Qualquer aula serve se investirmos tempo continuada e consistentemente na relação forte de confiança, exigência com ternura, que leva os alunos a crescer e a acreditar em si e em nós.
Se a isto se juntar a oferta de um tempo no intervalo ou noutro recanto da escola fora das fronteiras da aula (quando nos pedem ou quando nós pedimos) de escuta, amena e mágica... tudo acontece bem mais depressa!
A aula acabou, quase todos sairam.
Professora, posso fazer-lhe uns truques de magia?
Claro! Adoro magia... vocês já sabem.
Parta este baralho.
Parti. Ela retirou um molhinho de cima e mostrou-me uma carta.
Olhe para esta carta e fixe-a (não ligue... as cartas são muito velhinhas porque eram da minha avó). Assim fiz. Pousou as cartas e olhou para mim de braços no ar como que a sentir a magia e a invocar os poderes.
Depois agarrou-me a cara e espreitou bem fundo nos meus olhos...
Tenho de olhar bem para dentro dos seus olhos para ver qual foi a carta que viu.
E acertou! Desconcertante! Pedi-lhe mais uma vez... acertou (como fará ela isto?).
Tenho lá um livro com truques, mas este não vou contar porque foi o meu padrinho que me ensinou...
Claro que não quero que me contes! Estou supreendida e curiosa, porque não percebi como fazes.
Pedi mais uma e outra vez. Sempre eu a partir e misturar as cartas e ela a levantar um monte do topo nunca com o mesmo tamanho...
Depois fez mais dois truques brilhantemente executados, sempre acompanhados de uma conversa verdadeiramente profissional de fada-feiticeira. Adorei cada minutinho. As colegas ao lado rindo, uma delas tirou as fotos com a máquina que lhe dei para as mãos.
Oh professora ela é mesmo boa nisto, não é?
Ainda tempo para mais um truque, desta vez com um artefacto mágico. Mais fácil de decifrar, mas absolutamente delicioso.
O intervalo gastou-se assim, todo ele cheio magia por dentro e por fora de nós.
Laços que apertamos e estreitamos dia a dia.
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- (...) Que significa “cativar”?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa “criar laços”...
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no Mundo. Serei única no Mundo para ti.(...)
A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho.
- Cativa-me, por favor, disse ela.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer outras coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os Homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os Homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.
- Como é que hei-de fazer? disse o principezinho.
- Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo rabinho do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto...(...)
- Vou dizer-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
(...) "
in “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry