Há horas a avaliar planos de trabalho (os PT2, que o PT1 foi o mesmo calvário e já estamos a entrar no PT3... avaliando aluno a aluno, aprendizagem a aprendizagem sem fim à vista). Nada que acrescente nada ao que já fiz com eles, ao que já lhes disse, oralmente e por escrito em múltiplos feedbacks, ao que procurámos trabalhar para recuperar as dificuldades... Nada que acrescente nada ao que fazemos diariamente, mesmo em condições adversas com demasiados alunos por turma (tantos a precisar de tanta atenção) e muito reduzidos e dispersos tempos juntos, em busca de uma diferenciação séria e aprofundada, que obviamente nunca será o que deveria ser por mais decretos a dizer que sim. Ainda nem uma turma acabei e faltam-me mais três (nem tento imaginar como será para professores com mais turmas). Um tempo desperdiçado em que devia/podia estar a estudar para eles, a preparar materiais para eles, a pensar em melhores formas de estar e fazer com eles... Como se os papéis existissem apenas para provar alguma coisa (coisa que nunca precisei de provar e que sempre fiz... melhor e com mais condições do que agora). Não falo sequer já da insustentabilidade do processo, num tempo em que poupar e reduzir custos/papel seria obrigatório (fala-se tanto de sustentabilidade, mas depois...), mas falo da desesperança de ver a escola cada vez mais reduzida a burocracias sem sentido. Do tempo gasto nas aulas a distribuir e recolher papéis, a pedir-lhes que preencham os mesmos papéis que depois passam para mim (e a seguir são arquivados). Desenvolver competências neles devia ser outra coisa... e preferia gastar o meu tempo conversando com eles, já que poucos têm adultos que o façam. É normal cometer erros quando decidimos fazer experiências por não se prever o que isso representará na prática, mas é loucura insistir e persistir neles quando se percebe que assim não vamos lá. Sempre flexibilizei, sempre diferenciei, junto de cada um deles, sem precisar de mil papéis para provar que o faço. Pior: é possível ter os papéis todos em ordem e nem sequer fazer o que deve ser feito. No entretanto, esgotamo-nos com o acessório e falta a energia e o tempo para o essencial.
Sou fruto de um sistema que me ensinou a ser crítica fundamentando as minhas observações e parece que o perfil dos alunos deseja essa competência desenvolvida nos alunos, nos cidadãos... será? Confesso um cansaço extremo causado pela inutilidade de muitos (demasiados) gestos na educação e na escola, Como se sempre tivesse sido má professora e só agora é que estamos a fazer coisas bem feitas. Triste.
Ali ao lado, na cabeceira, um livro para reler que aguarda, aguarda, com a natural paciência dos livros. Era com ele que eu devia estar agora.
"«Há sempre a criança que pergunta: como se faz para inventar
histórias?, e merece uma resposta honesta. Aqui fala-se de alguns modos
de inventar histórias para crianças e de ajudar as crianças a
inventarem sozinhas as suas histórias. Espero que este livro possa ser
útil a quem acredita na necessidade de a imaginação ter o seu lugar na
educação; a quem tem confiança na criatividade infantil, a quem sabe o
valor de libertação que pode ter a palavra. 'Todos os usos da palavra a todos' parece-me um bom lema de belo som democrático. Não para que todos sejam artistas, mas para que ninguém seja escravo.»"Gianni Rodari
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