Uma turma difícil por muitas razões de que não me apetece falar agora.
Só a cabeça de quem nada sabe sobre pessoas e salas de aulas (demasiado) cheias delas, é que acredita que ensinar é per_correr a correr centenas de metas e que aprender acontece porque o professor quer e manda. Aprender, compreender, amar..., como tanta coisa na vida, não é verbo que se possa conjugar no imperativo. A disponibilidade e desejo nem sempre estão lá (muito menos em simultâneo para 30 cabeças)... frequentemente não estão lá em grande parte do tempo e o percurso é complexo, muito complexo. Mas é impossível explicar isto a quem se esconde atrás de gabinetes e papéis e finge acreditar que trabalha para o bem da escola.
Depois de muitas negativas num teste de resolução de problemas com números racionais, resolvi formar grupos para a correção tentando, mais uma vez, encontrar solução para o facto de ter de lidar com turmas de 30 sem tempo de qualidade para cada Pessoa a meu cargo durante blocos de 90 minutos... alunos do ensino especial, repetentes, crianças que transitaram mas reprovadas a matemática no ano anterior, outras com vidas complicadas, profundamente desmotivadas e pouco disponíveis para aprender.
Circulando pelos grupos, numa tentativa de interagir de forma mais próxima com eles, dou com o B choroso e duas meninas de olhos vermelhos (grupo de 5). Este menino costuma ser dos que necessitam de ver regularmente contida a sua exuberância desorganizada e despropositada. Naturalmente, achei estranho e perguntei o que se passava, se era algo que ele queria partilhar comigo, ou que eu pudesse ajudar a resolver. As lágrimas começaram a correr-lhe pela cara. Uma das meninas perguntou-lhe: posso contar à professora o que se passa? Ele, sempre em silêncio, disse que sim com a cabeça. Sabe, professora, a Avó dele está com Alzeimer e agora não o reconhece. Enquanto me explicava isto, a F também tinha lágrimas nos olhos. Ao lado dele a M começa a chorar e diz-me: Desculpe, professora, lembrei-me da minha Avó que já morreu e foi a mesma coisa...
Comovi-me, fiz uma festinha na cabeça do B.
Balbuciei umas palavras de consolo, que lhe desse muitos beijinhos e miminhos, que a abraçasse, que ela era a mesma Avó, mas que estava fechadinha dentro dela e não conseguia comunicar com ele, que era bom ele tentar que a sua cabecinha se concentrasse também noutras coisas boas e até no trabalho, para poder estar forte e ajudar a famíla neste tempo difícil.
Ensinar matemática não é só...
ilustração: Gabriel Pacheco
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Há 6 anos