quinta-feira, março 26, 2009

Evidências...

Conversas e coisas e pensamentos que não são do domínio da ficção:

Na Biblioteca
-Oh colega coordenadora, importa-se de me ver aí quando é que eu trouxe a minha turma à feira do livro como estava no escalonamento?
- Tenho de ir procurar os papéis e já lhe digo...
- É para pôr nas evidências...

(Portanto... deseja-se evidenciar, com prova, que foi levada uma turma à feira do livro. O supremo sinal de que se é excelente a mudar alunos de uma sala para a outra e que se aponta na agenda os dias em que é suposto fazê-lo sem esquecer os compromissos. Um excelente caminho... para a excelência.)


No WC:
- Bolas! Abri agora a gaveta e a DT pôs-me lá uma data de papéis a avisar que tenho de fazer mais de 7 provas orais por causa dos alunos terem ultrapassado o número de faltas! Só que eu já não volto a ter os alunos e acho isto tudo um disparate.
- (alguém segredando uma solução... daquelas que não posso escrever aqui em "voz" alta).

(O estatuto do aluno é um primor. Temos - a maioria - bons alunos com faltas perfeitamente justificadas, que recuperam mais que completamente no andamento do rio - como sempre aconteceu, pois não somos parvos, nem os pais o são quando todos estamos empenhados no sucesso, e sempre existiram amigos e telefones e o que é que demos e o que é que é preciso fazer e tal e mais uma ajudinha do prof.- que nos chegam ao fim do período com necessidade de fazer provas orais ou escritas ou outros trabalhinhos, porque e tal o limite foi ultrapassado e essas coisas da lei. Anedótico. Não faríamos mais nada se levássemos a sério este disparate. Ah! Não era suposto eu dizer isto. Delete. Pois... Nós levamos tudo muito a sério! (O que é para ser levado a sério). Admiram-se do número de faltas ter diminuído? Já andávamos a ver se, enfim e tal, nos distraíamos de vez em quando... que a nossa cabeça anda cansada... agora, depois deste final de período em que descobrimos que há dezenas de provas para fazer às crianças de todos os tipos (empenhadas, com sucesso, sem sucesso - a minoria), que agora ultrapassaram o dito limite, e já sem aulas para aplicar coisa alguma, não sei o que vai acontecer nos próximos tempos... mas imagino... Aquelas crianças que realmente são um problema... continuam a ser um problema, independentemente de provas ou outras coisas que apenas dão mais trabalho sem qualquer utilidade... e estando os professores entretidos com tantas burocracias... onde está o tempo para fazer o que era importante fazer por essas crianças... assim... tipo acompanhamento realmente útil e prevenção?... Evidências... Concordo com a Sra D. M.E.: "Tanto aqui lutaram contra o estatuto do aluno que o resultado foi exactamente o inverso do que aquilo que os senhores deputados aqui anunciaram". Ah pois foi! Não foi é bem por causa das razões invocadas... digamos que... nos casos em que... e tal... nós agora... pensamos duas vezes antes de... e assim...
Devia existir um prémio para leis que, por linhas tortas, acabam por escrever as estatísticas direito. Ah! E um outro para estudos conclusivos a olhómetro, daqueles que nem é preciso ir estudar que a gente está mesmo a ver que a causa do fenómeno foi a suprema inteligência das medidas tomadas como comprimidos milagrosos em forma de leis...)

No Clube
- Professora! Este não tem internet!
-Professora! Este já não tem os programas!
- Professora! Professora! Professora!
- Oh meninos! Então quando é que têm os vossos portáteis para ver se não temos de depender destes que nunca funcionam?
- Resposta de todos: mas ainda não temos nada e mesmo quando tivermos não vamos trazê-los para a escola porque temos de andar a carregá-los e porque podem roubar-nos.

(Mais uma sessão de Clube praticamente inviabilizada pela má qualidade dos recursos tecnológicos a que temos acesso - portáteis da escola - que são mais as vezes que dão problemas do que aquelas em que nos ajudam realmente. Viva o plano tecnológico! Viva! - Isto são alguns deputados a celebrar ontem na inauguração do novo e hi-tech hemiciclo).

Evidências. E não escrevi todas. Porque se escrevesse todas as linhas do desencanto e das conversas diárias ou da infidelidade normativa causada pelos disparates legislados... enfim... talvez nem acreditassem.

Só há duas soluções: implodir a escola com os absurdos, fazendo tudo como querem que seja feito (a impossibilidade levaria à completa paralização), ou contorná-los até a inteligência regressar, para proteger as crianças e as famílias dos malefícios causados por estes anos que ficarão na história por todas as más razões...

(Parece-me que nesta entrada há também evidências de desencanto, azedume, irritação, revolta... Mas estas não vale a pena apontar no papelinho porque sem sorrisos e acomodação não há excelentes. Certo? Certo... )

Vou mas é almoçar... devo estar com falta de açúcar no sangue e quero estar bem docinha daqui a pouco para continuar o trabalho com os meus meninos... Eles merecem todas as calorias, energias e sorrisos que guardo exclusivamente para tudo e todos os que amo.

ADENDA:
À tarde... finalmente a turminha B conseguiu ir para a sala dos portáteis em AP (há sempre uma reunião ou qualquer coisa a ocupar a dita e todas as semanas tem sido uma imensa desilusão). Só que... a desilusão manteve-se... fomos para a sala... mas eles são 26... e com os computadores no estado em que estavam de manhã - apenas 4 completamente funcionais - impossível fazer alguma coisa do previsto. Só coisas mínimas e com muitos a refilar, pois não puderam ter acesso a computadores para continuar trabalhos. Também reclamaram, e muito, das idas infinitamente repetidas às lojas em busca dos e-escolas... as recusas... os códigos errados... os espere mais dois meses...
O ano lectivo está a acabar. Dos e-escolas e dos e-escolinhas nem sinal!
(Propaganda? Pois...)

4 comentários:

Eulália Tadeu disse...

Este post veio mesmo de encontro à minha angústia! Acredite que tenho andado a adiar a marcação das faltas...porque sim!!!Porque a C. tem tido uma vida terrível e até tem justificado as faltas e também sei que o tal teste não vai adiantar nada e que o problema é a C. não se conseguir concentrar por tudo o que vagueia na cabeça dela e que não é pouco.
Mas os nossos chefes pensam assim! Um teste e está tudo resolvido.
Tudo isto me causa uma angústia terrível.
Quanto ao dito Plano Tecnológico: Hoje carreguei para a escola o meu portátil já com os recursos todos à mão de semear para uma aula que queria leve mas profícua. Um filme sobre simetrias e outro sobre como construir e explorar o tangran. Resultado: nada conseguido. Não havia internet porque precisava de uma senha (procedimento novo) e não havia ninguém disponível para fornecê-la! Frustação e muitos mais sentimentos que não vou escrever.

Teresa Martinho Marques disse...

Eu eu aflorei apenas a ponta do iceberg do que se passa realmente na(s) escola(s). Não seria difícil perceber que o mesmo se passa em muitas mais. Em escolas demais... Melhores tempos virão... temos de acreditar (pelos nossos meninos).

Anónimo disse...

gosto de te ler...

um bj e boa noite 3za!

Teresa Martinho Marques disse...

Bom dia, Dani... :) Beijinhos