Foi a Cristina Taquelim que ma pediu. Antes de Setembro de 2010. O António estaria nas Andarilhas em Beja e queriam homenageá-lo. Esta senhora linda sempre cheia de boas ideias convidou muitos escritores e amigos a escrever-lhe. Foi publicado um livro com algumas das cartas, as restantes ficaram expostas. Não sei se a minha ficou dentro ou fora da publicação. Não era importante. O importante é que a tenha recebido e lido...
Neste dia 3 divulgo-a finalmente com este entendimento: é do António a carta, sim. Mas é também de todos os escritores que aprendemos a amar ao longo dos anos, porque escrevem muito bem, porque fazem magia com as palavras e não porque escrevem para crianças. Como dizia António Pina:
eu nem sei o que é uma criança...
Caro António
Pego na caneta pela fresca, à beira do meu jardim aqui para os lados de Azeitão, para te escrever umas palavras simples. Penso nas razões para o fazer e não consigo decidir-me. Sim... temos alguns amigos em comum: o Luís Mendonça, o Emílio Remelhe, especialmente a Helena e o Fábio (que falava de ti com um orgulho imenso e conseguiu trazer-te até nós numa manhã mágica, em que até o nosso menino autista se juntou à turma para te saudar com uma canção). Sim... sou professora, amo os livros, sou aprendiz de escritora e até partilhei contigo, nessa manhã, alguns escritos fechados em livros que te dediquei.
Mas nada disso me bate agora à porta como pretexto para uma carta onde queria deixar palavras doces com asas, que te fizessem sorrir e perceber o tamanho que tem a tua presença nas nossas vidas. E se alguém sabe da importância das palavras és tu. Vives mergulhado nelas a pensar quais escolhes e quais casas antes de nos escreveres com elas as tuas cartas feitas histórias e poemas no envelope dos livros, com selos de todas as cores que te fazem chegar a todas as partes do mundo.
Talvez seja isso. Mereces assim uma espécie de carta-resposta às cartas que já nos escreveste (ai tantas!) e continuas a escrever todos os dias. É assim para teres a certeza, naqueles momentos em que a dúvida nos pinta de pedras o caminho, que recebemos todas as tuas notícias, que escutamos todos os teus segredos, que não nos esquecemos de ti. És o Amigo distante que nos envia flores sempre que precisamos delas. Flores sempre diferentes que nos fazem sentir maiores, sonhar coisas especiais e ganhar o alento necessário para perseguir os sonhos (mesmo que seja no fim do mundo, seja lá onde isso for).
É esse o teu exemplo, António, essa a razão desta carta. Ofereces-nos generosamente, carinhosamente, persistentemente a tua vida em forma de palavras de ternura. Nem que estivesse aqui a escrever-te cartas até ao fim dos meus dias, conseguiria que elas, as palavras, dissessem tudo o que me apetece dizer.
Em vez disso, deixo-te duas apenas:
Obrigada
Abraço