sexta-feira, março 14, 2008

O tempo... eu explico assim devagarinho como se...

Não quero saber como outros gerem o tempo. Mesmo que a uma minoria sobre muito tempo, essa não é a realidade da maioria dos professores. Tão pouco a minha, que entendo que usar as tic no ensino não é usar o word aqui e ali, ou levar um powerpoint preparadinho que dê a aula em vez de mim, muitas vezes, sem que eu me canse...

Estive na escola das 8 às 15 e, ao chegar a casa, sentei-me para tratar de todos os trabalhos scratch novos, comentar, corrigir, animar o blogue da turma, visitar os deles e as galerias, acompanhar, comentar, editar os filmes que eles colocarão nos seus próprios blogues (adoram ouvir-se e o empenho nas tarefas vai crescendo, bem como o sentido de responsabilidade na correcção dos trabalhos e o gosto em reflectir por escrito sobre o seu trabalho nos diários de campo... isto se a mediação for em cima do acontecimento, constante, muito presente mesmo à distância.)

Passa das sete da tarde (querem fazer contas?) e ainda não acabei. Estou mesmo muito cansada. As costas doem-me do excesso de tempo aqui e tenho de parar (continuarei no fim-de-semana). O tempo na escola nem sequer tem dado para as necessárias correcções dos seus blogues e à quarta, em Estudo Acompanhado, não temos sequer computadores disponíveis (à mesma hora funciona um 8º ano com TIC em AP e uma turma de 9º com TIC - reparem no absurdo da sobreposição de leis e regras: eu ajudei a conceber o projecto dos portáteis, portanto teria sempre prioridade na sua utilização com as minhas turmas... verdade? Não, mentira. Como a seguir inventam uma lei que obriga a que os 8ºs tenham TIC nas aulas de AP eu fico sem os portáteis que ajudei a conseguir para a escola e a minha turma não os pode usar numa hora em que era absolutamente indispensável). E a tutela diz que não aceita que sejam feitos investimentos agora para corrigir os problemas da Internet ou outros, porque há-de estar para chegar o grande plano tecnológico... Mas não é para o ano que eu quero material é agora, hoje, ontem... Quando me auto-avaliar a propósito das TIC direi que só não fiz mais por culpa do Ministério da Educação que não providenciou as condições necessárias...

É revolta mesmo.
Acabei agora o trabalho no blogue GTScratch e ainda deixei por lá uma experiência de "ensino à distância": usando o Camtasia Studio fiz um pequeno filme, com a minha voz sobreposta, captando o écran do meu computador no processo de indicação dos erros a corrigir num dos blogues... Espero que a Bia entenda e corrija... porque presencialmente é cada vez mais complicado encontrar tempos para tudo. Claro que isto significa mais tempo, claro. E há mais blogues a precisar de atenção... Preciso de os ajudar a crescer no domínio da língua e a ganhar brio para corrigirem o desleixo de deixar tudo mal escrito sem reler. Leva tempo! Mas há quem ache que isto vem em comprimidos e é só administrar uma ou duas vezes para alcançar a cura...

Quem nunca usou o tempo para poder realmente oferecer um ensino de qualidade, continua a não usar e agora tem até a desculpa perfeira para nunca mais investir. Quem (a maioria) sempre trabalhou com sentido de responsabilidade e exigência, está esgotado, sente-se impotente, infeliz por não poder ser tão bom como se habituou a ser antes de todos estes absurdos.
E podem dizer o que quiserem: não é a mesma coisa trabalhar com crianças ou estar num escritório com papéis. Não queiram comparar. Se querem... então venham até aqui e façam o nosso trabalho...

Salva-se apenas no meio disto tudo o trabalho com eles, os sorrisos, os progressos e os abraços de despedida deles (e a enorme satisfação dos pais pelo trabalho que tem sido desenvolvido).
Só o "meu patrão" não percebe, por mais que eu explique devagarinho, que não se trata assim quem já tanto deu e ainda pode dar. E somos muitos. Arrisco-me a dizer que os que sempre deram o seu melhor são os mais esgotados e os mais tristes... Que sentido faz isto?

Aguentamos até quando?

(Repararam que eu não falei da avaliação? E que se falasse era só para reforçar a enorme perda de tempo a preencher papéis e a reunir com avaliadores, sabendo que nem sequer vou ter excelente nem progrido para lado nenhum, apesar de toda a minha entrega... O tempo é um bem precioso e não o tenciono perder com disparates. O tempo é para mim a questão essencial. Por vergonha fala-se pouco. Mas não tenho complexos de culpa: não sou preguiçosa, trabalho muito mais que a maioria das pessoas que falam do meu "não trabalho" e não mereço um estatuto que me organiza o tempo como se eu fosse uma funcionária qualquer que vai para casa livremente sem precisar de pensar no trabalho até ao dia seguinte...)

