terça-feira, fevereiro 28, 2006

Os contrastes dela...


A "minha" Elisabete Afonso chegou à blogosfera (hoje!).
Sim...
A
e_afonso que assina as imagens que inspiraram duas entradas:

Teias de luz e Coisas que não há que há


Chegou com:

OS MEUS CONTRASTES... que, é como quem diz, os contrastes dela...

Por outras palavras... é como estar sentado a beber uma chávena de chá tranquilamente, deixando a paz invadir-nos. Sempre foi serena e doce a Ellisabete. Este recanto é como ela.
Que falta isso nos faz nos tempos que correm...

Bem vinda!

Carnaval 4 a:) 1938, Século XXI e Amor

-
Ano da graça de 1938
Sonhado pela Bisavó Rosa e "tecido" pela Tia-Avó Jú



Século XXI: o digital, a velocidade a que a informação corre mundo fora, as cores devolvidas ao passado que as guardava na memória. Obrigada Pai pela surpresa caidinha agora aqui no meu computador (milagres do futuro de que só alguns suspeitaram e outros, mesmo vindos de mais longe, não perderam a oportunidade de agarrar).

Amor: esse é sempre o mesmo. Eu não disse que havia Amor nesta história? Já não me lembrava de como isso era tão visível... Obrigada Mulheres (Mãe, Avós, Tias) da minha Família!

O Carnaval no seu melhor: Festa de Família?

(E Educação sem Família, só com Escola... é coisa que há, que não há?)

Carnaval 4


Parole parole parole... (uma canção italiana que traduz com rigor matemático o que devem estar a pensar das minhas promessas...)
Mas tenho uma boa desculpa: Promessas de Carnaval, leva-as o vendaval...




lavadeira e polícia (o mano Paulo)


Pois...


Faltava a autoridade. Que também é povo.
Não o autoritarismo.

A primeira conquista-se pelo exemplo (embora seja também preciso que o Carnaval de afirmações sem nexo, que se tornaram hábito nas bocas de toda a gente, a não destrua com generalizações abusivas que põem em causa classes inteiras de profissionais dos mais variados sectores, políticos incluídos... eu também não generalizo). A primeira tem sentido duplo. Baseia-se no respeito recíproco, no diálogo, na partilha de ideias e pontos de vista.

O segundo... bem... o segundo é sempre de cima para baixo. É (um pouco?) como um Pai obrigar o filho (que chora desesperado) a vestir-se de super-homem, seu herói de juventude, quando o filho só queria ser outra coisa... A esses Carnavais estamos nós muito habituados e não duram só três dias... Um dia conseguiremos vestir-nos para sempre com as cores que melhor servirem a causa da Educação. Eu ainda acredito.

Fiz um esforço sério desta vez. Não deu grande resultado, mas tenho a consciência tranquila.

ADENDA: A minha Mãe veio até aqui e corrigiu: o mano Paulo não é um polícia mas um capitão do exército (vêem os galões? Como há capitães na polícia, o erro não foi grave)... As memórias das Mães são sempre de fiar. E, já agora... olhem lá para esta menina aqui em baixo... não, não sou eu, é a minha Mãe pequenina (as Mães um dia também foram pequeninas... acreditam?). O disfarce? Não reconhecem? Pois é o de minhota que mais tarde foi também o meu... heranças de família... do povo. Com todo o orgulho. Quanto a esta ligação ao Minho... não sei de onde vem, eu cá sou alfacinha e os meus pais são do Ribatejo...

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Carnaval 3

Eu sei que tenho prometido tentar celebrar o Carnaval a sério...
Hoje prometo outra vez. (Ainda têm esperança?)


lavadeira


Nova evidência a confirnar o já dito. O povo, sempre o povo.

O Carnaval, nesse tempo, era contido. Colorido mas discreto. Não haveria decerto "caraças" (como lhes chamávamos) com a cara de quem tudo vigiava. O medo reinava?

Agora... há máscaras, há disfarces, há bonecos (muito) iguais para enviar mensagem, parece que é possível ajudar os outros a ver o sentido do que sentimos, parece que o diálogo (quase) existe. Mas... alguém nos ouve? O medo ainda reina?

O faz-de-conta substitui a essência, muito para além de todos os Carnavais juntos. Lembrei-me da entrada da IC há dias.

(A culpa do meu mal sucedido esforço de hoje é toda dela e do seu olhar arguto. Não conta para o meu rol de lavadeira de promessas. Amanhã é outro dia.)

domingo, fevereiro 26, 2006

Carnaval 2

Prometo novamente que vou tentar celebrar SÓ o Carnaval a sério, nos escritos destes cinco dias...


minhota



Aquele primeiro Carnaval em que me escolheram traje de povo e me disfarçaram do que sempre fui e continuo a ser.
Não me lembro nunca de ter sido rainha, ou princesa (e o álbum de fotos confirma).

Lá fui percebendo que se cresce na medida em que se aceita o que se é e se luta por algo mais.

Agora... O Carnaval é qualquer dia (todos os dias) em que é possível alguém levar a sério os disfarces que distorcem a realidade e nada lhe acrescentam?

Pois... não me apontem o dedo... eu estou a fazer um esforço.

sábado, fevereiro 25, 2006

Adivinha quanto eu gosto de ti

Interrompam toda a agitação, qualquer azáfama de Carnaval ou outra, sentem-se e escutem com atenção o que a Elis nos conta lá no seu cantinho A(zul)Mar (basta clicar na imagem de ternura):
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Dedico ao Cara-Metade, à Família, aos Amigos, aos meus Alunos, tudo o que encontrarem nesta viagem... especialmente no finalzinho dela.

Guess how much I love you

Esta história já se encontra traduzida em língua portuguesa:

Carnaval 1

Prometo que vou tentar celebrar SÓ o Carnaval a sério, neste e nos dias que se lhe vão seguir...
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Aquele Carnaval de quando eu era pequenina e admirava o meu irmão, sem perceber muito bem o que fazia ele vestido como os senhores do circo... Aquele Carnaval que durava três dias (mais do que a vida, que só dura dois.)

Belos Carnavais esses.

Nos tempos que correm... O Carnaval... dura todo o ano?

(Eu prometi que ia tentar, não jurei que conseguiria! Farei um esforço maior amanhã...)

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

O Voo do Pedro. Um Exemplo.

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O Pedro é um ex-aluno da Escola EB 2,3 de Azeitão. Tem 21 anos. Está a estudar Gestão de Sistemas de Informação, na Escola Superior de Ciências Empresariais, em Setúbal.
Não o conhecia, mas ontem delegado e subdelegada de turma estiveram num encontro com ele e regressaram comovidos com a sua enorme força de viver, o seu exemplo, a sua coragem. Falaram-me dele. A Mónica chorou enquanto recordava as suas palavras. Oh professora, desculpe eu estar assim, eu não estou triste, é assim, nem consigo explicar, a força dele, o que ele nos disse...
Expliquei-lhe que ninguém deve pedir desculpa por ter o coração no sítio certo logo aos 11 anos (muito antes disso?). Comoveu-nos enquanto falava.
Estava agendada hoje uma aula de Formação Cívica em que passariam o testemunho recebido para a turma...

