Provavelmente há quem pense, ao passar por aqui, que sou assim uma espécie de workoolic, daquelas que tem sempre o trabalho na cabeça em primeiro lugar (e em segundo e em terceiro e em...).
Os que me conhecem um bocadinho melhor poderão desconfiar do mito, porque percebem quão facilmente cedo aos prazeres de um poema, de um romance, de uma canção, de uma borboleta, de uma flor...
Mas só eu conheço a terrível verdade que me obriga a trabalhar tanto na esperança de acabar todas as coisas to do das listas estilo cachecol que são um dos meus vícios mais bizarros (depois do computador), apenas com o intuito pouco nobre de poder conquistar uns minutos largos para fazer algo de absolutamente maravilhoso: não fazer exactamente coisa nenhuma.
É nesses momentos de não fazer precisamente coisa nenhuma que se me revelam, sem eu querer, mais umas ideias insistentes (bem as tento sacudir como moscas) que acabam invariavelmente por ser operacionalizadas em projectos e depois em itens... de novas listas.
Ora isto é um problema sem solução: se, por um lado, enquanto ando na azáfama formigueira e abelheira dos dias, as ideias têm alguma dificuldade em me assombrar, surgindo espremidas entre os poucos minutos disponíveis, mal começa a sobrar algum tempo, nem tempo tenho para me escapar das novas, que nascem como pragas num sítio da minha cabeça que não tem porta que se possa vedar de forma segura.
Depois há outro problema... o da necessidade de variedade.
Com excepção de algumas actividades de natureza mais duradoura e permanente na vida, canso-me com relativa facilidade de certas coisas e passo imediatamente para a coisa seguinte que aprofundo até à exaustão. É assim que cá em casa, e em casa de uns quantos amigos e familiares, há paredes com aguarelas que resolvi pintar durante uns anos (hei-de regressar, e até gostava de experimentar o acrílico... e...), ilustrações para poemas, um tapete de arraiolos que bordei há muitos tempo (meti na cabeça que conseguia fazer um, e depois decidi que nunca mais na vida voltaria a meter-me em tal), camisolas de lã e biquinis de croché, no tempo em que com uma ou duas agulhas tecia verdadeiramente coisas que eram mais do que teias dispersas e, recuando o suficiente, até vestidos fiz para mim, daqueles que mais ninguém tinha...
E criei pássaros caídos de ninhos e borboletas, esculpi em barro e cheguei a ter uma horta de ervas aromáticas, um dossier com as plantas do jardim, um arquivo com as plantas medicinais e...
Tudo isto para dizer que já provei merecer mais tempo que muitos (mas os deuses não me dão ouvidos), porque quando chega o Verão, com os seus minutos extra, primeiro dá-me assim uma vontade de esquecer o que foi, de não olhar para trás e, depois, as listas começam a crescer exponencialmente como as larvas dos mosquitos em água tépida... Se vocês soubessem... ainda me falta aprender italiano (gosto da música da fala), melhorar o inglês, aprender a tocar piano (já que ninguém tem pena de mim e se oferece para me acompanhar em aventuras que andam previstas nas listas há já tanto tempo), escrever um ou dois romances, alguns contos para gente crescida (outras experiências na escrita), dominar na perfeição todas as peças do meu computador, tornar-me autónoma na resolução dos problemas do software e configurações...
Eu (acho que, apesar de tudo) gosto é do Verão...
É um tempo em que me perco sempre e busco a seguir um novo fio de seda para passear a vida. Um tempo em que tento parar sem verdadeiramente conseguir apagar as luzes. Dizem que é o cansaço. Eu cá acho que é coisa mais profunda e sem remédio: inquietação crónica.
Ainda assim terei de encontrar energia para continuar de volta da tese (por conta da defesa)... e preparar já um novo desafio para o próximo ano lectivo (que poderá vir a ser muito diferente de tudo o que vivi até hoje, depois contarei).
Mais uma vez, neste Agosto, a Teia ficará sem metrónomo...
Algures entre o mar, a areia e o sol e entre obras necessárias e arrumações indispensáveis aqui por casa, estarei, como a maioria, no limbo de um tempo que aquece e arrefece, que destrói e constrói, que desfaz e faz...
Onda do mar, maré, sol, lua, sem pressa, até que o despertador volte a tocar com a urgência do costume e o relógio volte a comandar a direcção dos dias...
Votos de Boas Festas
Há 5 anos
7 comentários:
Pois é. Sem remédio. Boas e coloridas disposições.
Acho que te entendo! =)
Ai esse novo desafio para o próximo ano lectivo...:)) Se vais trocar os meninos pelos adultos... cá para mim os adultos são muito (mas mesmo muito)menos interessantes do que as crianças.
(Não estou a querer saber o que é, tu contarás quando achares oportuno)
Muitos beijinhos.
JMA... já me vais conhecendo bem :)
MArina... pois... é claro... não deves ser nada diferente :)
IC... foi aquele desafio de que te falei no articular ao almoço (a ti já contei :)... Se correr como previsto, sim, envolve formação de adultos, mas in loco nas escolas... indo às aulas deles e estando envolvida com outros meninos em actividades diversas - matemática... NA escola terei uma turma. Claro, se tudo acontecer como esperado (é o mais provável).
Muitos beijinhos
(Claro que concordo que os meninos é que é the real thing... mas tinha também de me pôr à prova e experimentar uma outra forma de participar... partilhando... e foi essa razão pela qual aceitei o generoso convite da ESE de Setúbal... veremos...)
Boas férias para os três!!! :)
Pois é...deixo-lhe uma esp+ecie de poema de qeum não se considera poeta:
VERÃO
O que há de novo na tarde
Verdadeiramente tarde
Verdadeiramente terna
É este gosto novo de cantar
É esta fome absurda de verão
(Amélia Pais)
Amélia, ser poeta é apenas uma forma de olhar (como a da Amélia :). Não nos consideramos poetas, mas não sabemos olhar de outra forma... e a poesia vem ter connosco :)
Obrigada pelo carinho da visita à teia e pela delicada flor nela deixada! Gostei muito!
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