Texto que escrevi para o boletim mensal da escola - "7 partilhas"
É um erro
acreditar que um projeto pode ser construído sem uma base sólida de conhecimento
(aprendizagens essenciais). Se o aluno ainda soletra quando lê, como pode
compreender o texto de uma pesquisa ou interpretá-la e compreendê-la? Se não
desenvolveu o sentido do número e se engana na utilização de algoritmos,
aceitando que numa subtração o resultado pode ser superior ao aditivo; se não
sabe dividir ou multiplicar, se não domina conhecimentos básicos de organização
e tratamento de dados (OTD), como pode calcular uma frequência relativa (sob a
forma de numeral decimal ou percentagem), uma média, ou interpretar os
resultados num gráfico? Só em algumas situações (na faixa
etária do 5.º e 6.º anos, onde muitos conhecimentos básicos e estruturais não
estão ainda desenvolvidos e consolidados) será possível fazer aquisições
durante a realização dos projetos e, ainda assim, consumindo muito mais tempo
do que o disponível para toda a lista de aprendizagens essenciais previstas.
Vem isto a
propósito de um pequeno projeto em desenvolvimento nas turmas C e D do 5.º ano.
Vai ser necessário contabilizar o número de embalagens de plástico utilizadas,
semanalmente, nos lanches feitos na escola, elaborar gráficos individuais à
mão; fazer pequenos relatórios semanais sobre o tipo de alimentos embalados
consumidos, refletir sobre a qualidade e adequação dos lanches e pensar em substituições
possíveis, simultaneamente mais sustentáveis para o ambiente e mais saudáveis
para a saúde. Posteriormente, os alunos poderão compreender como as ferramentas
tecnológicas (folha de cálculo, processamento de texto, ...) podem agilizar a
construção de um gráfico, a realização de cálculos, ou a elaboração, revisão, correção
e enriquecimento de um texto. Podem ser convocadas, para um trabalho como este,
as disciplinas de matemática (OTD), de cidadania e ciências (desenvolvimento
sustentável, ambiente, saúde), TIC (folha de cálculo, processamento de texto),
EV (conceção dos documentos de registo e apresentação) e português (escrita de
relatórios reflexivos). Não se admirem, portanto, se entrarem numa aula de
matemática (oficina) e os alunos estiverem a fazer exercícios práticos, ou a
resolver problemas diversos da unidade OTD, em vez de andarem às voltas apenas
com as tarefas mais diretamente relacionadas com o projeto. O tempo é pouco,
desaparece em cada aula muito rapidamente e é preciso rentabilizá-lo.
As crianças
necessitam de compreender como o conhecimento adquirido pode ser aplicado em
contextos reais com interesse para o seu desenvolvimento. Para isso, precisam
de compreender também os conceitos e, sobretudo, que qualquer trabalho exige
empenho, disciplina, autocontrolo e dedicação. Na vida, um dia, vão perceber que
nem tudo é uma brincadeira e diversão, que pode ser um prazer trabalhar muito
para obter bons resultados e que nada que valha a pena acontece sem esforço.
Quanto melhor a escola souber ajudá-los a compreender esse equilíbrio, mais
sucesso terão como cidadãos. Não, não me refiro ao sucesso imediato de uma “boa
avaliação” ou “transição”, mas sim à resiliência à frustração, à persistência
no trabalho e ao necessário sacrifício útil de tempo, sempre presentes no
desenvolvimento de um trabalho de rigor e excelência, seja ele qual for, na
escola e na vida.