quinta-feira, janeiro 25, 2007

Raios de Sol

Fui para a escola carregada com o computador do projecto, só portátil porque se diz que sim.
As costas, os ombros vão dizendo que não.
É quinta, uma vez por outra consegue-se um minuto para avançar trabalho da coordenação da BE... mas já sei que não vale a pena ter muita esperança.
Raios de Sol.
Entram pela janela e tentam aquecer o frio da ampla Biblioteca.
Não chega Sol, não chega!

Chove um pouco. Aguaceiros.
Uma professora de Educação Física refugia-se aqui com a turma.
Tento organizar o dossier dos monitores e não lhes resisto.
Isso é para quê? Explico. É para isto e aquilo e aqueloutro e depois acontece assim e assado e cozido e frito e mais tarde uma prova e um cartão e têm de assinar sumários como nós e justificar as faltas e etc, porque é um cargo importante e faz falta à BE e assim e pois e...
...e posso inscrever-me? E eu também? E eu??? Isso é giro!
Que sim, que sim, claro... já mais à escuta, outros passando palavra... isso é o quê?... agora eles já a explicar uns aos outros... depois estudas na net na página da BE-CRE as funções e vens treinar na BE e tirar dúvidas com a equipa e quando ficas preparado fazes provas teóricas e práticas para ver se és admitido... Oh professora são precisas mais fichas! Eles querem todos! Temos líder, já organiza os colegas, é interlocutora. Tiro foto de longe. A luz entra pela máquina. Raios de Sol? Que sim, está bem, vou fazer cópias... querem ser vocês a organizar os papéis comigo? E querem ver a página onde estão os materiais? Que sim, lá vamos e... ficamos... o tempo a fazer crescer a água na boca e o entusiasmo, e eu misturada neles, sentindo-me eles há tanto tempo, nas brincadeiras com os manos, imitando os crescidos, aprendendo a responsabilidade no exercício de desempenhar papéis onde se faz o que os grandes fazem... assinar papéis, preencher sumários, mexer onde os outros não mexem... Como resistir a este jogo tão sério de crescer imitando os gestos de pais, professores... E podemos ir já treinar e arrumar os jogos? Sim, podem. E podemos arranjar já os computadores e pôr a página do CRE a abrir e tirar os bonecos que os alunos lá colocaram e pôr uma paisagem? Que sim, que sim... Eu cá quero ir olhar para os livros... vai...
.
Raios de Sol. Vocês.
Sorrisos de Inverno.
Finalmente aqueço na manhã fria.

Não vos resisto. Caio sempre na vossa armadilha de mel. Depois de vocês cairem na minha.
E trago o trabalho, a lista intactos para casa. O computador pesado, passeado, transportado sem ver a luz.
Raios de Sol.

Sorrio.
.



5 comentários:

Teresa Lobato disse...

E eu não sei o que isso é, 3za? Pena que o meu mel tenha vindo a azedar com o tempo. Essa velha máxima aplicada aos desígnios de Baco de "quanto mais velha melhor" não encaixa em mim. Dou por mim, por vezes, azeda sem querer. Como estarei daqui a doze anos? Puro fel? Vinagre de vinho? Chegarei lá exercendo as mesmas funções? Co-mo vou re-sis-tir aos pré-mios que o meu mi-nis-tério a-ca-ba de lan-çar? Co-mo?!...Ou como vou olhar para uma colega de escola que acabou de ganhar um? CO-MO?
E o fel cresce. E as abelhitas que volitam pelo CRE já não chegam para adoçar o meu coração.

Que tu, pelo menos, continues com essa força!

Beijinho

Teresa Martinho Marques disse...

Teresinha, percebo-te... (tenho andado mesmo distraída... tens de me contar dos prémios... nem telejornais consigo ver), mas tb sei que para tal outros factores contribuem. O desgaste/desencanto é real para todos, às vezes acentuado pelas partidas da saúde. É mais fácil lidar com o desencanto e recolher luz de abelhitas quando o corpo não se queixa. E... como a minha decisão está tomada em relação ao ECD, há alguma paz em mim. É uma forma de luta muito pessoal... mas com ela evitarei algum desgaste, algum desencanto e estarei mais tempo na companhia das abelhitas do que a fazer "outras" coisas que considero absurdas e para as quais não tenho vocação. Beijoquinhas e... até já!!!!

Anónimo disse...

3za posso falar com a Teresa Lopes?

Tenta. Esquece o ministério, esquece os prémios. Tenta ver só as abelhinhas. Que te importa que outro qualquer consiga o que quer que seja.
As abelhinhas não têm culpa do que se passa com o ministério e precisam de ti. Cada professor é fundamental, pedra chave para o aluno que ensina.
Eu sei que é fácil falar principalmente quando se não é professor, como eu.
Mas olha que na privada temos que estar todos os dias a provar que somos os melhores ou passam-nos à frente aqueles colegas que acabaram de entrar.
Desculpem.

Anónimo disse...

Agora vou dizer o que vinha dizer.
Quando fôr pequena quero ter uma professora como tu 3za.
Beijinhos.

Teresa Martinho Marques disse...

Oh Marta... agora fiquei assim sem palavras... e olha que, já o disse várias vezes... eu sou tão tagarela que não é fácil! Obrigada...
(Entretanto, já estou como um amigo escritor que tem uma frase num livro delicioso - O Quê Que Quem - que me fizeste lembrar:
"Pequenos é que devemos responder quando nos perguntam o que queremos ser quando formos grandes..." ;)