À tarde conheci o Pedro. Apresentei-me. Expliquei-lhe o efeito que havia causado neles, a vontade que tinham de o conhecer. Ofereceu-se para vir hoje à minha aula de Formação Cívica. E veio. (Acabou por ficar para outras aulas... todos o conhecem e se lembram dele. Continua a fazer parte da escola.)

A surpresa da turma, a alegria, a conversa, as lágrimas de muitos, as perguntas... muitas perguntas...
Se tivesses à tua frente a lâmpada mágica do Aladino para pedir um desejo, o que pedirias?
Nada. Tenho tudo o que preciso.
Eu? Senti-me pequenina. Tão pequenina.

Até aos 8 anos o Pedro contou-nos que não conheceu o prazer de andar. Depois a cadeira de rodas. O primeiro salto e uma vontade de voar mais alto. Muitas operações. Família, médico, apoios fundamentais e uma enorme força de vontade. Há três meses deixou a cadeira por completo e desloca-se com o auxílio de duas canadianas. Diz que agora é como se voasse. Para conhecerem melhor a sua história, os seus desejos, os seus sonhos, vão até:
http://pedrocd.no.sapo.pt/

Desde há alguns anos que o Pedro, no seu tempo livre, se dedica à causa de partilhar a sua força com os outros. Aguarda uma oportunidade de provar que pode o que todos nós podemos (senti que todos podemos muito menos do que ele, mas enfim...)

Portanto, uma Aula que se entranhou na memória de todos nós e de lá não vai sair nunca. Uma Paz feita do primeiro desconforto causado pela batalha interior que nos acordou para as nossas próprias limitações. Aquelas que o Pedro nunca teve, nem terá nunca.

A melhor aula de Formação Cívica. (Falo como aluna).
Lição inesquecível sobre sonhos tornados realidade pela nossa mão.
Ele diz que é possível. Pede-nos que sejamos felizes. Muito felizes.

Obrigada Pedro. Professor Pedro.
Procuraremos ser bons alunos.


Gonepteryx Cleopatra em voo

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Coisas que não há que há

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Estes meus finais de semana são tão alucinantes, que o tempo é pouco para pôr trabalho, papéis, cabeça em ordem... (Não estranhem o que se segue.)
E no "despachar" dos dias, por entre a alegria recolhida no trabalho com os alunos, vêm-me à mente pequenas tristezas que se insinuam sem mágoa, apenas por causa do conflito interior entre o devaneio da urgência de redesenhar a escola que temos e a cinzenta realidade de ter de interromper algo de bom, útil e rico que está a acontecer numa aula para me despedir com um sumário a correr, um até à próxima aula... perdendo-se algo dessa magia no caminho entre as duas únicas aulas de que disponho semanalmente para a matemática, em cada turma.
Se tenho solução? Ainda não. Ainda não. Mas tenho um sonho que não consigo ainda saber qual é. Tento desesperadamente aproveitar o pouco tempo que me dão para pôr em prática apenas pedacinhos do que não sei que ele possa ter. Eu sei que são aulas a mais, tempos a mais para as crianças na escola (embora muitos pais gostem, ou a sociedade os obrigue a gostar)... não estou aqui a dizer que deveria haver mais disto igual, mais disto que entristece o devaneio... mas queria mais tempo de magia com menos minutos de tempo de relógio. Coisa que não há mas devia haver?
Ai que nem sei o que sonhar, se nem sei ainda bem como é o sonho que não é.
Saudade do que não sei que pode ser que seja um dia.

Só o Manuel António Pina me entende. Ah como ele me entende!
(Bem me podem chamar louca, a ver se eu me importo! Ele sabe que eu não estou louca. Não estou.)

Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia...

Livro: O pássaro da cabeça
Poema: Coisas que não há que há
Poeta: Manuel António Pina
Fã: eu
Aranhas a querer tecer futuros: nós aqui?

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Teias de luz

Há tempos, numa entrada a que chamei Nos-tal-giaaa ("copiando" o nome de outra entrada de uma ex-aluna - Sara, no seu blogue Hora de Ponta), prometi divulgar algo especial de outra ex-aluna - Elisabete. Recordo que ambas estão a caminho dos 20 anos...
Ontem tinha na minha caixa de correio fios de seda pura entrelaçados pela Elisabete... Irei partilhando.
Hoje (dia muito cheio, com oficina de formação pelo meio) deixo-vos apenas um breve esboço de pensamento, inspirado por duas das imagens que teceu (e me ofereceu).

.



É na saudade de todos quantos recordo e me recordam,
no encontro sem corpos que persiste no tempo,
na comunhão de momentos que depois a memória não apaga,
que busco e encontro a força necessária para construir hoje o que desejo para amanhã.

São muitos os que sabem que foram preciosos e reais os minutos, os anos partilhados.
Saberão que existimos (mesmo quando formos nós a duvidar).
São feitas de luz as teias que tecemos com todos eles.

Estas teias de luz envolvem sem prender.
Têm rumos, sentidos, brilhos, cores, cheiros, sabores inesperados e libertam-nos.
São caminhos para cá e para lá de nós. Conseguem carregar o peso das lágrimas sem tombar.

Cada um tem a sua.

Chamo Rosa à minha.
Vejo-a renascer todas as Primaveras (todos os dias?) depois da ilusão de morte que o Inverno não se cansa de trazer.

Pensando bem...
...gosto da teia que me coube em sorte.



(A Elisabete faz parte dela.)

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Sabe bem...


E as razões são:



esta


e



esta



Embora certos de que o caminho vale sempre a pena, é muito bom ver o trabalho reconhecido.

(É claro que também seria muito bom que esse reconhecimento nos chegasse de "outros" lados, para além dos nossos companheiros de viagem. Mas não é hora de queixas...)

Muito Obrigada a estes últimos.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A não perder

Não percam esta entrada no Reflectindo.

Papás Multibanco

How Children Fail - 3


(...) O que eu quero salientar agora é que os termos “sucesso” e “fracasso” são conceitos de adultos que nós impomos às crianças. Estes dois conceitos andam a par e são faces opostas da mesma moeda. É absurdo pensar-se que podemos transmitir às crianças um amor pelo “sucesso” sem lhes darmos simultaneamente um igual receio do “fracasso”. Ao aprenderem a andar, os bebés caem com frequência, as crianças de seis e sete anos que aprendem a andar de bicicleta também caem muitas vezes, mas nem uns nem outros pensam, sempre que isso acontece: “Falhei outra vez.” Os bebés e as crianças, ao tentarem atingir objectivos concretos quando caem, limitam-se a pensar:”Bolas, ainda não foi desta, tenta outra vez.” Nem sequer pensam, quando finalmente começam a andar ou a pedalar: “Boa, estou a conseguir!”Pensam o seguinte: “Estou a andar! Estou a andar de bicicleta!” A alegria reside no facto em si, no caminhar ou andar de bicicleta, e não numa qualquer ideia de sucesso. Na verdade, mesmo para os adultos, o “sucesso” (se não relacionarmos o conceito com enriquecer e ficar famoso) aplica-se apenas a tarefas específicas, como, por exemplo, completar um puzzle ou ganhar um concurso, em que simplesmente se consegue ou não. Isto não tem nada a ver com a maioria das tarefas e exercícios que fazemos constantemente durante toda a nossa vida, melhorando com o passar do tempo sempre que os fazemos... (...)

