Se a causa da aparente melhoria de resultados de alunos do 4.º ano assenta nas origens desta mudança que aconteceu a partir de 2002, e não de 2007, nunca saberemos. (Esta falta de hábito de avaliação de tanta reforma é difícil de mudar...).
Nuno Crato foi um dos mais públicos críticos daquela mudança. Quem leu o seu livro, O "Eduquês" em Discurso Directo - Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista 2006, conhece bem a sua opinião. Nesse livro o TIMSS era o argumento para ilustrar o insucesso português na disciplina de matemática: Portugal nos últimos lugares... vaticinando-se a catástrofe nos resultados vindouros associada à entrada em vigor do Currículo Nacional. Está assim justificada a ação recente de eliminação dos vestígios desse passado. Era previsível.
Mas alguma coisa aconteceu e os resultados aparentemente melhoraram...
Quem sabe uma alimentação mais vitaminada desde essa altura? Qualquer coisa pode servir de conjectura na ausência de evidência e estudo. Eu própria tenho dificuldade em acreditar que muitos professores tenham levado em conta todas as orientações do Currículo Nacional de modo aprofundado, pelo menos os que não foram envolvidos no Programa de Formação contínua para professores do 1.º e 2.º ciclos - mat e port., a partir de 2005, mas confio mais nos professores do que nos políticos e sei que sempre deram o melhor de si, independentemente das reformas e das formações.
Valeria a pena perceber o que se alterou (e levou à melhoria de resultados no TIMSS em 2011 - alunos de 9 anos) antes de mudar tudo outra vez apenas porque a tutela muda, os contextos mudam e cada um que lá chega tem as suas convições pessoais/educativas/políticas/económicas.
Perdeu-se mais uma oportunidade de compreender o caminho feito até aqui.
Eles (governos) passarão, nós continuaremos aqui. É confuso todo este percurso? É. Muito.
Difícil voltar a confiar em qualquer tutela e nas arbitrárias mudanças sempre mal explicadas e fundamentadas. E é profundamente negativo para a educação que este seja, desde há muito, o sentimento geral que se apodera de nós. Como trabalhar em conjunto com pares para um desígnio comum, sem acreditar que o que fazemos hoje marcará a diferença amanhã e sabendo que nada será tido em conta ou se constituirá objeto de avaliação?
Eu continuarei a proteger os alunos destas convulsões e a trabalhar seriamente sustentando a ação naquilo que, na minha prática de quase 30 anos (sempre em atualização), tem produzido bons resultados educativos com os alunos.
Sim, é preciso ler, estudar, aprender com os melhores exemplos (Ontário é uma boa referência), refletir sobre a prática, avaliar... agir.
Mas de forma sustentada.
Vamos então à cronologia dos factos:
1990/1991
Alteração do Programa de Matemática para o ensino básico, (1990 para o 1.º ciclo e 1991 para o 2.º e 3.º ciclos)
2001
Decreto-Lei 6/2001 -
Define os princípios orientadores da organização e da gestão curricular do ensino básico e da avaliação das aprendizagens (Revogado pelo Decreto-Lei n.º 139/2012).
2002
Currículo Nacional (2002) - nova abordagem ao currículo da disciplina de matemática
que coexistiu com o programa de 90/91, embora este (2002) se tenha tornado a referência do trabalho dos professores nas escolas.
2005
Inicia-se o Programa de Formação Contínua de matemática (e língua portuguesa) para professores do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico que funcionou até 2010/2011, sendo interrompido sem explicação no ano letivo 2011/2012. Este programa, dirigido por instituições de ensino superior, abrangeu muitos milhares de professores e seus alunos em todo o país (fui formadora em 2009/2010 na ESE/IPS e sei bem da exigência desta formação: os professores estavam em formação um ano inteiro com seminários regulares, aulas acompanhadas, apresentação de trabalhos e de portefólio final.
"...A Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE/IPS), a par de outras instituições do ensino superior, foi confrontada com o desafio de equacionar e desenvolver uma proposta de formação em contexto e com uma forte componente de reflexão sobre a prática. Esta formação, enquadrada por orientações definidas a nível nacional por uma Comissão de Acompanhamento, deveria focar-se na área da Matemática e sua didáctica e tinha como público-alvo professores do 1.º ciclo que leccionavam turmas dos 3.º e 4.º anos de escolaridade (...) Em 2006/2007 o Programa de Formação Contínua em Matemática da ESE/IPS foi alargado ao 2.º ciclo e, também, a professores do 1.º ciclo que leccionavam o 1.º e 2.º anos de escolaridade.
