quarta-feira, setembro 17, 2008

Alunos: zero - resto: tudo

Adivinhava-se que começaria a acontecer. As reuniões cada vez mais difíceis (em quantas escolas país fora?). Zangados, aborrecidos, tristes ou só indiferentes. Discussões sem rumo, feridas abertas. Avaliação de desempenho, horários, avaliação de desempenho, diagnóstico, objectivos, grelhas, guiões, avaliação de desempenho, horários, distribuição de serviço, horários, avaliação de desempenho... Durante duas horas pouco mais conseguimos do que sentir o peso e aflição de tudo o que está a ser feito à escola. Alunos? Já não é tema de conversa possível nas reuniões. Há lá tempo! O mal-estar instalou-se há alguns anos e não reconheço esta escola. Cada ano pior que o anterior. Mais feridos, mais distantes, daquilo que importa e uns dos outros.
Escola sem sorrisos é como ave sem asas: não há magia que a eleve.
Deixa de ser lar. É só madrasta casa que, por sorte, ainda tem alguns jardins com flores onde entro a certas horas do dia para me purificar de todo o mal.
Sonho com o dia de amanhã, sem reuniões. Com o momento em que vou fechar a porta da sala.
E não me venham dizer que faço mal em me esconder, me proteger.
Tenho ninhos para tomar conta: quero sobreviver, por eles. Precisam do alimento que lhes levo. Da força das minhas asas para o procurar. Cada vez menos energia para combater por todos. Mão sábia soube como nos levar à rendição, à subjugação. Regra a regra, lei a lei, quase sem darmos por isso. A extinção do melhor que sempre habitou as escolas. De uma escola com tempo a uma escola sem respiração.
Tentarei continuar a combater os absurdos como puder, em cada gesto com sentido. Fundamentarei cada decisão em direcção contrária. Continuarei a aceitar as penalizações como consequência das opções que for fazendo. Não farei nada que sinta ser prejudicial aos alunos. Partilharei reflexões durante o processo. Falarei sempre de esperança e de luz (a dos jardins)
Objectivos individuais escassos para tanto mal a precisar de emenda, eu sei, mas não consigo mais...
(O resto da energia pertence-lhes a eles.)

7 comentários:

João Paulo Proença disse...

tempos difíceis estes.

Quem nos devolve o riso e as asas?

EMD disse...

Não desistiremos de sorrir!
Não desistiremos de voar!
Precisamos de o dizer, repetidamente.
Como tu o fazes,
com palavras brancas e pretas
e de todas as outras cores
que roubas às borboletas!
Beijinhos!

Fátima Campilho disse...

Boa reflexão, Teresa.
Também ando cheia de reuniões.
Gosto mesmo de palestras com gente que sabe o que faz e o que diz.
Vejo que ó muda o país pois os problemas são bem parecidos.
Abraços saudosos,
Fátima.

Teresa Martinho Marques disse...

Pois...
Teremos de manter o sorriso... nem que seja apenas no jardim... Eles, os meninos, precisam e merecem. Abraço

armanda disse...

Como eu me identifico com o que diz, Teresa! O que aconteceu à escola que tínhamos? Que tristeza por aí anda! Será possível modificar isto?
Um abraço.
Armanda

Teresa Martinho Marques disse...

Já nem sei Armanda... e não me parece que o novo modelo de gestão ajude... talvez pelo contrário... Veremos... Abraço

Existente Instante disse...

Cai...
A primeira acastanhada
folha-texto de Outono
Na minha serenidade.

Brilham na Teia
os olhos orvalho
da incansável e bela tecedeira.