JohnHolt - Dificuldades em Aprender


Lembrei-me hoje da dificuldade dos alunos em lidar com os momentos em que tomam consciência de não ter conseguido atingir determinados objectivos e da falta de persistência e empenho para voltar novamente a pôr mãos à obra, trabalhando para ultrapassar as dificuldades. Lembrei-me do medo de falhar, de desapontar os outros. Do receio de se confrontar com as suas limitações, com a frustração de não ser possível conseguir tudo à primeira.

Demasiadas palmas de cada vez que conseguiram algo que nos agradou, em casa e na escola?


Curioso. Não lhes reconheço estas limitações - tão comuns na escola - quando treinam nos seus skates, patins em linha, ou...

Onde estará a diferença?

domingo, fevereiro 19, 2006

Eles andam por aí...

Eu bem que não queria vir cá hoje. Mas provocam-me, o que hei-de fazer?

Ontem, a Mónica (subdelegada da minha Direcção de Turma) veio até à teia (eu sei que vem mais vezes... ela e o A-Team todo) e salpicou duas entradas com comentários.
Depois de descobrir
aqui as minhas manias, escreveu:

Está é a nossa querida D.T! Não é A-TEAM?

Pudera... Eles são, para além do Cara-Metade, quem melhor conhece estas manias e as vê em acção todos os dias... Não porque eu as partilhe com eles verbalmente (o tempo é pouco e eu sou uma professora "chatinha", muito exigente, não lhes dou sossego no trabalho...), mas é impossível não reparar nelas... por vezes tenho de refrear a minha aceleração para que não se percam de mim!

Da boca das "crianças" saem as melhores verdades. As mais coloridas. E os mimos mais doces. (Provavelmente não me fica bem... mas tinha de partilhar o calorzinho que me aqueceu o coração neste Domingo frio.)
Portanto, podem acreditar. As minhas manias são mesmo as que aqui deixei (e faltou a mania do relógio e a das horas... e mais umas quantas... mas isso não interessa nada.)


Ah! É verdade! Pela primeira vez a Ana P. escreveu para o meu e-mail...e, surpresa! Ali estava a resposta ao desafio do mês de Fevereiro colocado por mim no blog deles (www.sala16.blogspot.com , vão até lá que as novidades são muitas!). Foi muito importante... eu cá sei porquê.

Às vezes os Domingos, que deviam ser só meus, são também deles.
A culpa é da Internet.

(Ou das teias que enredam os corações uns nos outros?)




Mónica... não resisti... À falta de uma fotografia tua...




Alguém (entre os "entas") se lembra da Pipi das Meias Altas?



http://www.astridlindgrensworld.com/

sábado, fevereiro 18, 2006

Até Segunda?


.


LAZY JANE

Lazy
lazy
lazy
lazy
lazy
lazy
Jane,
she
wants
a
drink
of
water
so
she
waits
and
waits
and
waits
and
waits
and
waits
for
it
to
rain
.
Shel Siilverstein - Where the Sidewalk Ends
.
NOTA 1: Embora me apetecesse fazer como ela... é tanto o que preciso de pôr em ordem nestes dois dias, que só devo voltar na segunda!
.
NOTA 2: O poema é pressuposto estar alinhado com a boca da Jane, de acordo com o livro (prenda da minha irmã Lena, uma obra preciosa)... mas a preguiça é tanta e a formatação do blogger ainda tão limitada, que deixei para a vossa imaginação o dito alinhamento.
.
NOTA 3: Outra razão mais convincente? Este não pode ser um blogue preguiçoso que vos retire a iniciativa. Tal e qual como um professor com os seus alunos: tem de haver espaço para a construção pessoal e para o alinhamento individual do conhecimento. Não se pode oferecer tudo pronto a consumir. (Com esta argumentação já devem estar mais convencidos, verdade?).

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Agostinho da Silva


A IC hoje deu-me o mote certo nas suas memórias de homenagem a Agostinho da Silva.
Tal como ela, deixo-o falar por si... (como ele gostaria, imagino).
É bom recordá-lo... muitas vezes.



"Sou destas confianças como lição do passado e destes optimismos como vontade de futuro; sobrámos das catástrofes para sermos o que quisermos: e nada há melhor para ser, depois que acendermos a chama em nós, do que espancar com elas as sombras que atemorizam os outros e pelo medo os podem destruir; chegou o tempo de nos prepararmos para as novas viagens, que o soltar das amarras vem aí; e, embora saibamos da eternidade da cruz neste mundo nosso, talvez fosse bom que se substituísse, nas velas que se soltem, pelo liz do Norte dos mapas, do Espírito Santo da Rainha Isabel e da perfeita Trindade, e que, em lugar do que ouvimos no Restelo, repetíssemos os versos do Poeta que já citei:

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
o inteiro mar, ou a orla vã desfeita -
O todo, ou o seu nada.

Com uma pequena correcção: a de pormos agora mundos em vez de mares; e uma dúvida: a de que talvez não esteja certa a vírgula entre o verbo querer e o poder."

Assim encerra Agostinho o seu livro
educação de portugal


Para melhor o recordarem, podem ir até:

Instituto Camões

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Pausa...

Porque o dia vai ser longo...
Deixo-vos a sós com Virgílio Ferreira.
Disfrutem.

"Só se consegue aprender o que nos não interessa. Porque o mais, o que é do nosso fundo destino, somo-lo: se alguém no-lo ensinou, não demos por isso.
Ensinar então é só confirmar."


Imagem que persiste há anos como wallpaper, no ambiente de trabalho do PC...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Fazer alguma coisa...

Hoje começo com o excerto de uma mensagem de JL - Herr Macintoch, (que tem por hábito enviar aos colegas/amigos "frases do dia" descobertas por entre as suas muitas leituras), para fundamentar algo em que tenho andado a trabalhar e que tenciono apresentar na próxima reunião do Departamento de Matemática.

Tradução de JL:
"Se continuares a fazer o que sempre fizeste, obterás sempre os resultados que sempre obtiveste."

Excerto do segundo e-mail, depois de lhe ter pedido que me situasse:

A frase original ("If you keep on doing what you always did, you'll keep on getting what you always got") é de W. L. Bateman que, de acordo com as minhas pesquisas, é/foi um autor que escreveu sobre educação. Uma das obras que descobri foi Bateman, W. L. (1990). Open to question: The art of teaching and learning by inquiry. San Francisco, Jossey-Bass Publishers.
A citação foi retirada de Kay Thorne, Blended Learning: how to integrate online & traditional learning; Kogan Page, 2003 (estou a fazer um apanhado de tudo o que já li sobre e-learning e encontrei esta pérola).


