segunda-feira, maio 14, 2007

Imposto de solidão...


Conceito já antigo este.
Explico.

Geólogo como o que tenho aqui perto de mim é dado a viagens frequentes, que rochas há em todo o mundo... e boas condições em bons laboratórios nem sempre são a verdade portuguesa... portanto.
Vai de andar aqui e acoli a explorar, do Círculo Polar Ártico à Patagónia.... do Brasil aos Estados Unidos... agora... viver fora de Portugal por muitos meses, com regressos regulares para matar essa palavra tão portuguesa, tão do nosso fado.

Ora este marinheiro das pedras tem, por isso, de cumprir o pagamento de um imposto a que aqui em casa damos o nome de "imposto de solidão"... Pode ser algo típico comprado no local de destino, um objecto especial (tenho uma peça de um navio naufragado na Galiza... esta que aqui vêem... pesadíssima... ferro... teve de subir uma falésia com ela às costas...) ou, quando a estadia, como é o caso, calha em qualquer cidade europeia onde tudo é caro e muito semelhante ao que temos aqui, algo comprado no nosso Portugal ao meu gosto.
.

Cumpriu-se hoje o pagamento desse primeiro imposto, devido por um mês de distância.
Eu pensei que me apetecia algo para vestir... algo assim novo, leve, fresco e bonito... enfim... coisa de mulher a debruçar-se na Primavera. Mas... foi nas prateleiras de poesia da FNAC, bem recheadas hoje para minha perdição, que fui encontrar o(s) objecto(s) desejados...

Fui tirando... descoberta a descoberta até me dar conta de que tinha 10 livros no chão...
Olhei para ele. É demais. Sei que é um mês mas... Ainda havia ali aquela colectânea completa de Ruy Belo... mas já nem a coloquei aqui...
Ele levantou o braço e alcançou-a. Dez mais um faz onze.

Não regateia. Sabe o quanto me faz falta a poesia no silêncio dos dias.
Desta vez o imposto paga-se ajudando a suavizar a solidão a que diz respeito.
(Hei-de falar-vos um a um dos livros que hoje vieram morar comigo.)

Daqui a um mês pensarei como será feita a próxima cobrança...
Agora é tempo de outro "até breve"... agradecendo às tecnologias que permitem a videoconferência diária, quantas vezes repetida para, lá está, matar essa palavra tão portuguesa...
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Até breve.
Já tenho companhia para os dias que vão chegar...


3 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Que belo imposto esse que vocês inventaram. Conheces as "coisas" de Constantin Cavafy? Senão, acho que irias gostar de o ter por companhia. :)

Anónimo disse...

Não.... mas já está na lista!!! :)

Anónimo disse...

Não.... mas já está na lista!!! :)