segunda-feira, janeiro 18, 2010

Don't dream is over...

Comprei umas botas impermeáveis porque às vezes parece que chove mais do chão do que do céu. Nas ruas da cidade, para onde vou muito cedo de manhã, são muitos e estão por todo o lado os chapéus de chuva mortos. Não gosto de chuva com vento. Não gosto de vento com sol. Não gosto de vento com frio. Não gosto de vento, pronto. Às vezes imagino como seria ter um emprego onde pudesse andar vestida de princesa, em vez desta espécie de armadura juvenil e prática que me permite correr melhor o mundo de porta em porta, de coração em coração. As botas são bonitas, mas parecem-se com as que os miúdos usam na escola. Tenho umas botas de princesa mas raramente um baile onde as levar. Lembro-me das palmeiras muito pequeninas sem tronco na Praça de Portugal quando tinha 22 anos e descia a rua que me levava à escola que iria ser minha por mais de 20 anos. Hoje percebi que estão altas, muito altas, quando finalmente os meus olhos, depois das 19, no regresso a casa (quase doze horas depois de ter saído dela) coincidiram com a direcção dos faróis. Não escolhi lá muito bem o CD que me fez companhia no caminho. No regresso troquei-o pela rádio e dei com os Crowded House - Don't Dream It's Over. Nostalgia(s) no plural. No carro sou dada a elas. Muito mais do que uma por dia. São pensamentos uns atrás dos outros. Filas deles. Da maioria nem me lembro. Hoje recordo que reparei nas palmeiras e nos anos que as fizeram enormes. Terão envelhecido elas? Terei crescido eu? O coração tem mais espaço para escutar. Se envelhecer é isso, não é uma coisa terrível. As botas são assim coloridas com uma espécie de azul marinho escuro, fechadas com atacadores longos serpenteando e umas coisas a fingir de sol para alegrar os dias escuros. Gosto mais de viajar de dia do que de noite. Não sei porquê. É assim e pronto. É como não gostar de vento. É como gostar das coisas de que gosto: a cor azul, o Verão, a Lua cheia, o som de um piano e alunos sedentos, meus e de outros, a descobrir o mundo com muitas perguntas e olhos grandes. Acreditamos sempre que amanhã há mais coisas para viver. E que os obstáculos são apenas barreiras para saltar. Don't dream is over. Sonha apenas que todos os dias são, para sempre, quase a roçar a eternidade, começos de novos dias.
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3 comentários:

escrevinhadora disse...

Amanhã, poderá recordar os sonhos que as palmeiras sugeriram, em tempos,e revisitar o espanto que as pequeninas ilusões provocam... Tão boas!...

rabina disse...

Adorável sensação...

Teresa Martinho Marques disse...

sim.... :)