sexta-feira, maio 19, 2006

PEE, PCE, PAE, PCT: Do vazio das siglas........ à acção possível (2)

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Não se iludam com tudo o que forem encontrando por aqui.
Impus-me algum dever de sistematização, mas não perco de vista o que é essencial: a Escola, a sua cultura muito própria, a sua forma especial de respirar, "apesar" dos papéis que ambicionam orientar a sua acção.
Eu sei que não são os papéis. Nunca foram. Já ando há anos suficientes "nesta vida" para não acreditar no suave milagre das palavras escritas e arrumadas dentro de gavetas.

Por isso ainda sonho com o sermos capazes de um sonho. Um sonho que se pudesse capturar num papel muito simples. Como se fosse um poema que todos conseguissem ler e que se levasse bem no coração, no bolso e na memória. Isso seria um Projecto Educativo comprometedor da acção, por se reduzir à essência e se despojar de tudo o que fosse ambíguo, desnecessário, cansativo.
Um projecto Educativo que fosse assim uma espécie de pássaro azul (Maria Rosa Colaço sabia: o amor é um pássaro azul... e o filme perdido pelo passado com a Shirley Temple, também sabe da magia de que falo nessa busca pelo pássaro azul da felicidade). Deixo-vos, no final, uma imagem do que poderia ser esta libertação pela entrega a um sonho... Para que não seja só o cinzento a pairar nos vossos olhos. Não seria a minha teia sem esse mimo final que oferecesse algum repouso ao olhar e à alma na porta de saída.)

O PEE como sonho. O PCE como orquestrador da prática.
E aqui volta a querer-se o bom senso, a adequação às intenções, a coerência clara e límpida do que é verdadeiramente essencial e promove a mudança que se sonha.
Por mais guiões, textos de apoio, livros lidos que se acumulem à nossa frente... não querer equivale ao cumprimento frio das obrigações incontornáveis e ao desleixo das que ficam no limbo do não observável, do não avaliável.
Equivale a nada.

Por isso, o que se segue, nada será sem esse querer conjunto, o mais alargado possível. Esse comprometimento envolvido, sem o qual a acção nunca passará de acumulação de retalhos em manta que nem sequer ficará bonita.

Podem dizer-me que os tempos não ajudam. Concordo (há dias em que me apetece, até a mim, mudar de profissão, de direcção...). Podem dizer que tudo tem sido feito para nos recolocar no casulo de um isolamento triste e revoltado que não produz sinais de esperança ou luta. Concordo, mas aí tento, como posso, pôr a nossa voz no mundo. Dar nome ao melhor que vamos fazendo. Vejo muitos a fazê-lo. É uma força que nos damos uns aos outros.
Desistir não pode ser verbo colado às mãos dos professores.
Se houver realmente uma hipótese de conquistar alguma autonomia, uma pequenina hípótese que seja, então temos de a agarrar com unhas e dentes. Transformar papéis estéreis em vontades claras e tão bem argumentadas que obriguem os outros a ver o que nós vemos.
Mas temos de ver alguma coisa... todos... (pelo menos a maioria).
Ou definharemos.

Posto isto, fica claro que o que se segue é muito menos do que nós somos. Do que a escola pode e devia ser.
Tal como foi dito nos comentários à última entrada... realmente as escolas são obrigadas a fazer aquilo que quem tutela não faz nem apresenta: um Projecto Educativo, uma visão pensada e reflectida, com todos os parceiros, para a Educação no nosso país. (Este é outro sonho).



Como construir um Projecto Curricular de Escola?(Adaptado de Roldão, 1999)


GUIÃO PARA PROJECTO CURRICULAR DE ESCOLA (M. C. Roldão)

1. Definição clara da ambição estratégica que estrutura o projecto (em ter­mos da especificidade da oferta face à população).
1.1. Que pretende a escola alterar no período do projecto?
1.2. Em que direcção e em que campos vai investir especialmente?
2. Indicação clara de algumas opções e prioridades curriculares (2/3) tradu­zíveis em melhoria das aprendizagens (cognitivas, sociais, metodológicas, etc.).
3. Explicitação das aprendizagens específicas que esta escola pretende integrar no currículo nacional.
4. Indicação clara da concretização de estratégias previstas – Como vão fazer?
4.1. a nível da escola e das aulas, no plano curricular;
4.2. a nível organizativo/funcionamento;
4.3. a nível dos espaços e dos tempos;
4.4. a nível do trabalho conjunto dos professores;
4.5. a nível de formação – interna e externa.
5. Previsão de resultados esperados em termos de melhoria da aprendiza­gem dos alunos.
6. Previsão/explicitação dos mecanismos de avaliação/verificação/controlo:
7. dos processos desenvolvidos;
6.2. dos resultados da aprendizagem;
6.3. das práticas dos docentes.

