sábado, agosto 09, 2008

Uma das leituras de férias que aconselho...



O livro não é recente (Quatro textos excêntricos, 2000 - prefácio e tradução de Olga Pombo, Relógio d'Água)...
Tão pouco os textos seleccionados para o incluir.
Vão dos anos 30 (caso de Ortega y Gasset... não se iludam com as datas dos anos 80... publicações póstumas...) até à década de 60...

O que é mais curioso?

Lá atrás... bem lá atrás (por exemplo, Bertrand Russel... em 1950) já dizia coisas como:

(...)Tal como as coisas hoje se apresentam, muitos professores estão longe de dar o seu melhor. Há inúmeras razões para este facto, umas mais ou menos acidentais, outras profundamente enraizadas. Começando pelas primeiras: a maior parte dos professores estão de tal modo sobrecarregados de trabalho que se vêem limitados a ter de preparar os alunos para os exames em vez de lhes darem uma formação sem preconceitos. Quem não tem prática de ensino - e isto inclui praticamente todas as autoridades educativas - não faz ideia do dispêndio de energia espiritual que o ensino envolve. Não se espera que os padres façam sermões durante várias horas todos os dias mas, aos professores, pede-se esforço análogo. O resultado é que muitos ficam esgotados e nervosos, alheados das obras recentes relativas às matérias que ensinam, incapazes portanto de comunicar aos seus alunos a sensação de prazer intelectual que resulta da conquista de uma nova compreensão e de um novo conhecimento.(...)

E encontramos outras preciosidades.
E uma tristeza se instala porque a História continua a ser apenas conto antigo para adormecer criancinhas.
Quando será que vamos aprender alguma coisa com ela?

O ECD produzido nestes últimos anos que promove exactamente, sem qualquer pudor, o que aqui é descrito foi feito para matar depressa a essência do ensino e da escola. Já não consigo sequer conceder o benefício da dúvida e pensar que foi feito por e com ignorância. Formar para excelência? Educar mentes críticas, capazes de tomar decisões? De se oporem ao que destrói a essência da liberdade e autonomia humanas? Não... Não queremos isso. Está à vista a opção.
Sinto-lhe na pele os efeitos: um Agosto sem férias, porque o tempo do professor é para tudo menos para estudar, progredir e assim trabalhar seriamente, exigentemente com os seus alunos. Sobram-lhe os intervalos da vida. Onde teria direito a descansar.
É consciente esta minha forma de resistir, com sacrifício pessoal, à mediocridade que nos vai sendo imposta. Professores que lêem e que pensam não fazem falta... importante é ter funcionários acéfalos que cumpram todos os absurdos.
Recuso-me.

Eu, a última das ingénuas, acordei.
Tamanha perversidade só pode ser intencional.
E isso é grave. Profundamente grave.


10 comentários:

Anónimo disse...

perversidade ou ignorância?
educação ou finanças?

Comecei o meu blog pq estava indignada com o novo ECD q se avizinhava.
Hj percebo q se estou mal, quem tem de mudar sou eu... por enquanto ainda aqui estou, na escola, sempre fiel a mim própria. Isso eu não mudo, quem eu sou, mas parece-me q um dia estarei em caminhos diferentes...

Herr Macintosh disse...

Os expertos do ME (nosso e de outros países) acham que agora o que está a dar é a accountability e que as escolas são um pau para toda a obra. Os que leram alguma coisa não reflectiram sobre o que leram, limitaram-se a ficar fascinados (por vezes por coisas que não estavam nos livros que leram mas que eles acharam que sim). Ler os intróitos da legislação portuguesa sobre educação dá vómitos por tanta presunção e idiotice: a investigação diz que é preciso tempo para se assimilar o que se aprendeu? Mais horas na escola! A investigação diz que é preciso que os professores se actualizem? Mais papelada para cima (e muitas reuniões de encher chouriços que é para a malta saber o que é bom para a tosse). A investigação diz que os alunos precisam de ser respopnsabilizados pelas suas aprendizagens? A culpa do falhanço é, em 187,54%, dos professores.
Daqui a uns anos, quando o edifício desabar, os expertos terão desaparecido no nevoeiro e a culpa morrerá, mais uma vez, solteira. Se esta gentalha tivesse vergonha faria seppuku. Como isso não vai acontecer, devíamos fazer como o General Eisenhower quando chegou aos campos de concentração: pediu que tudo fosse o mais documentado possível porque dali a uns anos ninguém iria acreditar que aquelas horrozidades tinham acontecido.

E agora, num tom mais soft: não conseguiste mesmo deixar de dar um pulinho até aqui :-D

Teresa Martinho Marques disse...

