domingo, maio 23, 2010

Scratch Day: o mais pequenino. (E outras coisas)

Filho de uma das formadoras da equipa do PFCM... 6 anos.

Prestou muita atenção na conferência às explicações do Fred... de computador aberto no auditório lá colocou vários sprites no écran e construiu a sequência de comandos à imagem do que via. (A Mãe muito perdida, ainda com dificuldade em se iniciar nestas lides da nova ferramenta.) Em seguida, o mais pequenino do encontro, percebeu que podia distribuir a mesma sequência de comandos por todos os sprites (tal como o Fred explicava) arrastando-a para cima de cada um deles... Fê-lo. Quando a Mãe deu por isso, já todos os sprites se moviam de um lado para o outro.

Cá fora dizia-me: ele já percebe mais disto do que eu.

O que mais me impressionou? Para além da mestria com o Scratch... a mestria das mãos pequeninas dominando o rato táctil no portátil... Eu uso, mas não sou capaz daquela velocidade e precisão de movimentos... Devia ter filmado.

Isto para repetir algo que afirmei no auditório... Não vale a pena fingir que os "digital natives" não são expostos à tecnologia desde muito cedo. Serão muito raros os casos dos pais que conseguem atrasar, adiar este inevitável encontro da criança com as tecnologias. Desde muito cedo o DVD, o vídeo, a TV...o computador. Mas geralmente numa posição de consumidor, de click and play, click and use... raramente numa posição de criadores, inventores dos seus conteúdos, dos seus jogos, dos seus filmes...

É isto que o Scratch permite, especialmente se for combinado com outras ferramentas... Porque na posição de criadores, precisam de outros recursos e de aprofundar com rigor conteúdos clássicos (Matemática, Língua portuguesa, outras línguas, qualquer tema... qualquer assunto) para chegar lá onde querem... ao seu produto pessoal e com significado. Aprender assim faz mais sentido, pela necessidade do conteúdo. Depois é possível trabalhar esse conteúdo separadamente, de forma por vezes até bem clássica com exercícios de consolidação de procedimentos... Os meus alunos sabem bem da necessidade desse trabalho... O referencial cartesiano é disso um bom exemplo... Nunca começo por lhes ensinar o referencial para trabalharem no Scratch... Eles aprendem sim, no Scratch, que o x e o y determinam a posição de cada objecto e, muito antes de saberem o que isso significa, usam o referencial com mestria e transportam os objectos para onde desejam. Só mais tarde trabalho na aula o conceito e nem me tinha apercebido da importância desse trabalho de antecipação ( o Referencial cartesiano é um conteúdo de 7º ano que trabalho no 5º)... até...

... há alguns dia atrás, quando uma aluna da minha Geração Best (turma muito complicada, e com imensas dificuldades, que apenas conheci no ano passado já no sexto ano, mas que frequentava em peso o Clube Scratchtime uma vez por semana) me contou isto: ... ontem a nossa professora de Matemática - 7º ano - deu o referencial cartesiano e ficou muito espantada porque a nossa turma é fraca mas todos sabiam já tudo o que ela estava a ensinar!

É por tudo isto que continuo a acreditar que vale a pena, faz sentido e é preciso chegar mais longe na utilização das TIC como ferramentas de construção e não de consumo.

Pois...

Porque uma outra turma minha, depois de tudo o que viveu, está a ter uma nova experiência com as TIC que não tem dado bom resultado: as aulas de matemática são quase todas baseadas na apresentação de "powerpoints"...

Depois de olhar para os novos manuais, e recursos para os professores que vêm junto - muitos "powerpoints" para "apresentar a matéria", acho que corremos o risco de poder vir a empobrecer perigosamente as experiências dos alunos na escola... por conta de um mau uso das TIC ao serviço da educação... se cedermos à tentação do fácil... Espero que não aconteça.

Não uso powerpoints, acho o elemento humano fundamental, mãos na massa é a única forma de..., nas minhas aulas o trabalho mais clássico alterna com o trabalho de investigação onde todos têm o direito a participar, as TIC estão ao serviço de intenções pedagógicas de construção activa de conhecimento e não são nem omnipresentes, nem condicionam a acção educativa.

Vale a pena reflectir sobre esta questão...

2 comentários:

IC disse...

Sobre "o mais pequenino"... um grande sorriso... :)))))
Sobre tudo o mais que escreveste: só um pormenor, que eu também já sabia/adivinhava desde a apressada exigência do uso das TIC como elemento de ADD, da parte de MLR... PowerPoint + PowerPoint + PowerPoint + ............. O ensino tradicional, expositivo, alunos passivos, apenas um bocadinho enfeitado! E na Matemática!!!!!!!!
Mas... cala-te minha boca! (Falei disto bastante na altura, no meu blogue. Para quando uma formação de professores no uso das TIC dada por um bom pedagogo e não por um "técnico" de informática?)
Mas o Scratch é um bom exemplo para o lado positivo, os esforços para o divulgar já deram frutinhos e... para o próximo ano vão dar frutos bem maiores ;)
Era importante cativar outras ESEs.
Beijinhos

Teresa Martinho Marques disse...

Pois...
Aos poucos irá... :)

Beijinhos