Todos os que me conhecem sabem como gosto das tecnologias. Melhor ainda, como gosto de as entranhar na vida e na educação, tirando o melhor partido desse abraço, desde o primeiro minuto como professora (comecei nos anos 80 com a linguagem LOGO num tempo de Timex e ZX Spectrum e impressoras de rolinho... alguém se lembra?)
Agora estou no Séc XXI e confesso que sonhei muito com estes dias. E acreditei que já estaria exactamente como sonhara, mesmo sem saber bem o que sonhar quando imaginava o que e como seria este tempo (futuro do meu passado distante), se ainda fosse viva e estivesse com alunos à minha volta. E quero nas mãos tudo o que puder ter, porque ideias não me faltam... mas é cada vez mais complicado e desgastante tentar pô-las em prática.
No ano passado disseram-me que este ano é que seria. Que o PT estaria já completamente instalado e que não tinham autorização para melhorar nada pois ia ser feito um grande investimento. Acreditei. Este ano disseram-me: o PT está já ali no portão tudo pronto para o ano que vem e não se pode melhorar nada porque... E eu, que sou rapariga razoavelmente paciente e crédula, ainda não me desencantei de todo (embora este ano já tenha passado por momentos de muito desalento e vontade de desistir ao ver o desapontamento dos alunos à minha frente, demasiadas vezes). Veremos, como dizia aquele que não podia ver...
Mas a verdade do meu PT até agora tem sido outra. Dói-me olhar para uma Biblioteca sem meios, com computadores que funcionam pior que mal, sem um scanner, sem impressora, quase sem Internet... meia dúzia de pedaços de coisas obsoletas para centenas de alunos. Dói-me ter passado meses a pagar do meu bolso a Internet para poder publicar os projectos Scratch dos alunos na plataforma do MIT... e depois acabar por pagar um linksys para ter uma rede que não passasse pelo proxy, porque não se encontrou solução para o problema que "obriga" as salas TIC a ter um protocolo tal que, por azar, colide com os meus projectos tecnológicos e com a ferramenta Scratch do MIT (que... surge como recomendação no final do novo programa de Matemática para o ano que vem, alguém reparou?). Dói-me ter deixado de poder usar os 14 computadores melhores da sala TIC, porque a rede passa pelo proxy e de nada me servem... e porque são a única sala para abrigar imensos alunos TIC... e até as actividades do CNO que acontecem durante o dia colidindo com os já poucos recursos da escola (!! pois...) ficando os meus meninos do 2º ciclo - aulas e clube - apenas com os restos que são os portáteis (13, às vezes, mas sempre muitos a falhar por isto ou por aquilo) frequentemente menos de 13 distribuídos por 26 alunos. E são restos com acesso muito condicionado... porque, felizmente, há mais candidatos à sala do que tempo e equipamento (há vontade e não há condições para a pôr em prática). Dói-me que os alunos queiram trabalhar individualmente e não possam. Que, por exemplo, numa das turmas que solicitou e-escolas, apenas 3 os tenham recebido (salientar que no 2º ciclo, sobretudo crianças que viajam muito de autocarro e passam horas na escola de sala em sala, serão uma esmagadora minoria os que se atreverão a trazer os e-escolas para a escola... muitos pais não vão permitir, é claro... e lógico...). Dói-me esta organização do tempo escolar que não teve em conta a necessidade de tempo para o professor preparar, acompanhar (fora das aulas) os projectos tecnológicos e interpelações dos alunos (mais, messenger, blogues)... Nas minhas turmas sabem que apenas um professor está a conseguir fazê-lo (dar-lhes feedback... até mesmo durante o fim-de-semana), porque prescinde do descanso, porque decidiu não progredir na carreira para não perder o pouco tempo que ainda tem e poder continuar a dedicar-se a projectos que não quer deixar morrer, e porque, por acaso, até nem tem uma família numerosa com filhotinhos à mistura... Mas não vai ser assim que se constrói um futuro tecnológico para este nosso Portugal, ou vai?
Em síntese... Não sou nenhuma "velha do Restelo"... Como poderia? Acredito que as tecnologias "em boas mãos" podem fazer a diferença. Sou educadora, tenho de ser optimista. Sei que podia estar a fazer muito mais e muito melhor com as condições adequadas e que, se alguma coisa não mudar depressa para garantir a adequada mediação junto dos mais novos, teremos tecnologia, sim, o que é muito bom, mas não seremos capazes de a usar para melhorar a nossa vida... para nos ajudar, para nos tornar melhores. Se assim não for, ela servirá para quê?
Não baixo os braços e avanço como posso. Teimosa, sim. Persistente. Mas hoje, a esta súbita visão associada ao entusiasmo das palavras (compreendo esse entusiasmo, eu também estaria assim se tivesse um computador por aluno sempre que precisasse) reagi como uma defeituosa mortal... longe do seu habitual equilíbrio e busca eterna de perfeição:
senti uma inveja imensa... cobicei cada aparelhinho à disposição dos conferencistas (ai o que eu já tinha cobiçado e cobiço a nova Assembleia!...) e só me imaginava a saborear um futuro assim para os meus meninos, numa antecipada e desenfreada gula que, com tempo (vão ter de mo devolver), me levará aos projectos mais loucos que andam aqui dentro da minha cabeça e que misturam a vida e as tecnologias em partes iguais para podermos permanecer humanos, apesar de tudo...
É que a minha cabeça não pára... quem pára os gestos que querem nascer dela são os vazios e os muros que as mãos encontram...
http://twitpic.com/3rg5z - O Fórum Mundial #WTPF decorre nesta sala com o apoio de mais de 900 computadores Magalhães (corrigido) about 1 hour ago
ptecnologico
(encontro a decorrer em Lisboa)
ADENDA:
Acabei de chegar de uma reunião na escola... a certa altura falámos da ideia de comprar mais um projectorzito de vídeo com um dinheirinho assim e tal. A resposta hoje foi: o PT informa que vão equipar todas as salas, portanto não faz sentido comprar mais nada agora.
OK. É só uma questão de esperar.
Para os meus meninos que estiveram estes dois anos comigo à espera, o tempo acabou. Vão para o 7º ano e não consegui oferecer-lhes nem metade do que sonhei. Sim, eu sei que sou um bocadito acelerada... que quero tudo logo, que quero sempre mais. Que há a logística, que o dinheiro não cresce nas árvores e que vai ser bom quando chegar. Mas pronto... Custa-me ver tantos computadores em cimeiras (alguns até oferecidos a chefes de estado), conferências e afins... e quase nenhum junto dos meus miúdos... Já merecia a prendinha de uns 28 Magalhães lá para a minha escolinha, com tanto projecto bonito que temos em mãos... mas pronto...
(É tão feio ser invejosa, eu sei... Pecados meus...)
2 comentários:
Inveja, Teresa? Com o que tu e os meninos fazem, seria JUSTIÇA!
Eu e muitos não chegamos aos teus calcanhares e sentimos a mesma "inveja". E revolta também. Mas esta só tu sabes adoçá-la.
Beijinhos
Todos merecíamos (falo das escolas e dos meninos)... antes de outros...
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