Começo por citar na íntegra uma entrada do Terrear:
Dos Quatro Departamentos...
Como se sabe a constituição de 4 Departamentos (para efeitos de avaliação de docentes) fora do âmbito do Decreto-Lei 115-A/96 é ilegal. Não é por acaso que a DGRHE não responde aos insistentes pedidos das escolas para que refiram a base legal da orientação. Assim sendo, as escolas que estão a seguir a orientação sem qualquer base legal correm o risco de ver todo o processo avaliativo impugando por decisão judicial. Basta um avaliado considerar que a acção avaliativa foi injusta e recorrer para o tribunal para ganhar a declaração de nulidade do acto.
É lamentável que tudo isto aconteça com a maior das naturalidades num Estado de Direito.
Para além das fundamentais questões de legalidade dos processos em implementação, ainda tenho dúvidas básicas como:
No MegaDep que integro, podem coexistir professores de todas as formas e feitios. Uns mais matemáticos, uns mistos (ESE Mat e CN), uns geólogos, uns químicos, uns físicos, uns economistas, uns biólogos, uns engenheiros, uns informáticos... e tudo o mais que cabe no saco das habilitações e formações profissionais adequadas a esta super área (Físico-Química, Ciências Naturais, Matemática 3º Ciclo, Ciências da Natureza e Matemática 2º Ciclo, TIC). Como é que um qualquer destes, sendo titular, tem condições para avaliar todos os outros, com rigor científico-pedagógico, em todas as outras áreas que não a sua, ou próxima? Como é que um professor coordenador de 2º ciclo analisa a dinâmica do trabalho no terceiro ao assistir a uma aula? Não havendo, por exemplo, nenhum titular de físico-química, será correcto durante anos a fio este grupo ser sempre avaliado por pessoas que desconhecem em profundidade os conteúdos trabalhados naquela disciplina, os métodos usados? Ou caminhamos para um ponto de entendimento em que nem valia a pena ter feito estágios, nem cursos, nem formação, que isto é tudo mais ou menos a mesma coisa, mais coisa, menos coisa?
Eu penso, juro que penso, quero dar o benefício da dúvida, mas não entendo.
São coisas que não há que há a entranharem-se como gripe das aves pelo sistema...
Talvez, ocorreu-me agora, seja esta uma maneira de iniciar a formação/implementação no terreno de professores generalistas capazes de avaliar tudo e todos, qualquer coisinha e até, quem sabe, fazerem uma perninha no MegaDep do lado se vier a ser preciso, por excesso de gente para avaliar e falta de titulares disponíveis para "dar uma mãozinha nas fichas". Se forem bem sucedidos na missão, poderão brevemente dar aulas de qualquer das áreas englobadas pelo reino que lhes coube em sorte (sim, se têm capacidade para avaliar quem as dá... não conseguirão um dia dá-las?). Não só o rei, como também aqueles que a sorte(?) ditar serem os seus vários braços de polvo, os que terão de ajudar na hercúlea tarefa. Os tais que ainda nenhuma lei diz como, nem de que maneira chegarão a ajudantes. Se serão voluntários à forca (desculpem, força), se podem excusar-se à aderência, (digo, adesão) à coisa (à causa).
Os professores sempre foram uma classe para toda a obra, cheia de desconhecido e infinito potencial que estica, estica, sempre mais uma competência na manga, sempre mais uma coisinha que podem fazer em nome da lei. (E tanto mal que se disse deles!)
Ocorre-me repetir aqui um poema que anda para aí perdido na teia, de um autor que me é especial (até o título da entrada repeti, embora o pretexto na altura fosse outro)...
Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
sítios que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num sítio onde só eu ia...
Livro: O pássaro da cabeça
Poema: Coisas que não há que há
Poeta: Manuel António Pina
Recordação
Há 5 anos
4 comentários:
assim vão as coisas...
;(
Pois...
"Talvez, ocorreu-me agora, seja esta uma maneira de iniciar a formação/implementação no terreno de professores generalistas ......"
Pois, 3za, esta é uma questão que há muito me aflige, mas as outras questões que (compreensivelmente) preocupam os professores e estão agora (finalmente) a originar mobilização não deixam de abafar esta, de fazê-la passar mais despercebida. E o 2º Ciclo irá ser visto apenas como um 1º Ciclo mais longo, e a gravidade disso merecerá poucas atenções... :(
Tens toda a razão...
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