Eu bem explico, eu bem explico... mas...

10 comentários:

Herr Macintosh disse...

Eh, pá! Há gente que faz PowerPoints que dão aulas? Eu quero saber como se faz! Já! :-)

matilde disse...

Só para deixar um beijinho e para dizer que a minha "barraquinha" está fechada para remodelações mas volta já já... ;)
Bom fim de semana.

Raul Martins disse...

E, apesar de tudo, preferimos as crianças aos papéis!

Anónimo disse...

«Quando me auto-avaliar a propósito das TIC direi que só não fiz mais por culpa do Ministério da Educação que não providenciou as condições necessárias…»

Teresa,
Como me revejo no seu desabafo-denúncia.
Também eu ajudei a conceber o projecto dos portáteis – e em duas frentes: o clube do jornal e o meu Departamento.
Mas, passados quase três anos, sinto uma amargura imensa pelo tempo gasto em tão pouco feito.
Este ano, perseguindo a ideia de que quanto mais cedo se lançarem as sementes melhor, “sonhei” para os meus sétimos diversos projectos, bem mais humildes que os seus. E, até agora, (a dois passos do final do ano) ou porque cai a net, ou porque os portáteis não estão disponíveis, ou porque estão cheios de vírus, ou porque as aptidões dos miúdos se resumem ao Messenger, ou porque a capacidade da professora também não é muita, (factor nada despiciendo) o sonho vai-se tornando quimera, e o sentimentos dominantes são mesmo o desânimo, a tristeza e o cansaço.
Obrigada pela suave frontalidade, pela ajuizada revolta, pela teimosa persistência e, 'the last but not the least', pela requintada ironia.
Dão-me alento para continuar, mesmo que não «progrida para lado nenhum», porque também eu não tive tempo, e sobretudo pachorra, para me candidatar a titular, apesar dos 30 anos de “serviço aos alunos”.
Parabéns pelo trabalho.
Bem-haja pela atitude.

Anónimo disse...

Teresa, nós explicar, explicamos, mas há quem não queira, apenas não queira, perceber. Dá jeito, não dá?
Um abraço,
Emília

28 na sala disse...

É confrangedor existirem tantos exemplos e eles recusarem-se a escutar... Sei bem do teu empenho, Emília, com o teu Netescrita... e os teus pequeninos netescritores... nada disso é valorizado... emd... é a história da nossa vida... solidária com esse desânimo e também com a esperança que nos faz proteger os alunos acima de tudo! mesmo prejudicando a nossa progressão na carreira! Raul... aqui os alunos ficam à tona, não porque a densidade seja menor (desculpa lá, Paizão, contrariar as leis da física - o meu Pai é físico :) mas porque a densidade é bem maior e devem ser o centro da nossa preocupação. Matilde, boas remodelações! (A Educação bem que precisava de uma a sério...). E, Herr, só tu para me fazeres rir hoje... :D

Herr Macintosh disse...

Teresa e emd,

ouvindo as vossas queixas em relação às TIC começo a pensar que sou demasiado severo quando digo que há problemas na minha escola que, como coordenador TIC, nem sempre consigo resolver.
Em relação aos conhecimentos das TIC dos nossos alunos, há a ideia de que eles estão super avançados mas aquilo que encontramos no terreno é uma realidade um pouco diferente e não é com uma disciplina de TIC no 9º e TIC disfarçada de AP no 8º que vamos resolver o problema.

Teresa Martinho Marques disse...

oops... 28 na sala, sou eu a 3za... ainda estava com o "login" no blogue da turma onde estive a trabalhar... :)
Tens toda a razão... por isso devagarinho... vou ensinando so pequenitos a dominar uma conta de correio, gravar um projecto scratch ou outro ficheiro, enviar ficheiros anexados, pesquisar na net, gravar imagens e utilizá-las, etc e tal... comprimidos no 8º e 9º... não dão grande resultado... mas de que serve explicar?

Anónimo disse...

A partilha tem destas coisas…

Herr Macintosh.
Fiquei logo mais espevitada por me confirmar que os conhecimentos de TIC dos alunos não estão tão avançados quanto se julga. Estava em crer que, no caso da minha rapaziada, as causas eram mesmo a desigualdade social a par do contexto periférico da Serra da Estrela.
Se não for a escola a abrir-lhes as janelas para o mundo… É a tal da inclusão!
Mas verdade, verdadinha… Todos os dias trazem das quintas uma lufada de ar fresco e genuíno.

Já vi, Teresa, o meu desabafo transformado em post. São, de facto, muitos ecos de um só lamento.

E que preocupados estamos todos com a avaliação de desmpenho!

1abraço

Teresa Martinho Marques disse...

Um lamento que nos une... (juntamente com este amor pelos alunos)
Abraço grande