Lancei alguns desafios logo que este período começou, confesso. É a minha aceleração habitual e não os poupo. Pretendo que sejam desenvolvidos nas aulas trabalhos vários (com apoio em casa - distribuição de tarefas da sua responsabilidade), individualmente e em grupo, sobre temas das últimas unidades do 6º ano de Ciências.
Podem escolher qualquer suporte... Sei que terei como resposta "papel", powerpoint, movie maker, scratch, esculturas, jogos, dramatizações...
Quero que aprendam a escolher e a dominar o suporte adequado para as intenções de um determinado trabalho. Em Ciências, como em todas as áreas, aprender a comunicar é fundamental. Não se escaparão, é claro, de apresentações à turma. O trabalho será desenvolvido de forma integrada em Ciências, AP e FC, já que os temas (micróbios e doenças, higiene e problemas sociais e, ainda, poluição) se prestam ao desenvolvimento de competências várias. O blogue das turmas assegurará a partilha na Internet...
Ontem começou a dança... (não que eu esperasse trabalhos já... e muito menos feitos em casa, já que a intenção é desenvolver o trabalho nas aulas, mas gostaram dos temas e parece que estão com vontade de avançar...)
Uma aluna enviou mensagem a perguntar se eu não havia recebido algo.
E eu: o quê? (não me havia chegado nada)
Mais tarde lá chegou... Um filme/trabalho bem engraçado sobre tabagismo e toxicodependência. Feito por ela e uma colega da turma que lá foi a casa. Percebem-se os risos... a combinação do filme com os textos informativos está engraçada e não falta sequer o genérico final com os nomes das autoras. Movie maker... pois. Apenas alguns erros ortográficos (teremos de corrigir) e um texto muito simples e algo superficial que talvez valha a pena aprofundar e melhorar.
Respondi logo. Porque sei que estão do outro lado à espera. Que é importante saberem que recebi, que vi, que apreciei o esforço.
Por volta da hora do almoço recebi outro e-mail:
Olá, s'tora. Bem aquele trabalho deu cá uma trabalheira, para aquilo ficar como deve ser, tivemos que gravar montes de vezes e às vezes não aguentávamos e ríamos por tudo e por nada, custou-nos muito, mas depois lá conseguimos. Beijos grandes da A.
Hoje a I. está imparável... Começou na última aula de AP (quinta) um trabalho sobre a poluição... Perto das 15h (hoje) recebi o trabalho completo (em Scratch). Alguns erritos que corrigi. Reenviei. Comentei. Foi coisa que lhe deu muito muito trabalho a fazer... excelente apresentação!
Perto das 17 já tinha outra mensagem:
Olá novamente stora, Desta vez é para mandar o projecto dos micróbios que comecei e acabei hoje. Não está nada de especial, mas espero que goste. Beijinhos :)
E vi logo e corrigi logo e respondi logo... valorizando e mimando, depois de apreciar a delícia de projecto Scratch que me havia enviado...
Penso na escola dos meus sonhos.
Há certos breves momentos que são já eles o próprio sonho. Não, não é ter crianças a trabalhar com entusiasmo ao Domingo :) ... É ter alunos que optam por usar os computadores de forma "construtiva" no seu tempo livre, porque uma sugestão de tarefa e o ambiente de aprendizagem que tenho tentado criar parece ser suficientemente estimulante para que tal aconteça. E, note-se, todas estas alunas não foram minhas no 5º ano nem integram a turma dos pioneiros. Só este ano partilham esta aventura de aprendizagem comigo. São uma turma complexa, onde precisei de resolver muitos problemas (ainda não todos, mas estamos bem encaminhados) até chegar aqui: um ambiente doce, produtivo, motivado, que os faz estar quase todos (facultativamente) no Clube comigo (23 em 26), leva cerca de metade dos alunos (facultativamente) ao Apoio de Matemática...
E embora menos tempo na minha companhia, não ficarão menos guardados no meu coração do que a turma dos pioneiros Scratch. Aqui as dificuldades a vencer eram/são bem maiores e, mesmo assim, conseguimos finalmente criar laços fortes, um espírito unido de equipa, uma atenção concentrada, um empenho a crescer todos os dias, um desejo de vencer as imensas dificuldades...