Pois é Daniela... não sei do futuro... mas haverá um limite para todas as loucuras...
E sim MAc... tu já me conheces tão bem... eu lá podia deixar de vir aqui dizer das minhas justiças (e das tuas e das de todos nós). É impressionante tanto disparate acumulado... fazes bem o retrato... já não se aguenta tanta asneira que vai ter tão graves consequências... (E tu, nada de férias do Mac? Olha... eu até ia aderir à maçã IPhone... mas.... um omnia meteu-se no meu caminho e a maçã ficou escurecida pelas coisas que não faz e o outro faz... toma toma... mesmo com aquela gracinha de interface, não me chegava... ainda não foi desta eh eh eh... estive pertinho...)
Abraço aos dois!

Herr Macintosh disse...

Férias... Férias... Bem, sim, não, talvez, quer dizer :-D
Tenho uma resma de livros para ler, para o ano vou ter sétimos (que já não dou há bué de bué de bué de tempo), tenho o site do agrupamento para preparar e uma data de ideias para executar. Tás, a ver, nada de novo na frente ocidental :-)

Teresa Martinho Marques disse...

A tradição connosco há-de ser sempre o que era :)

IC disse...

Cada vez me pergunto mais como é que aqui a minha pessoa, terrivelmente independente e desobediente a normas burocráticas e inúteis, estaria a viver a escola dos últimos dois-três anos. Se não andasse sempre à beira de um ataque de nervos (não faço ideia se conseguiria não andar, se calhar tinha que ir a um psiquiatra), a minha avaliação iria ser decerto um processo arrepiante, talvez engraçado.

Mas vim de fugida só a dois ou três blogues, que ando muito ocupada ;), e abri a tua caixa de comentários para perguntar o título do livro, pois os autores são aliciantes e não consigo ler o título (vou encomendar).
Muitos beijinhos (não me atrevo a desejar-te boas férias,seria quase humor negro)

IC disse...

P.S.
Não consigo outra vez aceder à página ou ao blogue do Herr, dá-me tudo página não encontrada

Teresa Martinho Marques disse...

oops... já deixei na entrada título e link... (acho que o Herr decontinuou o "produto"... mas ele dirá). Quanto ao que dizes... confesso-te boca a orelha que sinto o mesmo e não sei como vou lidar com os aspectos práticos das parvoíces quando me convocarem para reuniões de objectivos individuais, para fazer portfolios disto e daquilo... para preencher grelhinhas e afins... sem tempo sequer nem para dar aulas, escrever a tese, contribuir para amissão de promover a leitura e a escrita... estudar... e etc... Confesso igualmente que tento preparar terreno na minha vida para, se vier a ser possível, dar um contributo útil à educação mas numa posição diferente e de outra perspectiva. São apenas sonhos, projectos ainda com pouca consistência... mas eu convivo mal com a inutilidade dos gestos, com o facto de me prenderem e não me deixarem fisicamente prestar atenção ao que é mais importante, com o esgotamento e exaustão que me tolherão a criatividade, disponibilidade e entusiasmo... haverá um limite... eu sei que há... não sei quando será atingido, mas preciso de me preparar para esse momento. A corda não esticará mais a partir daí e eu não tenho feitio para depressões nem infelicidade crónica... Sem stress, vou seguindo... o que tiver de ser será, mas estou proactivamente a lutar por uma outra chance de futuro. Não sei viver acorrentada e posso servir os meus meninos de outras formas... se um dia descobrir quais, será possível sair/regressando num outro corpo, numa outra missão. Acreditar é meio caminho e eu preciso dessa luz e dessa esperança para poder continuar a servi-los com todo o amor e toda aentrega possível.
Só lamento que os que mais amem e mais se entregaram desde sempre, se tiverem uma hipótese, sejam exactamente aqueles que se despedirão por não suportarem aquilo que querem fazer da escola e da missão de fazer aprender.....Beijinhos! :)

Herr Macintosh disse...

IC,

por motivos vários, o site foi encerrado. O endereço continua activo mas retirei tudo do servidor. Entretanto preparo outras coisas que depois direi.
Quanto ao resto, estou como a Teresa não sei bem como é que vou aturar algumas coisas que aí vêm... Vai ser complicado.

IC disse...

3za, respondo com atraso pq tenho andado muito ocupada com a neta mais velha, suiça, que está comigo por poucos dias. Não quero deixar de te dizer que penso que o clima e a burocracia toda imposta às escolas não durarão muito tempo, acho que há que aguardar mais um ano. Claro que poderás construir outros projectos, mas eu não sei se, no campo da educação, alguma coisa poderá substituir o contacto directo com os miúdos. Sobretudo os do 2º Ciclo (a dada altura passei para o 3º, mas o que se pode dar aos mais pequenos em termos de os fazer/ajudar a crescer é muito gratificante)

Herr, ficamos à espera :)