domingo, janeiro 15, 2006

Os restos...

Domingo cinzento, este.

Acordei, já na cozinha, decidida a dar uma volta no frigorífico e a gastar criativamente o que encontrasse à minha disposição e precisasse de ser usado (prazos de validade são tiros na preguiça dos dias, imposição de um tempo que se esgota, aviso de que a vida não pode ser mais adiada...).

Com o último livro da Maria de Lurdes Modesto na mão (fotos lindas, vale a pena saborear com os olhos http://spg.sapo.pt/Xd4/623530.html) reinventei uma receita nele proposta.

E por que não segui eu a receita, tal e qual como ela deveria ser posta em prática?

Porque nunca consigo fazer tudo o que me dizem para fazer.
Porque o que tinha à mão não era o que ela queria que eu tivesse, nem o que eu queria ter.
Porque também me agrada, e é preciso, o experimentar, o risco, o sabor da coisa por descobrir.
Porque não tinha o tempo que era necessário.
Porque, apesar de tudo, achei que era possível.

E dei comigo, enquanto sujava a louça nos preparativos, a pensar nas coisas da educação. No quanto a cozinha, laboratório de cheiros e sabores, se assemelha à escola. No quanto o ofício de cozinheira(o) de trazer por casa se assemelha ao de professor.
Hoje encontrei ovos por aqui... dias há em que se tem de inventar uma omelete de água.

Com tofu, cenoura ralada, alho francês congelado, ovos que encontrei esquecidos num cesto, um requeijão quase antigo, cebola, alho, farinha integral, azeite, manteiga, sal, pimenta, noz moscada, leite de um pacote aberto há tempo, fiz uma espécie de tarte, ou bolo, nem sei bem.
Tudo misturado com a (des)ordem mais adequada, dentro do possível.

Acabou por ficar delicioso.

Por vezes acontece. Mas não apetece sempre.
Sabia bem ter à mão ingredientes de qualidade. Utensílios mais modernos. Um aquecedor na cozinha. Alguém que ajudasse a lavar a louça.
À vezes, na cozinha, encontro (coloco) tudo isso. Porque é preciso intervalar a luta com o requinte de um pequeno luxo.
Aqui em casa eu decido quando quero aproveitar, quando quero criar, quando preciso mesmo de ter.
E na Escola?

Pequenos gestos culinários pontuais de improviso não garantem o sucesso da Escola como um todo.
Não garantem a generalização da excelência.

Tal como na cozinha, quando o cansaço se instala, quando o tempo já não chega e a vontade é nenhuma... a "fast-food" abre o seu plástico e imediato caminho.

E, depois, morremos todos mais cedo.
(De uma forma, ou de outra)

E, depois, o futuro não chega nunca mais.

Foto da escola EB2,3 de Luísa Todi, Setúbal - Outubro de 2005

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