segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Eu ia só falar de Observação, mas... não aguentei...



A Investigação Naturalista em Educação: guia prático e crítico
Natércio Afonso


São muitos os livros abertos ao mesmo tempo, neste tempo em que tento, simultaneamente, agir, observar a (minha) acção, reflectir sobre ela e, sem perder tempo, ir aprendendo sobre como tudo isso se faz. Não tem sido fácil, asseguro, mas algumas pistas ajudam.
Natércio A., num livro de natureza mais geral, apontou-me autores importantes.

Um deles foi Henri Peretz cujo livro Les méthodes en sociologie - L'observation (de 1998, com uma segunda edição em 2004 e uma terceira em 2007) foi traduzido em 2000 em português para a Temas e Debates (Métodos em Sociologia). Esgotadíssimo em todo o lado... sem paciência nem tempo para andar pelas Bibliotecas, optei por encomendar na Amazon fr a versão original. Não resisti... mas valeu a pena. Já está neste estado (sorte a minha: tem cerca de 11 cm por 18 cm e espessura inferior a 1 cm... letras ínfimas que me permitiram confirmar que os óculos (ainda) serão coisa distante. Deu para absorver o essencial em pouco tempo.


É que a observação tem sido uma obsessão... Da (in)correcção do que faça agora, nesta fase delicada e única de contacto com a turma de estudo, pode residir o (in)sucesso de muito do tratamento dos dados lá mais para a frente... onde não será possível voltar atrás.
Assim, o fim-de-semana, entre outras coisas, foi dedicado a organizar um dossier temático com excertos de tudo o que tenho sobre observação (retirado de excelentes livros sobre metodologias de investigação - capítulos específicos sobre o tema) e a ler, ler, ler, estudar, repensar formas de recolha, esboçar guiões, grelhas de apoio, ainda apalpando terreno, tentando encontrar um caminho próprio, pessoal, embora respeitador das normas básicas. Claro que ainda me falta muita leitura (neste e em muitos outros temas). Uma coisa de cada vez.

Para além deste autor, Natércio aponta outro...

Robert Burgess - livro de 1984: In the field - an introduction to field research, que a Routledge reeditou sucessivamente em 91, 93, 95, 97 e 2000. Na Amazon com (EUA) já é possível encontrar uma edição de 2007. Este livro foi também traduzido para português (edição esgotada) em 1997 pela Celta. E até confirmei que se encontraria na Biblioteca da FPCE... mas... pois... e o tempo? Não, não é o weather... é mesmo o time... Debaixo de chuva intensa, Azeitão em pleno dilúvio, lá fui buscá-lo hoje ao correio. Versão UK de 2000. Esse ainda não o abri... mas já me apetece.
Só que...
Antes tenho de ir registar todas as notas do dia, arquivar filmes, verificar novidades nas galerias e blogues do alunos. O trabalho nunca acaba... porque nos foi retirado o tempo que permitia fazê-lo com qualidade e exigência.

E assim lá vou tentando cumprir um dever e tentando usufruir de direitos consagrados no ECD...

Artigo 10º
Deveres gerais
(...)
2 - (...) está ainda obrigado ao cumprimento dos seguintes deveres profissionais:

b) Orientar o exercício das suas funções por critérios de qualidade, procurando o seu permanente aperfeiçoamento e tendo como objectivo a excelência (...)
d) Actualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos, capacidades e competências, numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida, de desenvolvimento pessoal e profissional e de aperfeiçoamento do seu desempenho; (...)
(Já nem falo dos deveres de conhecer, respeitar e cumprir as disposições normativas sobre educação cooperando com a administração educativa na prossecução dos objectivos decorrentes da política educativa, no interesse dos alunos e da sociedade... o que comporta em si um paradoxo: por um lado, ao escrever isto, não estou a cumprir o dever de cooperar na prossecução dos normativos, mas, por outro lado, se é no interesse dos alunos e da sociedade, isto é exactamente o que eu devo fazer: argumentar com a razão, para que estes normativos não acabem de uma vez com a própria educação, esquecendo-se de que existem alunos no meio da enxurrada de medidas desconexas, incoerentes e impraticáveis.

Artigo 6º
Direito à formação e informação para o exercício da função educativa
1 - O direito à formação e informação para o exercício da função educativa é garantido:
a) Pelo acesso a acções de formação contínua regulares, destinadas a actualizar e aprofundar os conhecimentos e as competências profissionais dos docentes;
b) Pelo apoio à autoformação dos docentes, de acordo com os respectivos planos individuais de formação.
(pois... fui informada de que as minhas faltas apenas a algumas reuniões de Departamento - não falto às aulas com os meus meninos, para poder assistir às aulas da cadeira de mestrado, vão penalizar a minha avaliação na escola, porque não são dadas para provas de avaliação... acontece que os critérios de avaliação da cadeira são a assiduidade, o trabalho desenvolvido para cada sessão e a sua participação nela... e o relatório final ao qual se junta parte da redacção da tese... portanto... fiz a minha opção, já que pago a minha formação e escolhi fazê-la... Paradoxo: sou presa por ter cão e presa por não ter.)
(...)

