Dizia eu há tempos, numa entrada da teia, que estabelecera contacto, no Facebook, com o Tó Freire e o Pedro Solaris dos Diva... mas não contei que o Pedro me agradecera a autoria de um poema (Raiva e Saudade) que foi a letra de uma das primeiras duas canções editadas pela banda já com o nome DIVA... no single de estreia.
A história vem contada aqui... e realmente aparece o meu nome (apenas com o apelido Martinho). O título do poema dizia-me muito... e só podia ser de uma época anterior aos 22 anos... ou então alguma confusão de identidades e outra Teresa Martinho escrevia poesia por essas alturas. Mas como havia o poema ido parar às mãos deles? Lembro-me de, adolescente, escrever em folhas soltas e partilhar poesia com amigos (poemas de que hoje não tenho registo), mas não conseguia precisar a época. Também se fala de um erro na designação das canções...e separação das palavras Raiva e Saudade nos dois lados do vinil e na capa... (atribuindo-se a minha autoria da letra em ambas, quando a faixa A era apenas dos Diva - letra de Pedro Solaris - e o nome da canção era "Chuva" - podem escutar uma conversão digital, com saltinhos nos "riscos do vinil", num espaço criado por um fã dos Diva)...
Há alguns dias, depois de trocar algumas palavras com o Pedro S. no Facebook, percebi finalmente. Ele pertencia ao meu núcleo de colegas/amigos lá pelos meus dezassete/dezoito anos (na altura em que fiz o antigo 12º ano - propedêutico/entrada na Faculdade) e embora não se lembre de que forma o poema lhe foi parar às mãos, sabe de certeza que é meu... Só algum tempo depois de me adicionar no Facebook descobriu quem eu era (por conta de uma fotografia que lhe permitiu situar-me como ex-colega)... e só depois de fazer essa descoberta referiu o poema perdido no tempo, que foi mote para uma das suas primeiras composições para os Diva. Não soube dele por 30 anos (o nome Pedro Solaris é nome de guerra na música... do outro nome recordei-me eu quando conjecturava sobre o caminho do poema e lhe perguntei se se lembrava de alguém com o nome tal tal de um amigo que tocava guitarra e fazia música, que eu tinha uma vaga ideia de ter estado ligado ao início dos DIVA. O Pedro respondeu-me: eu sou essa pessoa!)...
Puxado o fio... começámos na família em busca do single perdido que agora eu me lembro de ter tido na mão. Uma das minhas irmãs recordava-se perfeitamente da história. E acabámos por encontrá-lo perdido entre os vinis antigos que nunca se foram embora, distribuídos entre Lisboa e Sta Cruz. Estava em Sta Cruz e finalmente recuperei a letra/poema de que não me lembrava. Estamos a tentar encontrar alguém que converta o som para digital (não está a ser fácil) para me poder recordar da música por inteiro... Claro que esta estória vem acompanhada com uma imagens do single a atestar da veracidade desta história meio mágica feita de coincidências estranhas, só permitidas pelo universo digital das redes sociais. (Obrigada, mana Lena, por esse processo arqueológico de escavar e recuperar o passado trazendo-o até ao futuro dele, que é este nosso presente!) .
E, sim, no final da minha adolescência, entre os 17 e os 18 (há 30 anos!), a minha poesia era diferente...
Ah! "A gente"... não era com significado "nós"... era mesmo a " a gente" as in "as pessoas anónimas"... no fundo "a gente" era "eu" (quem sabe talvez fosse afinal o "nós")... provavelmente a chorar (metaforicamente) de raiva e saudade... amor (adolescente) interrompido ?... Ou talvez só palavras costuradas ao jeito que me apetecia na altura... já que a minha rebeldia no dia a dia era nenhuma, mas gostava de a esgrimir na escrita... (libertação?)
RAIVA E SAUDADE
Que cara é que o sonho tem diz-me
O sonho não tem cara nenhuma
O sonho nunca teve cara nenhuma
O sonho só tem fogo para subir sangue
Onde dizem existir ódio
(refrão)
A gente também fica velha
Mas não é na cara
É na raiva é na saudade
Que cara é que a gente tem diz-me
A gente não tem cara nenhuma
A gente nunca teve cara nenhuma
A gente só tem fogo para subir sangue
onde dizem existir ódio
(refrão)
A gente também fica velha
Mas não é na cara
É na raiva é na saudade
1985
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(...) ao mesmo tempo que três dos seus componentes, Diamante, Vitorino e Marques (agora nos teclados), decidem fundar um novo projecto, para o qual recrutaram, também, Natália (Tuxa) Casanova (voz) e Pedro Solaris (guitarra), amigos comuns que costumavam frequentar os ensaios dos Odisseia Latina com regularidade. Optando pela designação de Diva e os Gangsters (do filme homónimo de Beneix), gravam uma demo, tendo como objectivo imediato a participação no Segundo Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous, acabando, contudo, por não concorrer. Em vez disso, decidem-se por mostrar a maquete à Metro-Som, que se presta a gravar-lhes um single, propondo, ao mesmo tempo, que o grupo se fique, apenas, pela designação de Diva. Sob a batuta de Manuel Cardoso (Frodo/Tantra), que também contribuirá com uma segunda guitarra, vão, então, gravar o seu disco de estreia, composto pelos temas “Chuva” e “Raiva e Saudade”. Possuidor de uma sonoridade pós-punk de tonalidades “dark” (por vezes lembrando uns Breathless), o registo vai ter a colaboração de Teresa Martinho (letra de “Raiva e Saudade”) e do já citado João Calado (vocalizações em “Saudade e Raiva”). Entretanto, dão o seu primeiro concerto ao vivo. Povoada de dificuldades e peripécias, entre as quais a errónea indicação dos temas (aparecendo como “Raiva” e “Saudade”) e a deficiente prensagem de um terço dos exemplares (foram feitas 1500 cópias), o disco acaba por passar desapercebido do grande público, devido à má promoção. Mesmo assim, consegue apresentá-los como proposta de qualidade e um valor sólido a seguir com atenção. (ler tudo AQUI)
3 comentários:
Mais uma vez se conclui que a vida é (muito) feita de acasos...
Bjinho, P
E o digital permite juntar as peças dos mistérios... :)
Pois é.
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