A proposta em que tenho estado a trabalhar, e que resolvi hoje deixar aqui (ainda a precisar de revisão e amadurecimento... mas acordei com necessidade de acção e portanto resolvi partilhar...) tenta ajudar a combater o insucesso da Matemática na vertente escola - desenho curricular, no quadro da actual organização dos estabelecimentos de ensino (ainda com esperança de que algo possa mudar e, também, que a Sra. Ministra leve para a frente a colocação em prática de algumas medidas resultantes da reflexão tida com os Professores de Matemática de todo o país, sobre o insucesso nos exames, tal como prevê em notícia do Público da passada sexta-feira... já depois de eu ter iniciado este trabalho que aqui deixo).


Me desculpem as outras disciplinas. Trato do que é meu e do que toda a gente fala... até ver é a disciplina no centro das conversas, somos os professores mais convocados para reuniões de reflexão, os mais acusados de incapacidades... temos direito a oportunidades de diferença, para ver se é possível corrigir algumas coisas deste trajecto de insucessos acumulados. E, mesmo "a retalho", parece-me que a importância deste assunto merece uma atenção diferenciada... Se não acharem, peguem nos problemas das provas do 9º ano e tentem resolvê-los, todos vocês, professores de qualquer disciplina. Afinal...todos nós andámos na escola, ou não? O que ficou? Que competência matemática sobrou em todos nós? Vamos ter de começar por algum lado. É mesmo preciso fazer alguma coisa, se queremos que alguma coisa mude.

http://www.gave.pt/reflexao.htm


http://www.gave.pt/pebasico2005chamada1.htm

http://www.gave.pt/pebasico2005chamada2.htm

Talvez este exercício pessoal de nos pormos à prova ajude a perceber em que ponto estamos. Em que ponto a escola está. (Desculpem, eu estou impossível. Aqueles que já "visitei hoje", tiveram de me aguentar... e, agora, se não os tiver afugentado, aqui também têm a sua dose, ainda maior.)

Se ainda não desistiram de continuar... aqui vai a dita proposta. Volto a repetir que ainda estou a trabalhar neste documento. Sejam benévolos (aceito sugestões de correcção, e agradeço-as).

Proposta de reorganização do trabalho do Professor e da disciplina de Matemática
(Com a intenção de melhorar as condições da prática lectiva e de apoio ao trabalho dos seus alunos esperando-se, como consequência, a diminuição dos índices de insucesso nesta disciplina.)

- Considerando o elevado insucesso nesta disciplina e a reflexão que todos os anos é proposta ao nível do estabelecimento (a propósito da avaliação interna) e ao nível do país (a propósito da avaliação externa) sem que sejam alterados os aspectos que, na escola, constrangem a actividade dos professores (os que não se relacionam com a escola, deverão ser trabalhados noutros contextos).

- Considerando a especificidade e dificuldade da disciplina, bem como o estatuto de inacessibilidade que lhe é conferido socialmente e que afecta a motivação, o trabalho e avaliação dos alunos.

- Considerando a extensão dos conteúdos programáticos, por todos reconhecida.

- Considerando que se trata de uma disciplina sujeita a exame no final do ensino básico, mas cuja carga horária é inferior à de muitos países com maior sucesso.

Propõem-se as seguintes medidas a integrar o Projecto Curricular de Escola:

- Apenas seja atribuída direcção de turma aos professores que leccionam a disciplina de matemática, caso estes o solicitem.
- As horas supervenientes sejam marcadas num bloco (ou tempo) coincidente com tempos livres das turmas que lecciona, por forma a garantir um espaço de apoio pedagógico/estudo/recuperação/reforço leccionado pelo próprio professor (o que também garante, posteriormente, a existência de um espaço a ser usado na aplicação de planos de recuperação/acompanhamento de alunos seus e não de outros), concentrando-se assim a atenção e esforço do professor nos seus alunos, tornando mais eficazes as medidas de recuperação e compensação que vierem a ser estabelecidas e ampliando o tempo de contacto com a Matemática.
- As actividades nos tempos de estabelecimento (dependendo das situações) deverão ser canalizadas para trabalho com os próprios alunos (o que pode, por exemplo, significar organização de actividades de acompanhamento em caso de ausência, preferencialmente às turmas em que lecciona matemática ou de criação de espaços de animação/trabalho complementar da disciplina abertos, eventualmente, a outros alunos, se o professor assim o entender (numa perspectiva de diferenciação relacionada com o número de turmas e alunos a cargo de cada professor, número de alunos com necessidades educativas especiais, número de níveis de ensino leccionados e outros aspectos específicos do horário do docente em cada ano, não sendo de excluir a hipótese de diferenciação do tempo a atribuir à componente individual de trabalho – por uma questão de justiça, que não deve ser sinónimo de igualdade sem critério).
- Seja marcado um tempo (ou mais) de estabelecimento comum aos professores do mesmo ciclo - ou de ambos os ciclos, se possível, para propiciar a necessária articulação vertical - que se encontram a leccionar a disciplina, dentro do previsto para o tempo de estabelecimento, mas sempre sem prejuízo da componente individual de trabalho, para trabalho semanal de reflexão, preparação de materiais, articulação, partilha de estratégias, experiência e metodologias.
- Ao professor de matemática seja obrigatoriamente marcada aula de estudo acompanhado nas turmas que lecciona, devendo o trabalho nesta área curricular privilegiar o desenvolvimento/prática de métodos de estudo nas duas áreas prioritárias Matemática e Língua Portuguesa – sendo estabelecidas as necessárias pontes entre estes dois domínios básicos e as restantes disciplinas do currículo.
- O tempo a atribuir pela escola deve ser sempre colocado ao serviço da disciplina de Matemática até ao momento em que se avalie o resultado das medidas atrás expostas.

Propõe-se, ainda, que primeiro seja feito um estudo da exequibilidade das propostas antes da sua discussão em Conselho Pedagógico e que, no final do período de aplicação, caso sejam aprovadas estas medidas, se avalie com rigor a sua eficácia para se programar a continuidade do desenho curricular agora proposto, com ou sem reformulações.

Uff... Entre aulas, testes, enriquecimento pessoal/auto-formação, propostas para o Departamento, a minha teia, blogues dos alunos, reuniões de CP, reuniões de Dep, Oficina de Matemática, Direcção de Turma, Coordenação de Direcção de Turma, Visitas de Estudo, preparação da festa final da turma, Secção de Avaliação e Despacho 50, saída de um novo livro... etc. etc. compreendem quanto é difícil às vezes manter o ritmo sem alguma espécie de desespero... Até a Sra Ministra perceberia a impossibilidade de estender os dias ao infinito, de gerir os parcos tempos que nos sobraram quando o empenho existe. Gostaria de ver tudo andar mais depressa... mas eu própria luto para não me deixar atrasar.

Provavelmente, tudo o que será preciso é conseguir explicar, provar que temos razão... Gostava de acreditar na lógica de uma possibilidade com luz.

Estou mesmo a precisar de parar para cheirar a rosa...

terça-feira, fevereiro 14, 2006

O Primeiro de Todos os Ofícios

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"Ensinar não é uma actividade como as outras. Poucas profissões serão causa de riscos tão graves como os que maus professores fazem correr aos alunos que lhes são confiados. Poucas profissões supõem tantas virtudes, generosidades, dedicação e, acima de tudo, talvez entusiasmo e desinteresse. Só uma política inspirada pela preocupação de atrair e de promover os melhores, esses homens e mulheres de qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do ofício de educar a juventude o que ele deveria ser: o primeiro de todos os ofícios."

