quinta-feira, dezembro 02, 2010

Professor: exercício de amor e paciência?

Ora bem.
Comecemos primeiro pela muda e surda irritação num feriado, sozinha em casa, a corrigir e classificar testes.

Imprecariamos silenciosamente por tudo o que não foi ainda aprendido, por  todos os disparates sem nexo, por todas as distracções, as contas erradas, a falta de vírgulas, a avó de 26 anos cuja neta de 10 tinha um sexto da sua idade, a falta de unidades nos resultados (ai quantas vezes já pedi!).
Alegramo-nos com os progressos inesperados de alguns, com os testes integralmente correctos de outros. E logo a seguir, novamente, o desalento, ando aqui a fazer o quê?, talvez mudar de profissão, talvez mudar de planeta, talvez mudar de rua, de corpo, talvez fugir...

E regresso a eles no dia seguinte. Hoje.



Chamo a atenção, claro, explico a minha preocupação. A voz é doce e nem sinal da irritação da véspera. Crio condições para um atendimento individualizado a cada um, ou pelo menos grupos restritos com dificuldades afins. E peço que se vão ajudando entre si, à medida que vão compreendendo os erros, as distracções... (tenho de aproveitar o Clube, porque não tenho outro espaço ou tempo para o fazer... e eles gostam que se converse um bocadinho com eles sem o stress dos conteúdos e dos toques).

Nas explicações pergunto-lhes porquê esta ou aquela resposta. Por que razão a tabuada continua mal sabida e as contas de dividir (por mais que eu as faça com eles) ainda não são dominadas por todos. E acalmo os ansiosos, e pico os mais preguiçosos. E o tempo vai passando com eles ali pertinho. São 28... na aula continuei o mesmo trabalho com os que não estiveram no Clube.
O erro é sempre uma oportunidade de aprendizagem. Lugar-comum que levo muito a sério com os meus meninos.

Faces iluminadas à medida que percebem por que razão erraram aqui e ali. Às vezes o desabafo de alguns "era tão fácil.... afinal... foi mesmo distracção!" a mostrar que estão a pensar sobre o que pensaram menos bem durante a avaliação.

Risco-lhes as fichas dando explicações individualizadas. As fichas, ainda hoje lhes disse, são essencialmente um companheiro para aprender, para reflectir, para resolver problemas e avançar mais seguro pelo caminho.

Depois na  aula a alegria de os ver trabalhar autonomamente e colaborativamente na correcção dos erros, enquanto assisto mais alguns nas nossas consultas individualizadas do sr. doutor.

Ah se eu tivesse tempo!... Mais tempo... Se a escola não se tivesse transformado numa massa tão anónima, coisa colmeia, coisa formigueiro,  quase sem espaço para a pessoa...
... tantos mundos mais colocaria nas suas mãos! Vou colocando os que consigo... com infinita paciência, mesmo quando de véspera acredito que já a esgotei.

Da irritação de quarta... nem sinal! Encontro-os e tudo desaparece. Sim, ralho, sou exigente, não perdoo uma vírgula fora do sítio, exijo tudo o que sei podem dar... mas é serenidade o que se respira ali, a voz não se eleva, os comentários são precisos e dizem respeito ao trabalho ou à falta dele, não ao aluno.

Rubem Alves já dizia. Jardineira sim.
Ah... quanto amor e paciência são precisos até o fruto amadurecer...

E tempo... tempo... tempo que falta sempre...

(Dessem-me tempo e eu faria todos os milagres!)

10 comentários:

JMA disse...

Não há outros milagres! Só os imensos que já fazes! Certo?

a d´almeida nunes disse...

Teresa, desculpe tratá-la com tanta familiaridade, há quanto tempo já a acompanho nesta via virtual!
Estou a esforçar-me por colocar vírgulas nos lugares devidos, mas não garanto nada. E depois, o António Lobo Antunes!... e o Saramago!?...

Gostei tanto de ler estes seus pensamentos!
Comovi-me com as suas palavras a transmitirem sentimentos de fé na juventude, no trabalho do professor,de coragem...

Percebe-se que não está a vangloriar-se de nada, mas para quem a acompanha, mesmo que por esta via, como eu, fica-se agradecido, pelos nossos filhos e netos!...

Pelos milagres que vai conseguindo.
António Nunes

Teresa Martinho Marques disse...

Um obrigada grande... :)

Teresa Martinho Marques disse...

Ai JMA... mas apetecia ser possível fazer tantos mais..... :)
Mas sim... damos o possível... e temos de conviver com a sensação de o possível ser afinal mais pouco que esse tanto que almejamos... :)

IC disse...

Certíssimo, JMA.

Professora Lu disse...

Uma amiga em comum indicou o teu blog, apaixonante....
Para exercer essa profissão divina realmente é necessário muito amor, dedicação e seriedade....
Parabéns....

Teresa Martinho Marques disse...

Isabelinha... beijinhos....
Professora apaixonada... um enorme obrigada! Continuemos assim... :)
Abraço

Luis Neves disse...

Olá 3za,
Vi agora um video num Blog que achei muito giro; Achei uma maravilha . E mais não digo. Chama-se Natal Digital
http://www.youtube.com/watch?v=tgtnNc1Zplc&feature=player_embedded

IC disse...

3za, sei as razões de falta de tempo para a Teia, mas esta ausência tão longa não é habitual, pelo que estou inquieta, não estejas com algum problema de saúde. Estás bem?
Beijinhos

Teresa Martinho Marques disse...

Ai IC... tu conheces-me tão bem...
Não é um problema de saúde meu... mas sabes como sou com os animais... A minha cadelinha tem estado muito doente... e há idas ao veterinário todos os dias desde há duas semanas... Depois roubaram-me a carteira com tudo... que felizmente recuperei há dois dias. A vida tem estado realmente um pouco caótica e com esta preocupação grande. Dia 22 termina a primeira fase do tratamento (felizmente, desde ontem noto acentuada melhoria... mas só as análises ao sangue podem dizer como foi a evolução da situação). Eu e os meus bichinhos.... tu sabes... não preciso de explicar. As coisas hão-de regressar ao normal. O trabalho corre bem... mas tento distribuir-me apenas pelo essencial... a teiazita... pois.... aqui fica... Beijinhos