Porque a Escola não pode ser (e muito menos para as crianças "carentes"desta geração), como alguns querem e tudo têm feito para que se concretize, apenas uma coisa arrumada por horas, estéril e fria, condicionada pelo nenhum tempo que lhe sobrou depois de se ter achado que poupar tostões era a prioridade máxima. E se tem sido possível, por enquanto, fazer algo mais, é porque continuo a prescindir de MUITO do tempo a que tenho direito para mim e a dedicar às crianças muito mais do que as horas que me sobram realmente dos deveres (quantos burocráticos e sem sentido). As recompensas são estes momentos em que os sinto, do outro lado, em sintonia com esse meu sonho possível de Escola, que alguns querem destruir a qualquer preço.
Só me ocorre que, a tornar-se real uma proposta que parece existir por aí (e que levará à diferença de cerca de 800 euros entre o Professor só Professor e o escalão máximo de titular), em nada me arrependo da decisão de ter deixado a minha vaga para alguém, por acaso, com menos pontos e menos graduação (na minha escola, assim, todos "tiveram sorte e vaga"... ao contrário de outras escolas...). É que o dinheiro, sendo importante, não é tudo. Há também os princípios. A coerência. Como aceitar as regras de um jogo de divisão aleatório que considero profundamente injusto e prejudicial para a vida da Escola e para a Educação? Embora existam riscos futuros, sei, tenho poupado imensas horas em reuniões... em aborrecimentos... em mais burocracias... que transformo, com um imenso prazer, em dádivas aos meus meninos. Não decidi ser professora para me transformar em avaliadora de colegas, em pessoa com cargos só porque tenho um título que afiança que sou competente (sendo-o ou não), em alguém que pouco tempo tem/terá para se dedicar à tarefa essencial da escola e para, assim, evoluir nela a ponto de poder transformar-se num bom "acompanhador e motivador" de pares... não um "rotulador"...
Lembro-me bem de todas as razões que, aos 20 anos, me levaram a optar pelo educacional na Faculdade de Ciências da UL e a recusar o convite para ficar por lá a ensinar os mais crescidos...
O meu negócio é outro. Quando me devolverem o tempo que me foi furtado e se destinava a tudo isto, poderei fazer bem mais pelos meus pares e pela escola, ao partilhar com eles as alegrias destas aventuras de aprendizagem, seduzindo quem se queira deixar seduzir. Essa parte da minha presença na escola está a reduzir-se cada vez mais, porque não posso tirar às crianças o pouco tempo disponível para o dar a mais ninguém... E acho que é pena... Boa "avaliadora" eu cá não daria... Mas sei que seria capaz de converter uns quantos para caminhos que nos levassem em direcção à escola dos sonhos da maioria de nós...
ADENDA:
Finalmente, neste vai-vem entre mim e a I. durante a tarde, estão já publicados os projectos...
4 comentários:
Teresa, posso utilizar este trabalho "SOS Poluição" como motivação para o debate que estou a pensar realizar com a minha turma na próxima 4ª feira 22 de Abril- Dia da Terra?
Bjs
Zami
Claro! A I. Vai ficar feliz quando souber... :) Beijinhos
Os euros fazem falta , mas partilho contigo (melhor dizendo, partilhei na minha vida)"O meu negócio é outro e dele os euros não fazem parte".
Só isso de "ter alunos que optam por usar os computadores de forma "construtiva" no seu tempo livre" já é tão importante neste tempo em que os miúdos passam o tempo livre com joguinhos no computador!
Beijinhos
Claro que os euros fazem falta :) Para as horas que trabalho sinto que sou "mal paga"... Mas admito que em tempo de contenção até se espalhe o mal pelas aldeias (embora não admita que depois "certos gestores" e certas profissões não espalhem o seu...)
Mas os euros fazem falta a todos... não apenas a alguns :)Isto de dividir a classe docente pelo euro, com diferenças tão abismais, valorizando o exercício de coisas como gestão, avaliação, etc em detrimento do da docência propriamente dita... parece-me estranho... MAs... não surpreendente, tendo em conta das cabeças de onde vem...
Beijinhos
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