Pierre Bourdieu, 1986
(Citado por José Matias Alves em O primeiro de todos os ofícios, Cadernos do CRIAP ASA, nº17)

A Elda. A primeira de todos os professores que se seguiram. Também ela tem culpa na escolha desta profissão que abracei com a alma. Ainda bem que foi minha durante alguns anos! Questão de sorte? De destino, se tal houver? Muito do que sou também se desenhou ao lado dela. Está entre as melhores... (Continuamos a trocar cartas pelo Natal... ano após ano.)
A foto desses dias não é a que deixo aqui. Está bem guardada dentro de mim, por não caber em mais lado nenhum. Obrigada por tudo, minha Amiga!

Faz-me pensar... o primeiro de todos os ofícios... sim.
E o professor do primeiro ciclo:

o Primeiro de todos os Professores?


Para um pedacinho de resposta:
Viajar até este local

e continuar a viagem por aqui...

(Estas viagens já foram sugeridas antes na blogosfera e parece que ninguém sabe muito bem como começou a sugestão, nem onde...)

Recordemos aqui que, para além do Ontário, a Finlândia também investe fortemente na qualidade da formação dos seus professores e nas condições de execução do trabalho, nomeadamente dos que leccionam os alunos mais novos. Ambos os países se preocupam em aplicar os resultados obtidos pela investigação em educação. Os excelentes lugares no PISA parecem confirmar o sentido do investimento.

Formação, exigência, reconhecimento, promoção e adequadas condições de trabalho:
o segredo para construir solidamente as fundações do sucesso da educação de um país?

(É com Alunos, Professores e Pais satisfeitos "que o mundo pula e avança, como bola colorida, entre as mãos de uma criança"...
Desculpem estar sempre a usar este verso do António Gedeão, mas a culpa é dele.)



segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Onde tudo começou


CRE da Luisinha


Hoje só quero lembrar isto.


Foi na escolinha (EB 2,3 de Luísa Todi) onde cresci durante cerca de 20 anos em excelente companhia, que fui desenvolvento a arte do ofício de fazer aprender, descobri a paixão pelas TIC, o gosto pela "coisa gráfica". Foi nela que entrei sem reservas pelo universo dos "bytes" e eduquei o sentido estético com os meus "mestres" Joaquim, Dora e depois a Fátima.
Muito do que vivi passou-se no Centro de Recursos, no Laboratório de Multimédia, na Biblioteca (este meu fascínio pelos livros!) em companhia preciosa da Cristina, da Zé, mais tarde da Luísa. Também da Gina e da Amélia, duas funcionárias e amigas que compartilhavam (e compartilham ainda) esse espaço com todos nós. Na reinvenção de espaços de formação contávamos sempre com a Encarnação, com a Ana e com a Guadalupe. Não perdíamos uma oportunidade. E saúdo as muitas Teresas que comigo partilhavam nome e aventuras pedagógicas, o meu 4º e empenhado grupo, os órgãos de gestão com quem tive ocasião de trabalhar, o saudoso ANIB...Víctor, M. José, Teresas, outra vez as Teresas, (que me aproximaram ainda mais do sonho dos livros).

Foi nela Escola e nele Centro de Recursos (CRE) que cresci, cresci, cresci e fiquei assim pequena sempre à espera de aprender um pouco mais e capaz de o fazer sozinha, dotada de ferramentas que ainda hoje me ajudam. Percebi o pouco que sabemos das coisas da Vida e do Mundo. Não vou dizer mais nomes, porque são tantos que recearia omitir alguém. Mas todos eles sabem do meu Obrigada. Cito apenas estes, cumprimentando simbolicamente toda a escola através deles.

No CRE da Luisinha, continua a ser Primavera sempre, apesar das dificuldades e da escola prometida que nunca mais chega. Agora nasceu um blogue que nos elucida sobre a excelente qualidade de tudo o que por lá acontece e sempre aconteceu, mesmo no anonimato dos dias (viva a Internet que permite perceber a injustiça dirigida contra a escola e os professores!).
Orgulho-me de ter feito parte desta história tão bonita e, de certa forma, continuar sempre por lá, mesmo noutra escola. Posso ir matando as saudades com visitas virtuais regulares, sempre que as físicas são impossíveis.
É que, para mim (para eles? para todos os que andam por aqui?), o conceito de escola não tem a ver com o local exacto onde funcionamos no nosso dia a dia.

Talvez por isso a blogosfera "educativa" trabalhe, na partilha que a caracteriza, esta ideia de Escola que é de todos nós e não tem muros nem fronteiras (tal como o céu de José Gomes Ferreira?).

(...) O céu, ao menos, não tem muros.

E as aves não riscam fronteiras

nem põem vidros partidos nas nuvens.

A "solução da educação" tem de passar por quem vive dentro dela e lhe ausculta diariamente o bater do coração. Tudo o que não for feito dessa forma, estará condenado ao fracasso.

Não deixem de visitar este cantinho delicioso que é o

CRE da Luisinha

domingo, fevereiro 12, 2006

Troca (desigual?)

.
Em troca de um pouco de alimento e carinho...


... dão-nos música, dança, alegria e paz,

que recolhemos na janela do nosso quarto.


Recebemos muito mais do que damos...

...tal como com os alunos?


NOTA: Este comedouro está colocado na varanda do escritório, que fica ao lado do nosso quarto. Temos outro no jardim mas, quando a comida se acaba por lá, eles vêm para o de cima e enchem o trabalho e o sono de uma melodia muito especial... Na Primavera, trazem os pequeninos para os alimentar... A vida tem destas coisas.

Ao Domingo reparamos mais nelas?

sábado, fevereiro 11, 2006

Um dia mais que perfeito


Praia de Sta Cruz. Família. O dia inteiro.
O Gui. Sobrinho e afilhado. Música com mexilhões.
Risos e sorrisos, brincadeiras e doçuras.
A alma cheia de Sol e de (A)mar
Um dia mais que perfeito!

Elos e Manias 2: "É só Manias!"

Não se esqueçam de consultar o fio de teia anterior... esta é a sequência.


Depois de conferenciar com o Cara-Metade (que é quem tem de aguentar as manias mais de perto) e de muito pensar... (Tenho a mania de pensar muito nas coisas, que é como quem diz, pensar exageradamente nas coisas... de mais, portanto... por isso é que é mania... Olha! Uma mania já está! Fui desafiada duas vezes, portanto, se passar das cinco, não se admirem. Estou moralmente autorizada. Estarei?):


  • Mania de fazer listas e mais listas e mais listas... Organizo a vida com listas para não me perder nos meus próprios pensamentos, controlar a enorme vontade de desorganizar os dias e a minha tendência para o caos. Nas minhas listas podem encontrar-se as coisas mais diversas: fazer sopa, vitaminar os bonsais, tratar dos ouvidos da cadelita, borrifar as crisálidas das borboletas em hibernação (um dia explico), limpar a casa (imagine-se!), acabar os documentos para o Conselho Pedagógico, fazer materiais para o trabalho com fracções, podar as roseiras, fazer puré, levar os lixos para a reciclagem, lavar roupa, digitalizar imagens para os blogs dos miúdos, ler os textos para a oficina de Matemática. Há as listas de casa (que referi), as da escola (lançar faltas, levantar as fichas, falar com..., fotografar os alunos, reunião com, arrumar dossier...), as do supermercado e restantes compras, as listas coladas ao pé do computador, um caderninho lindo com listas de ideias giras para entradas no blog... Impossível de imaginar este meu Universo listado. Adoro deitar uma lista fora quase cumprida... mas o que não cumpro, vai para uma nova lista. Mania das listas, sim. Acho que é uma mania (ou coisas a mais para fazer ao mesmo tempo?)
  • Mania de "coleccionar para uso" material dito escolar... É impossível imaginar a quantidade de canetas, lápis, borrachas, lapiseiras, cadernos engraçados, blocos, folhas de papel, "postits"... que possuo espalhados pela casa, na mala da escola, na mochila "de sair"... Adoro uma boa papelaria, a secção de artigos deste tipo num supermercado... mania de que me falta sempre mais qualquer coisa, mesmo que só daí a muito tempo a venha a usar... Quando a mala da escola se entreabre... é comum ouvirem-se exclamações... de alunos e de colegas. Está tudo dito. Não é consumismo. É um fascínio absoluto por aquilo com que se escreve e por aquilo onde se escreve. Desde pequena. Mania (ou vício?), pois.
  • Mania de ter sempre de reserva algo que substitui o que se acaba. Sim. Funde-se a lâmpada fosforescente da cozinha e já há uma em casa. A seguir compro logo outra para ficar de reserva. Podem ser vitaminas, azeite, comida dos animais, água, fósforos, velas... não interessa. Não gosto de interrupções, deve ser isso. A continuidade das coisas é uma mania que me acompanha desde há muito. Vou pensar neste assunto. Deve ter algum significado. Por ser algo excessivo, só pode ser uma mania... Será?
  • Mania de não conseguir deixar para amanhã o que posso fazer hoje. Pergunta que mais ouço nesses acessos permanentes de querer acabar com as listas todas ao mesmo tempo: "Mas tem de ser agora? Não pode esperar por amanhã?" Não não pode! Agora, hoje, já. Neste momento. De preferência até antes de já. Mania de fazer tudo muito antes sequer de os outros pensarem no assunto. Não sei bem porquê. Terei receio de não estar cá amanhã?
  • Mania de fazer filmes completos a partir de um quase nada. Bem... Rosa Montero explica esta minha mania. Própria de quem fantasia, de quem escreve. Nem é bem mania... é condição de ser. Quando dou por mim construí uma história completa, desenhei um filme inteiro a propósito de um minúsculo grão... Imaginei um futuro inteirinho todo às cores e a três dimensões. Cá em casa ouve-se com frequência, num tom sempre carinhoso: "lá estás tu a fazer os teus filmes"... pois... deve ser mania, então. O "frequentemente" diz tudo. Será que à força de inventar futuros, quero garantir que terei um?
  • Mania de ler muitos livros ao mesmo tempo. Nem explico. Bastaria olhar para a sala, o escritório e a minha mesa de cabeceira... Olhar para as lombadas, reconhecer a enorme diversidade de temas para perceber. Perceber o quê? Eu própria não sei se percebo...
  • Mania de fazer perguntas. Mania de usar pontos de interrogação? Já perceberam, não perceberam? Acho que me assustam os pontos finais. Tenho clara tendência para uma evolução desta mania em direcção ao excessivo uso de reticências... Não vos parece?

Desenho de Fátima Pais http://mfatimapais.blogspot.com/

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Elos e Manias 1

Com o desafio recebido de OUTRÓÒLHAR, aqui estou eu a estender a cadeia "maníaca" começada por alguém... logo eu, que tenho a mania de quebrar todas as cadeias que me chegam por via do ciberespaço (por causa disso devo estar amaldiçoada por mais de 1000 vidas e ainda não consegui ficar milionária).

[Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.]

Fui desafiada em OUTRÓÒLHAR e em Memórias Soltas de Professor
Antes mesmo de expor as minhas manias, desafio já os próximos (antes que alguém os desafie...)

Deixo as minhas manias para depois... aguardem...

Quem desafio eu?
Ora bem... para além dos que me desafiaram,
para além de todos os que já foram desafiados e me apetecia desafiar,
para além de todos os que por aqui passem e se queiram deixar desafiar...
Ainda estes:

1 - Fátima - Fátima Pais (Fátima, podes escrever só duas manias e meia... perdida sem tempo como andas! Beijos aos fofos!)
2 - Elis - A(zul)Mar (5 manias)
3 - Elis - A(zul)Mar (mais 5 manias: tens direito a dez manias!!! Bónus! “Castigo doce” por gostares muito de escrever!)
4 - Miguel - Na sala de aula (fio de seda já ligado a esta outra teia)
5 - Sara - Hora de Ponta (Sara, venham de lá essas buzinadelas de teenager a caminho dos 20... sempre quero saber quais são as tuas manias agora! Só me lembro das de há 8/9 anos...)

Bem... vou trabalhar (uma mania?)

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Um dia longo

Reunião de Conselho Pedagógico.

Já é noite e gastei as palavras pelo dia...

Jaime Salazar Sampaio emprestou-me as suas, que encontrei aninhadas no livro "O Viajante Imóvel".
Eu agradeço-as. E partilho-as.
Mais não consigo.


há a música, os discos - solidão sonora.
e os riscos no papel: desenhos, palavras.
garatujas. uma vida? ... um equívoco.
em breve, o regresso ao mais alto silêncio.



até hoje, ninguém conseguiu ainda dizer coisa
que se visse, a quem quer que fosse.
nunca! porém, entre as formas conhecidas
do silêncio, a palavra continua
a disfrutar de um relativo prestígio.
escrevemos e o mundo torna-se
por instantes, habitável.

p.109



quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Primavera - 1 (Oficina de Matemática)

Há qualquer coisa de promessa de Primavera no ar.
Algumas flores antecipam-se como se tivessem medo de que esta Primavera de fim de Inverno fosse a única que vão ter. Como se receassem que a este Inverno se siga outro ainda mais rigoroso e cinzento.
A impaciência delas torna-se bela porque dá flor e fruto antes do tempo. E esse fruto também se come e sabe bem (se provassem a marmelada que fiz o ano passado com os pequenos marmelos do Japão, sa(boreariam)beriam a verdade do que digo).
Não sei se esta impaciência, este desejo de construir os dias antes de os ver chegar, é virtude, ou se é defeito.
Mas contemplo esta antecipação com a secreta esperança de que nos traga alguma sabedoria: nem sempre a esperar se alcança aquilo por que se espera. Atrevo-me a sugerir que, por vezes, mais vale florir antes de tempo do que não chegar a florir nunca.
Neste Inverno que se nos afigura prolongado, são as flores inesperadas que nos dão força para romper as trevas. Que acordam as abelhas do seu sono frio.
Não aguardem pela Primavera. Por favor.
Comecem já hoje a inventar as flores que hão-de esticar a claridade dos dias.