7. Calendarização de tempos e modos de apreciação e reformulação do desenvolvimento do projecto – previsão dos intervenientes.

g e s t ã o c u r r i c u l a r
F u n d a m e n t o s e P r á t i c a s

Maria do Céu Roldão


Outro Guião
Proposto no Fórum do DEB aquando do início da reorganização curricular (secção das perguntas mais frequentes)

Objectivo do PCE - Adequar o Currículo NAcional À EScola (definição das prioridades curriculares), sendo o suporte para a elaboração dos PCT's
Responsabilidade - Do Conselho Pedagógico
Conteúdo:


OPÇÕES CURRICULARES

  • Distribuição da carga lectiva;
  • Organização das aulas/blocos;
  • Especificações sobre o desdobramento de aulas e o seu regime de funcionamento;
  • Orientações sobre a atribuição, ou não, do meio bloco (a decidir pela escola);
  • Actividades de enriquecimento curricular aprovadas, objectivos e regime de funcionamento;
  • Orientações para alunos com necessidades educativas especiais;
  • Orientações para apoios e actividades de recuperação.
  • Orientações para actividades de recuperação (apoio, sala de estudo, tutoria)

ORIENTAÇÕES PARA O PLANO DE OCUPAÇÃO (acrescentei esta)

CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO LECTIVO, INCLUINDO A DEFINIÇÃO DO PERFIL DO DIRECTOR DE TURMA E DOS PROFESSORES PARA AS ÁREAS CURRICULARES NÃO DISCIPLINARES

ARTICULAÇÃO DAS COMPETEÊNCIAS ESSENCIAIS POR CICLO E POR ANO COM OS RESPECTIVOS CONTEÚDOS DISCIPLINARES (PROGRAMAS/ORIENTAÇÕES CURRICULARES) INCLUINDO AS ESTAPAS E METAS ATINGIR

ORIENTAÇÕES PARA AS ÁREAS CURRICULARES NÃO DISCIPLINARES (NAC) E PARA AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO GERAIS, POR DISCIPLINA E PARA AS NAC'S E TIC

ORIENTAÇÕES PARA APLICAÇÃO DO Despacho Normativo n.º 50/2005 (acrescentei esta)


Se é mais fácil assim? Nem por isso.

Por tudo o que já disse...

Mas se deixarmos um pássaro azul acompanhar-nos na viagem... Há uma luz possível.

4 comentários:

Teresa Lobato disse...

O teu pássaro é azul, 3za, o da Maria Rosa Colaço é verde: "O amor é um pássaro verde, num campo azul, no alto da madrugada."
Sabes, perdi esse livro nos empréstimos...

Beijinhos...

IC disse...

"Um projecto Educativo que fosse......" Eu diria, que fosse um papel simples, com um conteúdo fundamental, e é isso que tu dizes também de forma mais bonita. Li o comentário do Miguel Pinto na entrada anterior, eu tb participei... participei na elaboração do 1º PEE da minha escola e ainda no ano passado disse não a quem me perguntou se tinha disponibilidade para contribuir, disse não pq não perco tempo com papeis que vão para a gaveta, mas desejo-te melhor sorte, como desejou o Miguel. Porque há que persistir, isso é preciso, é sim, Teresa.
Bjs :)

Teresa Martinho Marques disse...

Usei esta referência no site da SPA, embora tivesse visto tb a referência ao pássaro verde noutro sítio... Em que contexto surgirá então este pássaro azul aqui referido?

Maria Rosa Colaço (1935-2004)
O pássaro azul partiu

Tinha 69 anos de vida e ficou para sempre na memória de várias gerações que jamais esquecerão que "O Amor é um Pássaro Azul". Maria Rosa Colaço, mulher, professora, escritora e cidadã de corpo inteiro e que por inteiro se deu às crianças, faleceu em Outubro, no Hospital Santa Maria, em Lisboa, onde estava internada. Natural de Torrão, Alcácer do Sal - onde ficou sepultada há uma rua com o seu nome - Rosa Colaço começou pela enfermagem, mas destacou-se como professora do ensino primário, primeiro em Moçambique, depois em Almada, onde passou a viver. E as crianças foram o seu mundo. Revolucionou o ensino primário nos anos 60, deu asas à capacidade de sonho e invenção dos mais pequenos e recolheu, num livro inesquecível chamado "A Criança e a Vida" - que teve mais de 40 edições e foi traduzido em várias línguas - a poesia que só pode existir no olhar dos mais pequenos. Quem alguma vez o leu jamais o esquecerá. Talvez porque se ficou a saber que o amor é um pássaro azul. O seu livro de estreia foi "O Espanta Pardais", mas ofereceu-nos ainda títulos como "A Gaivota" (prémio Soeiro Pereira Gomes, em 1982), "Pássaro Branco" (prémio Alice Gomes) e , entre outros, "O Menino e a Estrela" e "Aventuras de João-Flor e Ana-Amor". Em 1958, com a peça "A Outra Margem", ganhou o Prémio Revelação de Teatro. Maria Rosa Colaço - defensora da liberdade de expressão, da cidadania e das conquistas sociais - colaborou com regularidade em jornais, com destaque para "A Capital". Foi também assessora da RTP durante 12 anos, tendo sido responsável por vários programas para crianças. "Um exemplo para todos nós. Agora é esta saudade e respeito por quem esteve tão perto das crianças, com o saber, o coração, a poesia" - disse Matilde Rosa Araújo ao Diário de Notícias. Tinha entrado para a SPA em 1978.

Teresa Martinho Marques disse...

IC... na sequência da greve da função pública (sem alunos, por falta de funcionárias), estive no CE toda a tarde de volta do PE e sinto que estamos a caminhar no sentido certo. Foi até bem agradável o que foi acontecendo no trabalho que se conseguiu desevolver... Tenho alguma esperança...