segunda-feira, dezembro 17, 2007

O futuro da Educação Matemática na Europa III

Acompanhei o que consegui... as reuniões de avaliação (em salas bem congeladas... suspiro... a constipação volta a regredir antes de se curar) comeram algumas horas à conferência e não foi possível recuperar o sentido de tudo.

Bom acompanhar o que se vai fazendo, dizendo, investigando, pensando. Aproveitar para reflectir sobre a nossa prática, sobre a nossa distância ou aproximação a alguns paradigmas desejáveis para a educação matemática.
Quantos professores terão conseguido acompanhar o evento?
E terão sido os que mais precisavam de ouvir algumas das questões levantadas neste segundo dia do encontro?

Percebi a certa altura que parece não haver investigação suficiente sobre desenvolvimento curricular, sobre a relação entre competências do professor e resultados dos alunos, muitos mais campos a explorar no futuro para que as respostas encontradas possam ser de alguma utilidade na mudança.

Retenho uma ideia curiosa do primeiro orador...
Opening lecture by Alan Schoenfeld (UC Berkeley, U.S.A.): An International Perspective on the Future of Mathematics Education

Vou tentar ser fiel à sua mensagem. Dizia ele a certa altura que na América, como em muitos países, presidentes, ministros, políticos em geral ao chegar ao Governo declaram-se imediatamente os "reformadores da educação" e, governação após governação, são introduzidas variadíssimas reformas mal avaliadas não havendo a estabilidade necessária para seguir um plano gradual, sustentado na investigação, que se prolongue no tempo sem perturbações sistemáticas de salvadores (estou a ser muito livre nas palavras, mas penso que captam a ideia).
Insistiu que sem essa estabilidade, sem essa avaliação e investigação que permita perceber o que fazer e como fazer e manter durante tempo suficiente um projecto nacional, não é possível chegar a algum lado ou melhorar resultados.

E regresso no tempo à reorganização curricular - currículo por competências (entrou em vigor em 2001/2002) que prometia uma avaliação e reformulação em 2003/2004... (falei aqui dessa questão). Prometia também a revisão dos programas para se ajustarem à nova formulação (?). Enquanto isso não acontece (acreditem, nunca acontecerá) vão sendo feitos remendos e tomadas medidas avulsas, das quais o Plano de Matemática, a reformulação do currículo que passou ao lado da maioria dos professores (e confesso, ao contrário do que esperava, é um documento enorme e volumoso que não sei se virá a ser de grande ajuda) são apenas um exemplo, como o são os planos de recuperação e acompanhamento disto e daquilo, as mudanças de estatuto disto e de aqueloutro, as alterações drásticas na gestão do tempo que inibem os professores que sempre investiram no estudo e na melhoria das suas competências de continuar a fazê-lo (e providencia uma boa desculpa aos que nunca o fizeram para continuarem sem o fazer) em prol de actividades dispersas, reuniões sem fim, relatórios e burocracias que sufocam neste momento a escola, inibindo-a de levar a bom termo aquela que deveria ser a sua principal missão. E mais remendos com um estatuto da carreira docente que separou os professores em titulares e professores no absurdo mito de que os mais experientes/competentes iriam gerir os destinos das escolas e avaliar os menos experientes e competentes (se soubessem a vontade de rir que isto me dá, e nem preciso de olhar para muito longe, salvaguardadas as óbvias excepções), um projecto de avaliação de professores que vai instalar um caos anedótico nas escolas, as novas indicações para a formação dos professores (se ouvissem o que já ouvi em certas reuniões...)... a preocupação em reformar rapidamente as formas de gestão das escolas... preciso de continuar?

É esta a estabilidade para que a reflexão aconteça?
Onde está um projecto que realmente tenha continuidade no tempo, resultante de uma avaliação séria e coerente que não se reja apenas por estatísticas de natureza duvidosa? Um projecto no qual os professores sejam realmente parceiros (no qual se envolvam, com tempo para tal, exigindo-se-lhes esse contributo com seriedade, mas com condições de execução) e não apenas funcionários cumpridores/aplicadores de ideias políticas não sustentadas pelos mais simples e elementares princípios educativos?
Onde está tudo o que faz falta?

O discurso repete-se à minha volta em cada ciclo: deixa estar, quando estes cairem há-de vir outra novidade qualquer... nem sei para que te incomodas. Vai levando... sem stress...isto depois muda...

Mas eu não consigo não me incomodar. Mesmo que um dia isto mude. Precisamente porque muda e muda e muda e nada muda.
E continuo a achar estranho que haja, mesmo entre os professores, quem não se incomode e durma tranquilo como se os filhos da nação não fossem também seus.

A ministra da educação estará presente no encerramento desta conferência.
(Pergunto-me: para quê?)
.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cara amiga:
É mesmo isso "...e muda e muda e muda e nada muda".
Sempre que aqui venho... já sabes, encontro escrito, e sentido, aquilo que sinto.
Um abraço,
Emília.

Teresa Martinho Marques disse...

Abracinho grande Emília! Obrigada por leres e partilhares o teu sentimento...