terça-feira, janeiro 13, 2009

Carta com uns dias de atraso

Eu não me esqueci de ti.
Não. Não foi isso.
A minha cabeça não anda boa para datas nem essas coisas dos números que não sejam os números que ensino às crianças. Se não fossem umas pequenas ajudas, tinha falhado, entre o final do ano passado e o que andamos aqui a semear de novo, alguns dos aniversários mais importantes. A muitos dei os parabéns no dia seguinte e desculparam-me. A outros não dei, mas lembrei-me que os não havia dado. Já foi um passo importante.
Tu és diferente.
Não há maneira de te desentranhar de mim. Vives aqui dentro quer eu queira, quer eu não queira. A verdade, confesso-te, é que quero. Quero sempre. Todos os dias. A verdade é que escolhi ter-te permanentemente comigo em forma de sorriso e a dizer coisas belas serra fora reparando nas aves e nas ondas de pedra. Nada a fazer. Fiz minha esta forma de viver os dias e, por conta desse caminho traçado cedo, tornámo-nos inseparáveis como as palavras o são das folhas onde escrevias os dias uns atrás dos outros.
Vais desculpar-me a carta chegar com alguns dias de atraso. Eu sei que vais.
E sabes porquê?
Porque o que está no centro do caminho não és tu nem sou eu. São as coisas pequenas mais importantes do mundo. E gostamos de cuidar delas. Acho que me inspirei no teu amor para dar forma ao meu. Tanto me faz que sejam crianças, flores, pássaros... é no respeito e no carinho com que as olhamos que revelam a grandeza incomparável que se aninha nelas. Coisa fora do alcance de muitos homens. É preciso ser jardineiro cuidador para perceber. Tu sabias da importância de viver feliz na escola. Da exigência que sabe estender a mão. Procuro em segredo os teus passos sempre que a falta de luz tenta perder-me do caminho.
E por um acaso cheio de intenções mágicas, acabei a viver na tua terra como se mais terra nenhuma fosse possível. Talvez te quisesse ainda mais perto do que já estás. Para me lembrar melhor.
Para não esquecer nunca aquilo que é importante.
Perdoas-me?



3 comentários:

Anónimo disse...

Onde quer que possa estar, Sebastião da Gama vai gostar de saborear as tuas palavras. E vai perdoar-te o atraso... porque ama quem cuida prioritariamente das (suas) rosas...
EdMar

Luis Neves disse...

Janeiro 14
Como vou insistir muito na leitura, achei bom começar por uma lição teórica (conversada) sobre as conveniências do ler bem. No meu sumário (digo meu, porque cada um de nós - preveni ontem os rapazes - escreverá o seu sumário, dando assim uma notícia da sua capacidade de síntese e de atenção com que seguiu a aula)
escrevi:
1 - a) A leitura e a conversa. (Como aquela se deve aproximar desta e como essa aproximação nunca passa de aproximação, do mesmo modo que aquela flor que eu pintei a óleo numa tela - para o caso serviu o quadro e o giz - não pode nunca confundir-se, embora perfeitissima, com a flor modelo.)
b) A cor das palavras. (Há palavras alegres e há palavras tristes. E essa tristeza ou essa alegria umas vezes está nelas, outra no modo de as dizer. Assim , certa palavra pode ter muitas e até contraditórias significações, consoante o modo como é pronunciada. E pronunciei «malandro» querendo exprimir - como eles viram -ódio e querendo exprimir carinho.)
c) Conveniências de ler bem. (Para que nos oiçam; para que nos compreendam; para que se convençam. - Que é que vai perder tempo a ouvir, na rádio, alguém que diz coisas estupendas numa leitura péssima?
- A quem comunicarei o meu entusiasmo, se não falar entusiasmado, a minha tristeza, se parecer que estou alegre, a minha necessidade de chegar depressa, se der a mostrar que tenho muito tempo?

Do diário de Sebastião da Gama, (fui ler o dia de "hoje", no livro da minha mãe. ainda não li o diário)

Na altura podia ser assim um género de Blog, para poder mostrar o seu trabalho e ideias.
Pelo teu trabalho que acompanho aqui na teia, tem uma seguidora á altura.
Muita sorte tem o SCRATCH de ter em portugal professoras tão activas e inovadoras. Só assim estes programas podem ter futuro nas nossas escolas.
Depois também queremos ver a tua apresentação na Teia.

Teresa Martinho Marques disse...

Partilharei... Para já só tenho uma versão em inglês... Nada complicado. O importante serão as palavras que direi durante a síntese que a apresentação em powerpoint mostra. Mas serão vestígios simples dum caminho que tem dado muito prazer a fazer.
Obrigada pela vossa presença e palavras... sempre...