quinta-feira, junho 20, 2013

... da "canga" pedagógica


Assisti em direto na altura (2007) e lembrava-me bem, a partir do minuto 6:30, das justificações de NC para o insucesso a matemática dos seus alunos na universidade... (a culpa era dos alunos, claro...na esmagadora maioria dos casos - 90% )... e, ainda, referências à má preparação prévia dos alunos... à formação de professores... às culpas das universidades e do inflacionamento de notas... e a necessidade de exames de acesso à carreira de professor para resolver o problema (só da parte científica, claro, deixando a ...  coisa ... pedagógica de fora...).

Pois eu cá acho que a canga pedagógica (não queria acreditar, mas escutei da sua boca ontem - minuto 29 http://youtu.be/IbTh-lluBHQ), associada à centífica, faz com que a responsabilidade de conseguir sucesso seja também assumida por mim, professor, para o melhor e para o pior. De nada me serve dizer que os alunos não estudam, ou que estão mal preparados, que a culpa é das famílias, ou da alimentação, ou da televisão, ou dos políticos... Eu e a minha canga pedagógica e científica fazemos parte da equação do sucesso/insucesso (sei bem o que digo ao fim de quase 30 anos de ensino, com muitos sucessos na conquista de alunos para a matemática). E se realmente os professores nem sempre estão bem preparados (e não é só na componente científica) talvez não fosse má ideia ter uma cangazita pedagógica orientadora junto dos programas...

No Ontário (topo de gama do sucesso a matemática nos testes internacionais) não têm esses pruridos de limpeza de canga. http://www.edu.gov.on.ca/eng/curriculum/elementary/math.html e muito tenho aprendido por lá (eles devem usar referências de investigação diferentes daquelas a que NC faz sistematicamente referência). Mas no site do MEC... temos o vazio absoluto... nenhuma canga pedagógica, é verdade, só indicação (orientadora) dos tempos para despachar conteúdos. http://www.dge.mec.pt/index.php?s=noticias&noticia=396

Descubram as diferenças entre um e outro... O link do Ministério da Educação Ontário que partilhei é APENAS para matemática... Pode ser encontrada lá muita canga pedagógica bem útil! E na ausência dela em Portugal é lá e noutros locais que bebo, porque considero que a minha formação pessoal não termina nunca e continuo a precisar de aprender continuamente para ser melhor professora.
Ainda bem que posso emigrar digitalmente para me enriquecer...

Ao recordar as desculpas de NC nesta entrevista, lembrei-me da história do cão a quem um linguista havia ensinado a falar mas que não falava coisa nenhuma: "ensinar eu ensinei, ele é que não aprendeu!"

http://www.slideshare.net/Fbelece/um-lingusta-que-ensinou-o-co-a-falar-2665832 - Miguel Ángel Santos Guerra

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P.S. Só mais um contributo para o rigor linguístico. Não entendo, como NC, as orientações pedagógicas como canga (opressão, tirania, domínio). Usei o termo ironicamente, é claro, para glosar a observação inadmissível que fez enquanto Ministro da Educação.
Temos cérebro, temos informação, temos conhecimento... qualquer orientação pedagógica deve ser sempre analisada, filtrada e ajustada a tudo o que sabemos, a cada contexto, a cada momento e época, a cada realidade e à nossa experiência profissional e pessoal. São orientações, não são lei.
Não são, pois, canga. São apoio e fazem falta...

CANGA
(origem obscura)
s. f.
1. Jugo que une os bois de uma junta.
2. Pau que assenta no chinguiço e de que pende a carga levada por dois homens.
3. Instrumento de suplício, de origem chinesa, que contém um orifício para o pescoço do supliciado. = GANGA
4. [Figurado]  Opressão, tirania, domínio.
5. Peça de tecido que se enrola à volta da cintura ou do tronco e se usa como peça de vestuário.
(Fonte: Priberam)

2 comentários:

Eduardo Martinho disse...

Li e ouvi tudo com atenção.
Tenho alguma experiência sobre o interesse da "canga pedagógica". É uma expressão inaceitável na boca de um MEC. Se fôsse um "mec" qualquer percebia-se, assim não.
Tens toda a razão nas tuas observações.
P.

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada, Pai.
Depois de tantos anos de coisas estranhas... só nos faltava esta.