Nada sei sobre os alunos a não ser o que me foi dito.
Escutamos atentamente, moldamos as expectativas, criamos receios, suspiramos aflitos (raramente aliviados) com o que aí vem... E depois?
Confesso que tomo nota de tudo, tudo fica escrito, tudo fica apontado. Que mentalmente, e na preparação do arranque do ano letivo, procuro repensar estratégias para poder ir devidamente preparada ao encontro do que me espera. Mas depois esqueço as informações de natureza individual. Impossível chegar a cada turma com todas as descrições e avisos presentes na mente (este ano com mais de 100 alunos - e sou das privilegiadas por lecionar uma disciplina com forte carga semanal).
Mas não esqueço apenas devido à natureza frágil da memória e do número elevado de alunos. Obrigo-me a esquecer.
O que é claramente uma desvantagem grande (não ter preparado os alunos previamente e não os conhecer) pode ser transformado numa enorme vantagem. Algo que acontece normalmente no 5.º ano, mas nunca no 6.º, em que os alunos sabem que eu sei (?) quem eles são e o que esperar deles (o que também não é verdade, porque me abro sempre à possibilidade de mudança e consigo não criar expectativas que moldem irreversivelmente o trabaho em cada ano).
Os alunos que vou encontrar, a partir de amanhã, sabem que não os conheço e não me conhecem a mim. Têm uma oportunidade única de renascer... de mudar. Eles e eu com eles. As oportunidades são sempre feitas de dois sentidos.
Portanto, quando amanhã entrar na sala de aula para nos conhecermos pela primeira vez, não quero saber das repetências triplas, de alunos com 14 anos no segundo ciclo, dos alunos que faltaram muito, dos que passaram a vida a sair da sala de aula e a provocar colegas e professores, dos que não falam, dos que falam muito, dos que têm medo, dos que têm famílias muito complicadas, dos que têm toda a sorte de problemas, dos que aparentemente não têm problema nenhum, dos que estão no quadro de mérito... e digo-lhes isso na primeira aula: não sei quem vocês são e aguardo que me mostrem o que querem ser este ano. Têm a oportunidade de fazer diferente desta vez, ou manterem o que tem corrido bem.
As primeiras aulas são fundamentais. Não me apresso... combinam-se regras, conversamos sobre as suas/minhas expectativas, sobre quem somos e do que mais gostamos, sobre cooperação, sobre respeito, sobre uma avaliação que estará entranhada no trabalho e servirá para nos ajudar a traçar o rumo e a resolver problemas. Preparamos calmamente o trabalho, decidimos em conjunto o que fazer, como nos organizar, explico o que vai ser diferente, o que posso oferecer. Aviso que sou muito exigente, que puxo por eles até ao limite, mas prometo tentar fazer da disciplina de matemática a sua preferida. Deixo-os acreditar ou não acreditar em mim.
A seu tempo perceberão que lhes digo a verdade e que lhes falo com o coração.
A seu tempo descobrirão que lhes concedo o direito a renascer e o direito à mudança. Ajudá-los-ei nesse caminho, mas preciso de os convencer primeiro que serão eles os principais agentes, a força motriz, o combustível da sua própia mudança, do seu crescimento, para não desperdiçarem essa oportunidade de renascer...
Leva sempre tempo, mas quando temos sucesso o que recebemos é sempre muito mais do que o que lhes demos.
Meninas e meninos, estou a caminho!
Porque a mudança não é apenas uma palavra... somos nós que a construímos e a forçamos a acontecer. Temos de lutar por ela ativamente. E a educação neste país, acredito (tenho de acreditar), renascerá um dia conduzida com (verdadeiro) rigor e inteligência, aproximando-se dos melhores padrões mundiais de sucesso educativo... aquele feito de aprendizagem consistente que consegue mudar os destinos de um país.
6 comentários:
Subscrevo tudo o que escreveste.
Votos de excelente ano lectivo, Tza!
3za! ;)
Bom regresso à escola!
Meninas e meninos, atenção, ela vai a caminho!
Bjinho
P
Obrigada, Anabela! Um excelente ano letivo para ti também! :)
Paizão... obrigada! :) E tudo recomeça! Beijinhos
De regresso à escola e à Teia! :)))
Tu ainda tomas nota das informações sobre alunos que ainda não conheces, embora para as esquecer. Eu nem tomava nota, excepto de algum problema de saúde... Eu só acrescentaria, a "direito a renascer e direito à mudança", o direito a que os professores não comecem com expectativas negativas sobre eles. Por estas e outras coisas, fazias muita falta aqui na Teia (como vais fazer falta na dinamização do Scratch, é verdade...).
Um excelente ano (apesar de tudo), 3zinha!
(Se conseguir enviar o comentário, o que não estou a conseguir)
Obrigada, Isabelinha!
Beijinhos
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