Tudo começa com sonhos.
Sonhos teimosos.
Agora, devagarinho, entramos cada vez mais nas salas de aula, com
a ajuda dos professores que se vão rendendo à alegria de ver os seus alunos criar, produzir, pensar, refletir, crescer através do uso de tecnologias entrelaçadas com humanos gestos, humana mediação, ao serviço da invenção, da produção de conteúdos. Quando vemos crianças nos primeiros anos a usar o X e o Y para se localizarem no espaço, crianças do pré-escolar a desejarem escrever para animar as suas próprias histórias, a desejarem ler para compreender as instruções que lhes permitirão dar voz a projetos seus, compreendemos que há ferramentas que nos levam mais longe no conhecimento (mais cedo e mais depressa). Em vez de as "treinar" apenas no consumo de jogos, que tal ensiná-las a criar os seus próprios jogos e animações?
Não abdiquemos da exigência.
As tecnologias podem estar ao serviço dela e não do oposto.
No 9.º ano já não precisam?
Engraçada, superficial e leviana afirmação.
Escuto testemunhos de professores universitários:
os alunos sabem tão pouco. Uma complicação usar um editor de desenho, uma drama definir itinerários ou observar/interpretar estruturas com o
google maps ou com o
google earth...
Skype? Ah... nunca usei (aconteceu-me há pouco com uma aluna - no contexto de uma cadeira de tecnologias na educação - que queria entrevistar-me e se preparava para uma deslocação física sem sentido). Questionam-se alunos-futuros professores:
como usarias a tecnologia nas tuas salas de aula? Conheces ferramentas? Ah... levava uns jogos educativos e powerpoints...
Sabem muito sim. Telemóveis, jogos, escutar música. Usar o computador como máquina de escrever... e mal. Pesquisar... sem critério. Muitas vezes, sequer anexar um ficheiro numa mensagem de correio electrónico. Arriscar-se sem consciência. Desrespeitar direitos de autor. Copiar. Deixar numa identidade digital, inconscientemente desenhada, vestígios de uma reputação duvidosa que, no futuro, regressará como
boomerang penalizador de percursos pessoais e profissionais. Divertir-se mais do que aprender, sem tirar todo o partido possível dessa ferramenta que só vale a pena se a alma não for pequena. Porque são pessoas que as utilizam, são as pessoas que definem os modos. A tecnologia é inerte.
Sabem muito sim. Na maioria das vezes não sabem o que deveriam saber.
Consumir, consumir, consumir. E criar?
Talvez valha mais a pena refletir sobre o currículo atual das TIC no ensino básico/secundário e enriquecê-lo de tempo e conteúdos para o tornar ainda mais exigente no que se refere ao conhecimento/utilização de ferramentas de produção, à importancia do rigor nessa produção (partilhada com o mundo e imagem de nós), ao desenvolvimento do sentido crítico relativamente ao universo digital em que vivem afogados, ao desenvolvimento de uma ética de utilização social que se entranhe, como se fizesse parte natural de cada um, e (n)os torne dignos da designação "digital natives"... em todos os sentidos.
E sem dúvida que puxaria a brasa à "nossa sardinha": aprender a programar, conhecer os bastidores de tudo o que utilizam (
e o Scratch é uma boa porta de entrada) deveria ser uma meta fundamental desde muito cedo no ensino básico.
Acabar com as TIC...?
Uma sentença de morte no desenvolvimento e no futuro.
Um retrocesso colossal (para usar palavras em voga).
*Foto minha (ESE/IPS) editada com AdobePhotoshop textura aqui)