O meu jardim verde lá vai dando o exemplo. Haja energia para o seguir...

E na Oficina de Matemática, durante toda a tarde, muitos professores de várias escolas da região entusiasmados a construir materiais inovadores e desafiadores para os alunos, com intenção de desenvolver nestes a capacidade de resolução de problemas, exalavam, juro, um cheiro a flor com promessa de fruto.
Pensaram na palavra utopia? Na palavra milagre? Ficção?
Não. Pura realidade. (Embora até a mim, que estou lá, me custe a acreditar...).


Um dos meus marmeleiros do Japão (Chaenomeles japonica) - foto de ontem

http://en.wikipedia.org/wiki/Chaenomeles

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Baía de Setúbal



Hoje dedico este espaço à minha Baía de Setúbal. E, embora natural de outra Baía... a de Lisboa - sim, sou alfacinha, chamo-lhe minha Baía, como chamo minha a que é mesmo minha e como gosto de pensar que são nossas todas as riquezas do Património Natural e Construído, por esse mundo fora. A responsabilidade conjunta deveria fazer parte do código de honra de cidadãos do Mundo. A bem do futuro do planeta, que também é comum.


Em Novembro de 2002 a Baía de Setúbal entrou oficialmente para o "Clube das Baías Mais Belas do Mundo".
O Clube das mais belas baías do mundo foi criado em Março de 1997, em Berlim, e tem sede na cidade de Vannes, na França. O objectivo da organização é promover as belezas naturais e contribuir para a preservação das baías escolhidas. Deste clube fazem parte 30 baías em todo o mundo, das quais apenas duas na Península Ibérica.

http://www.astormentas.com/arrabida/baia.htm

Há que preservar. Esta é a melhor herança que poderemos partilhar com as gerações vindouras.
Para mais informações (e belas fotos) vão até

Setúbal na Rede - Baía de Setúbal



A riqueza desta Baía está, também, relacionada com as duas importantes áreas protegidas que abraça:

Parque Natural da Arrábida
Reserva Natural do Estuário do Sado
http://www.azeitao.net/arrabida/pna/
http://www.portugalvirtual.pt/_tourism/costadelisboa/costazul/natureza.html


Os problemas são muitos. Mas tem vindo a ser feito um esforço para os resolver e procurar preservar esta riqueza ímpar. A comunidade de golfinhos é das mais afectadas e corre sérios riscos.

http://www.nationalgeographic.pt/revista/0105/feature1/default.asp (Artigo no National Geographic... fotos líndíssimas dos "nossos" golfinhos)

Projecto Delfim - Centro Português de Estudo dos Mamíferos Marinhos

http://www.vertigemazul.com/


Podem descobrir o Barco Évora (que nos transportou nesta viajem) no endereço:
http://www.barcoevora.com/x/x.html

(Esta página ainda está em construção, mas vale a pena revisitá-la depois. Este barco é cheio de alma, desde 1931... emblemático na história dos transportes fluviais portugueses... a sua estrutura resultou da reciclagem de equipamentos bélicos utilizados na Primeira Grande Guerra... foi o primeiro navio a diesel a fazer a Travessia do Tejo nos anos 30... eleito o melhor e mais confortável... e... as minhas fotos não o homenageiam convenientemente...)

Saldo da visita de ontem: dia lindo, tempo magnífico, muita informação útil, jogos e belas paisagens.
Uma pequena decepção: os golfinhos não apareceram (de acordo com o relato do capitão, numa das últimas viagens, não só apareceram como resolveram acompanhar o barco e brincar saltando e passeando por baixo dele de um lado para o outro). Pena não ter acontecido ontem...


Paciência, ficará para a próxima!


Por entre as palavras, deixei-vos aqui uma pequena selecção das fotos que fiz ontem...
Falta nelas tudo: aragem, cheiros, movimentos...

(Mas... O que se há-de fazer? São apenas fotos... Se quiserem saber como é, façam-nos uma visita!)


Percurso feito na Visita de Estudo.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Semear...


Estou de abalada para uma visita de estudo de barco à baía de Setúbal...
Com sorte teremos golfinhos na nossa companhia. Sol já temos. Entusiasmo nos alunos, também. (Talvez amanhã belas fotos para deixar aqui presas na teia...)

Penso neste ano e admiro os Professores que se dispõem sempre, apesar do que deles se pensa, a estar com os alunos em todos estes momentos especiais que dão trabalho a preparar. Trinta e muitas turmas (todas) vão fazer este passeio, admirar o património natural e aprender como estão as empresas da região, situadas à beira rio/estuário do Sado, a laborar no respeito pelos valores ambientais (espero que o que se vá ouvir seja mais realidade do que aparência, mas, optimista como sou, disponho-me a acreditar).
Tudo preparado com empenho e carinho. Como sempre.
Porque o gosto de semear está-nos na massa da alma.
Porque todos os dias são bons para dar corpo aos sonhos.

Apetece-me aqui voltar ao
Emílio e ao Luís para recordar as frases que encerram o seu O Quê Que Quem - NOTAS DE RODAPÉ E DE CORRIMÃO :

Semear é dar o que queremos receber.

Querer é obrigar os desejos a fazer ginástica.

E não é egoísmo. As flores que nascerão são as do futuro que queremos verde, sobretudo para eles.

Há muito que "fazer", não chega só querer...

Mais palavras para quê?
Acção!


domingo, fevereiro 05, 2006

Por um lado...






Por outro...

.

Não sei se quero estragar, com uma qualquer metáfora sobre as aparências e as realidades da educação, o prazer especial que me dá contemplar esta fotografia...

Afinal, é Domingo.

(Hoje fico-me por aqui.)

sábado, fevereiro 04, 2006

Ahhhs? Só os que vêm do fundo da alma!