Artigo 7º
Direito ao apoio técnico, material e documental
O direito ao apoio técnico, material e documental exerce-se sobre os recursos necessários à formação e informação do pessoal docente, bem como ao exercício da actividade educativa
(pois... recursos do nosso bolso... a escola não tem equipamento adequado e é em casa que tudo tem de ser feito, se quisermos realmente fazer trabalho com qualidade... como não há tempo extra para bibliotecas... os livros que os professores têm para crescer profissionalmente, saem do seu orçamento pessoal...)

... tudo, lá está, para ser feito na componente não lectiva... a tal que devia dar também, mas não chega, para as reuniões todas, os papéis todos , as leis todas, os testes todos, preparar as aulas todas, diferenciar, reflectir, individualizar, criar... e muito mais.

Artigo 82º

Componente não lectiva

1- A componente não lectiva (...)abrange a realização de trabalho a nível individual e a prestação de trabalho a nível de estabelecimento de educação(...)

2 - O trabalho a nível individual pode compreender, para além da preparação das aulas e da avaliação do processo de e/a, a elaboração de estudos e de trabalhos de investigação de natureza pedagógica ou científica-pedagógica. (Paradoxo: ao fazê-la -> investigação, repito, vou ser penalizada na avaliação por conta das faltas a algumas reuniões, e estou a fazer investigação-acção em contexto de aula, com turmas, com uma ferramenta recomendada no novo programa de Matemática, numa altura em que o Plano de Matemática é tão falado e se quer tanto melhorar o ensino desta disciplina... porreiro pá! )

3. O trabalho a nível do estabelecimento... são 13 alíneas de trabalho denso,que juntam tudo num saco... voltando a repetir-se na alínea f) A realização de estudos e de trabalhos de investigação que entre outros objectivos visem contribuir para a promoção do sucesso escolar e educativo

E querem saber onde cabe tudo isto?
Tempo bruto em teoria, arredondado por excesso: cerca de 10 horas semanais..
juntem-lhe as reuniões, que em média retiram cerca de duas horas semanais (muito mais do que isso) o tempo líquido (visão optimista) será: cerca de uma hora por dia para tudo o que ficou descrito.

No dia em que resolvermos passar as 35 h na escola e não fazer mais nada para além disso, a escola morre.

Não sei se algum ser humano conseguiria cumprir este estatuto... a começar por quem nos tutela. Vou contactar o Panouramix... só vai lá com poção ou um faz-de-conta que faz o que não faz. Uma poeira nos olhos.

Assim se tece a hipocrisia de um sistema e a demagogia dos discursos que apelam à excelência e ao mérito. Um embuste. O tempo faz parte da equação da qualidade e da exigência, num trabalho que deve ter tanto de prática, como de reflexão e produção intelectual. Subtraí-lo e exigir na lei impossíveis com as parcas sobras, serve para enganar quem? Serve a quem?

Pois...

Eu não comecei a entrada com esta intenção. Juro que ia só falar de observação enquanto metodologia... mas foi uma raiva súbita que me deu.

8 comentários:

kiko disse...

Olá professora! Já estive a cuscar os blogues do 5º ano e estão muito giros (também pus um comentário num) e é verdade eles estão a avançar(muito)rápido!! Mesmo que alguns percisem de levar correcções,percebi que faz muita imperssão ver outros blogues sem correcção. Mas depois isso consigo faklar com eles apartir de fontes obvias (C.)!
Ah, o teste de Mat. é de Expressões Numéricas e de Problemas mas são dois testes separados, não são?
Adeus e até amanhã!!!

Teresa Martinho Marques disse...

Xim...... E este comentário... com apressa, ao contrário dos últimos, está cheio de gralhinhas senhor Kiko! Até escrevi XIM para não destoar :) Vá... toca a corrigir TUDINHO!!!!!!

percisem?????
imperssão????????

É boa ideia, através da C., falares com eles e ajudares ao seu crescimento! Obrigada!
Beijinho

Teresa Martinho Marques disse...

pus??????

Anónimo disse...

Vida de professor..Pois cá no meu sitio as reuniões como são quase todos os dias a partir das 17.30h, levam uma média semanal de 10h. É demais.A maior parte dos dias estamos mais de 12 horas na escola.Entra-se às 8h só se sai ás 20h.Xzzzzzzzzzzzz. Só um primeiro como este é que não entende o que se passa.

Teresa Martinho Marques disse...

Pois... ele e o trio.
Há cérebros incapazes de fazer contas simples...

Paideia disse...

Andas com as metodologias às voltas. Se precisares de alguma coisa diz. Não sou a amazon mas ando lá perto.
:)

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada! Não me vou esquecer...
Beijinhos

Herr Macintosh disse...

"Actualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos, capacidades e competências"... Gostei, sim senhora! Será que este ano posso pôr no IRS as centenas de euros que gastei em livralhada (prometo que só ponho os livros de Psicologia Cognitiva, e-learning, multimédia e ensino da História :-) )? Se calhar não é possível. Sim, que essa coisa de a malta se actualizar e aperfeiçoar deve ser só pra finlandês ver.