aconteceu com o meu Kiko das borboletas... se descobrimos algo que capta o seu interesse... esse tem de ser o ponto de partida para os ajudar a crescer em muitos aspectos). É um trabalho silencioso e invisível mas que consome muito tempo e não estará à vista em nenhum portefolio para avaliação. Comento projectos, comento entradas em blogues, dou sugestões, corrijo erros, respondo a mensagens, o meu kiko (agora no 7º) apanha-me no Gmail e deixa-me no Chat as novidades sobre as lagartinhas... e eu escuto... deixo beijinho. Tenho saudades da minha Turbêturma...

O Clube Scratch time, em duas das sessões fundido com apoios de Matemática, onde já estive hoje ( http://scratchtime.blogs.sapo.pt/ ) a fazer a síntese da sessão de ontem - mais um espaço para manter activo, pois vai envolver muitos meninos (a minha turma mais "especial" deste ano vai ter um canto só seu às terças e tenho muitos candidatos ao Clube... preciso de começar por algum lado o processo de cativar, o processo de reabilitação da confiança pessoal e da motivação para aprender). Muitas contas novas para comentar, talvez mais uns blogues individuais. O tal plano tecnológico que a mim sai-me do corpo, da alma e do coração a todas as horas, mas que, para quem o escreveu, deve ser assim uma coisa mágica para a qual chega e sobra a míngua, esmola, migalha de tempo que nos é concedida na componente não lectiva. Não consigo não ficar muito muito mas mesmo muito zangada ao pensar nisto. E eu não costumava sentir-me zangada. Nem triste.

E depois o resto do trabalho do professor. O normal, claro, e o anormal que lhe tem sido acrescentado durante estes últimos anos de má memória... avizinha-se a confusão dos objectivos, das grelhas, dos portefolios, das reuniões (que há todas as semanas... mais uma na próxima). Ontem às cinco da manhã, antes das aulas que iriam durar o dia todo, andei de volta do digifolio mais um bocadinho... são coisas que levam tanto tempo! Como fazer? Quando? Nem sonhem que vou andar a caminhar com dossiers para a escola ou a fazer fotocópias de tudo o que tenho para o equivalente a quatro disciplinas! (Nem falo das áreas.)

A tese ensarilhada, parada. E era um dever, um direito meu. Tudo desrespeitado, menorizado por uma tutela pouco preocupada com a essência do saber (mas aflita com as aparências), embora eu tenha optado por algo tão próximo da acção e dos meninos e da escola. Mas não roubo aos meninos para a tese. Tento roubar a mim. Esta semana nem a mim pude roubar. Só deixando de dormir. Ou faço bem feito, ou não faço. (E deveria ter de fazer formação extra - riam-se! - porque não há equivalência em créditos para cadeiras como seminários de apoio... mesmo tendo eu sido colocada directamente no segundo ano e dispensada de fazer dez disciplinas). Começo a fazer de cabeça o balanço aos pontos negativos que se vão acumular nas minhas grelhas :). Dá-me uma certa vontade de rir e aguardo o resultado para poder contar como se "somaram" os meus defeitos, recusas e rebeldias em defesa do sagrado... Em vez de me preocupar com isso, vou mas é entregar-me ao desafio de tentar por todos os meios salvar a turminha que me traz tão preocupada. O carinho e o tempo gastos com os meninos, em detrimento de parvoíces sem nexo, não dá muitos pontos? Paciência!

(Estarei por outros lados... E estou sempre aqui, da maneira possível... mesmo na ausência. E não fujo... só que não consigo tratar este meu ninho como se fosse mais uma coisa que tem de ser... Quando conseguir e o meu coração pedir, enxotarei as moscas e deixarei de mim o que puder.)

Melhores tempos virão. Preciso de acreditar.

Despite the formidable difficulties, I remain optimistic, perhaps because there is to me a contradiction in being simultaneously pessimistic and an educator.

(A Place called School – John Goodlad, 2004 [1984], p. 361)


6 comentários:

EMD disse...

Só não te entende quem não é verdadeiramente professor.
9 horas de trabalho individual é a migalha com que eles julgam que se preparam aulas e materiais, se corrigem trabalhos, se desenham estratégias, fazem registos...
Mais do que isso já eu fiz hoje, desde as 8 e ainda não acabei, com paragem de um par de horas para almoçajanta e esticar as costas, que refilavam alto.
Pela certa que tu também...
E o prémio? O reconhecimento?
Essa da formação é surreal.
Por isso, divide bem o teu tempo entre os meninos e tu própria, que a teia não se zanga.
Bem entendo como este "ninho" é um espaço de confidências, de liberdade e de tantas outras coisas bonitas que partilhas connosco.
Nós ajudamos a espantar as moscas...
:-(

Fátima Campilho disse...

Você não poderia ficar de fora do Prêmio Dardos!
Passe no meu blog para conferir.
Abraços,
Fátima Campilho.

IC disse...

Se não percebi mal, tens uma nova turma daquelas que são logo um desafio - daqueles desafios que dizemos: tem que ser ganho, tem mesmo.
3za, o teu programa de trabalho é: alunos + tese. Manda o resto para as urtigas, que eu não acredito que alguém se atreva a tirar-te pontos por isso.
Beijinhos e Força!

Teresa Martinho Marques disse...

emd... tal e qual... o dia inteiro (manhã inteira escola... testes... aulas... materiais... clube...)... resto do dia a tentar recuperar algumas leituras e a corrigir a intro da tese (quando se pára uma semana... é como regressar atrás um mês...). Obrigada Fátima! Bom sentir o teu carinho do outro lado do Mar... e IC, tenho mesmo de fazer esse esforço... Às tantas a minha cabeça rodopia... e nem sei para onde me virar... só que tenho mesmo de definir prioridades... alunos e tese parece-me bem. Ainda não são seis... regar e começar o dia... That's life!
Beijinhos

Anónimo disse...

Porque estás Zangada e Triste com a Escola, envio uma piada (para rir de outras coisas), que li num site muito giro De Rerum Natura - http://dererummundi.blogspot.com

piada filosófica:
Um filho diz ao pai: "Hoje vou sair com a miúda mais bonita da turma, mas eu fico sempre sem assunto! Como é que faço para não parecer um parvalhão?"

"Fácil", diz o pai. "Há sempre três assuntos que não falham: a família, a comida e a filosofia."
O miúdo vai todo satisfeito e depois do cinema surge um daqueles momentos de embaraçoso silêncio. Então ele lembra-se do conselho do pai e pergunta à miúda com um sorriso bonito: "Tens irmãos?"
"Não".
Raios, pensa ele. Lá se vai a primeira hipótese. Qual era o segundo assunto? Ah!
"Gostas de pizza?"
"Não".
Chiça, isto está a correr mal, pensa o miúdo. Bom, só resta falar de filosofia:
"Se tivesses irmãos, achas que eles gostariam de pizza?"

Teresa Martinho Marques disse...

:)