E ali estava eu, sentada com um grupinho de quatro, na última aula de Matemática antes do Natal, tentando explicar as regras e objectivos de um jogo difícil sobre fracções. A actividade em causa foi retirada da página do NCTM-Illuminations (Nacional Council of Teachers of Mathematics - http://www.nctm.org/) e pode ser realizada com o auxílio de um computador através da Internet, ou através de um applet que se transporta para um PC (neste caso, só com prévia aquisição do Standards, que vem munido de um CD onde se podem encontrar, entre várias coisas, as actividades disponibiliza­das na página da Internet).
Consultar
http://illuminations.nctm.org/ActivityDetail.aspx?ID=18 e
http://standards.nctm.org/document/eexamples/chap5/5.1/ .
A actividade pode, também, ser recriada através de reprodução do tabuleiro em papel (impressão e ampliação a partir da imagem no computador) e construção das cartas com fracções, para uso em pequeno grupo ou para exploração na turma.
Ali estava eu, desdobrando-me em esforços de ilustração e exemplos, porque sei que o jogo não é acessível, sobretudo a alunos que começaram há pouco a trabalhar neste universo e que ainda não abordaram a adição e subtracção de números representados sob a forma de fracção. Mas porque também sei o valor do desafio nas aulas (a que os venho habituando), o valor de colocar obstáculos adequados que, à medida que vão sendo ultrapassados, levem os alunos a interiorizar melhor o conhecimento novo, não hesito em o utilizar antes de terem todos os requisitos (aparentemente) necessários para tal. Surpreendo-me sempre quando espero mais, quando exijo mais. É um jogo que vai crescendo com eles. A apropriação não é imediata e nem todos os alunos chegam ao mesmo lugar ao mesmo tempo... mas a diferenciação não pode ser apenas para a superação das dificuldades, tem de ser igualmente orientada para o desenvolvimento, portanto, continuarei nesta via.
Ali estava eu, dizia, com o tal grupinho (perco-me no labirinto das palavras... nem pareço uma professora de Matemática) na abordagem inicial desta actividade. Terminada a primeira fase de explicação entusiasta, com mais uns exemplos que me pareceram óbvios (o óbvio devia ser uma palavra interdita), a Margarida soltou um Ahhh de quem diz contente: Já percebi!
Olhei-a nos olhos. Escutei o silêncio dos outros e, numa fracção de segundo, entre o final da expiração do Ahhh e o meu olhar, a Margarida corrigiu: Oh professora, nem sei por que é que disse Ahhh... eu ainda não percebi o jogo! (Pensei, mas não disse: eu sei porquê, Margarida, às vezes o meu entusiasmo é também muito grande. Acho que, mesmo conhecendo-me bem, receaste desapontar-me com a verdade que passo a vida a exigir-vos.) Rimos todos com gosto, não pude deixar de dizer que gostava muito deles, que aqueles momentos eram preciosos. Questionei os outros três, sabendo de antemão qual era a resposta e lá continuei a explicação por outro caminho, manipulando um tabuleiro auxiliar de fracções equivalentes em madeira, ouvindo as perguntas, respondendo às dúvidas.
O Ahhh!!! da Margarida que se seguiu a esta segunda tentativa vinha cheio dos pontos de exclamação que faltavam no primeiro. Eu já não precisava de mais nada mas, mesmo assim, ela sentiu necessidade de confirmar que aquele sim, era um Ahhh!!! como os Ahhhs devem ser. (Oh professora, agora é mesmo verdade! É um Ahhh!!! a sério. Já percebi!). Os outros estavam quase lá, mas basta um aluno entender para os deixar e passar a outro grupo... Entre eles a linguagem simplifica-se e, quando regresso, todos estão a jogar correctamente compreendendo as escolhas, tomando decisões em conjunto.

Moral da história?
Acredito que os meus alunos já aprenderam a importante lição que abre a primeira porta do compreender:

Ahhhs? Só mesmo os que vêm do fundo da alma, cheios de pontos de exclamação!!! (É fundamental perceber que ainda não se percebeu... e dar som e forma à dúvida.)


TMM
Texto publicado no Correio da Educação, CRIAP ASA, nº246, 23 de Janeiro 2006.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Figuras figuronas...

Mais um livro que casa a matemática com a literatura... E há outros casamentos duradouros em muitos livros espalhados por aí. Basta olhar (Basta querer ver?).
Hei-de voltar a este assunto com a serenidade que ele merece. Falar-vos-ei de uma pequena e modesta palestra proferida na Sociedade de Língua Portuguesa há pouco tempo. Porque me parece valer a pena pôr à vista as pontes possíveis. Para que possam ser percorridas, para cá e para lá, num movimento contínuo que polvilha de alegria e sentido a Escola (da) Vida.
A Vida é una. Fragmentá-la, para a estudar, é preciso. Mas navegar por ela toda como uma só, também. É assim que vivemos os dias.
E tal como ouvi uma vez numa canção qualquer, num qualquer filme antigo que o comando da TV cruzou por um feliz acaso (cantada e dedicada, com a respectiva linguagem gestual, pelo comovido Richard Dreyfuss ao seu filho surdo no filme):
Life is what happens to you while you're busy making other plans...
(Ou como eu recordava ter ouvido: A vida é o que nos vai acontecendo enquanto estamos ocupados a fazer planos para outras coisas...)

(E não é que acabei por ir à procura e descobrir, mesmo agora, de que filme se tratava? Mr. Holland's Opus,1995. Holland -Dreyfuss é um professor muito especial nessa película... Trailer .Terá sido por acaso que, naquele momento, pousei o comando da TV e me deixei embalar?)
.



.
Foi por um triz
que a bissectriz
corda esticada
do canto ângulo
ao infinito
.
se equilibrou
no seu lugar
sem dar um grito
e fez de um quarto
(ângulo enorme!)
.
sim, de um salão
para alugar
a quem der mais,
dois belos quartos
tal qual iguais
para habitar...
.


P.S. Ao reler o que deixei aqui não percebi se, neste fio de seda, vos quis falar de Matemática, de um livro, de poesia, de pontes, do ser Professor, de um filme de que gostei, da Escola, da Vida. Embrulho-me sempre nesta teia que ando por aqui a tecer e é para mim muito difícil falar (pensar) num fio de cada vez... Estou sempre a misturar tudo. É como sou.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Duas gavetas... e uma ponte!

Por Manuel António Pina no seu livro:

O Pequeno Livro de Desmatemática

(um livro que é, ele próprio, uma doce e divertida ponte entre a literatura e a matemática. Uso e abuso destas pontes nas aulas, sempre que possível! Lembram-se do Figuras Figuronas da Maria Alberta Menéres? Não? Qualquer dia falo-vos dele...)



A triste história do zero poeta


Numa certa conta havia
um zero dado à poesia
que tinha um sonho secreto:
fugir para o alfabeto.

Sonhava tornar-se um O
nem que fosse um dia só,
ou ainda menos: só
o tempo de dizer: “Oh!”

(Nos livros e nas selectas
o que mais o comovia
eram os “Ohs!” que os poetas
metiam nas poesias!)

Um “Oh!” lírico & profundo,
um só “Oh!” lhe bastaria
para ele dizer ao mundo
o que na alma lhe ia!

E o que na alma lhe ia!
Sonhos de glória, esperanças,
ânsias, melancolia,
recordações de criança:

além de um grande vazio
de tipo existencial
e de uma caixa que um tio
lhe pedira para guardar;

e ainda as chaves do carro
e uma máscara de entrudo...
Não tinha bolsos, coitado,
guardava na alma tudo!

A alma! Como queria
gritá-la num “Oh!” sincero!
Mas não passava de um zero
que, oh!, não se pronuncia...

Daí que andasse doente
de grave doença poética
e em estado permanente
de ansiedade alfabética

E se indignasse & etc.
contra o destino severo
que fizera dele um zero
com uma alma de letra!

Tanta ambição desmedida,
tanto sonho feito pó!
E aquele zero dava a vida
para poder dizer “Oh!”...


Manuel António Pina
Pequeno Livro de Desmatemática
Assírio e Alvim, 2001


É com este poema que muitas vezes me apresento aos alunos na primeira aula...

Acho que sou exactamente isto: um zero com alma de letra.



Para entender melhor a metáfora das gavetas (que não é minha), vão até:

O Canto do Vento

Outróòlhar