“Embora tendo presentes todos os objectivos definidos pela Comissão de Acompanhamento, assumimos os dois primeiros como fundamentais: (a) Promover o aprofundamento do conhecimento matemático, didáctico e curricular dos professores do 1º ciclo; (b) Favorecer a realização de experiências de desenvolvimento curricular em Matemática que contemplem a planificação de aulas, a sua condução e a reflexão. (…) Foi também assumido pela equipa como objectivo, a criação de um clima de confiança e colaboração entre o formador e o formando tanto nas sessões de formação como nas de acompanhamento em sala de aula”. (pp. 5-6)"
2005/2006
Plano de Ação da Matemática e Plano da Matemática II (até 2011/2012 - interrompido em 2012/2013)
Estratégias/financiamento para melhoria dos resultados do ensino da matemática.
2007
Reajustamento ao Programa de matemática -(não se tratava de um programa novo!)
"... O presente documento constitui um reajustamento do Programa de Matemática para o ensino básico,
datado do início dos anos noventa (1990 para o 1.º ciclo e 1991 para o 2.º e 3.º ciclos), desde há muito
que necessitava de ser revisto. A publicação, em 2001, do Currículo Nacional do Ensino Básico que
introduziu modificações curriculares importantes em relação àquele programa - em particular nas
finalidades e objectivos de aprendizagem, valorizando a noção de competência matemática, e na forma como apresenta os temas matemáticos a abordar - o desenvolvimento do conhecimento sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática nos últimos quinze anos, e, a necessidade de melhorar a articulação entre os programas dos três ciclos são algumas das razões que justificavam a sua revisão..."
2009/1010
Documentos de trabalho das Antigas Metas de Aprendizagem (2009/2010) (? ainda no mesmo cliclo governativo mas com nova ministra da educação - Isabel Alçada ... não resistem a mudar nem que seja uma coisinha qualquer. O reajustamento de 2007 continuava em vigor.)
2011
Despacho n.º 17169/2011, de 23 de dezembro - Revoga o documento Currículo Nacional do Ensino Básico - Competências Essenciais, divulgado em 2002. [PDF]
Alunos do 4.º ano apresentam melhoria de resultados na matemática em teste internacional
2012/2013
Decreto-Lei n.º 139/2012 - revoga o Decreto-Lei 6/2001 ... Estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão dos currículos dos ensinos básico e secundário (revoga os decretos-lei n.º 6/2001 e n.º 74/2004)
Homologação das Metas curriculares
Despacho n.º 5165-A/2013 - Revogação do reajustamento ao Programa de matemática de 2007
Proposta de novo programa de matemática
"...Este programa substituirá progressivamente o anterior. A sua implementação acompanhará, ano a ano, o calendário estabelecido para a implementação das metas curriculares. O antigo programa continuará a servir como documento de apoio nos anos para os quais as metas não são ainda obrigatórias..."
Cenas dos próximos capítulos?
Quem saberá?
Tudo dependerá, como sempre, dos ciclos políticos e nunca se fará qualquer tipo de avaliação para se perceber reais efeitos das inovações e equacionar mudanças devidamente fundamentadas.
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Descubram as diferenças (nos percursos e recursos) com um dos países sempre no topo dos testes internacionais AQUI. Ontário - Canadá
FAQ (site)
- What is the role of the Ministry of Education in curriculum development?
- What are curriculum documents?
- What are policy and resource documents?
- How often are curriculum documents revised? What is the review process?In 2003, the Ministry of Education established a schedule for ongoing curriculum review. Each year, a number of subject areas enter the review process, to ensure they are kept current, relevant and age-appropriate. The current review cycle will be completed in 2012.
Reviews are conducted with great care. Comprehensive information-gathering includes:
- Studying research in the subject area
- Comparison with other jurisdictions
- Focus groups comprised of educators from all Ontario school boards
- Technical content analysis conducted by subject experts
- Consultations with stakeholders including:
- Minister's Advisory Council on Special Education
- Faculties of Education
- Employers
- Parents
- Students
- Universities, colleges
- Other branches of the Ministry of Education
- Other ministries
- NGOs (Non-Governmental Organizations).
Further stages of review to finalize the curriculum include:
- Feedback consultation on the draft curriculum from educators and stakeholders
- Overall fact-check for accuracy and subject integrity
- Expert checks to ensure alignment with government policies and frameworks such as environmental education, First Nation, Métis and Inuit Policy Framework and equity and inclusive education strategy
- Publishing processes including editing
- Approvals processes
- What is the status of recently revised curricula?
- What curricula are currently in the review cycle?
- What is the Curriculum Council?
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