sexta-feira, abril 14, 2006

Atrair e criar borboletas: a história

Foto de uma das minhas borboletas do Verão passado


Tudo começou no Verão passado com um folheto da Tagis (a propósito de uma actividade – dia B – na qual as escolas podiam participar http://www.tagis.net/tagiseventosdiab2006.htm ). Dali ao seu sítio na internet ( http://www.tagis.net/ ) e a outros sítios sobre borboletas foi um pulinho. Um artigo em particular despertou-me a atenção: http://www.tagis.net/tagisblnotasplantas.htm
e resolvi introduzir algumas espécies de plantas no jardim, fazendo o que em inglês se designa por “butterfly gardening” para atrair mais borboletas. É claro que primeiro estudei bem os tipos de borboletas que poderia atrair (comprei o livro de Ernestino Maravalhas As Borboletas de Portugal - http://www.tagis.net/tagiseventoslivromaravalhas.htm ) e as plantas mais úteis e adequadas à situação do jardim. Uma das primeiras missões foi tentar encontrar arruda nos viveiros (a ideia era atrair a espécie papilio machaon para colocar ovos nela, já que é uma das plantas hospedeiras - servindo de alimento à lagarta. Fui bem sucedida logo à primeira tentativa no viveiro onde costumo ir... tão bem sucedida que as arrudas que comprei já traziam lagartas de papilio machaon (o mesmo veio a acontecer noutro viveiro e foi uma risota pois eles tinham escondido as arrudas com receio de que os clientes, ao ver as lagartas enormes, não as quisessem comprar... e também lhes custou matá-las. Sorte a minha ter perguntado se não tinham arrudas! E sorte das lagartas também... hoje são felizes borboletas).

Na escola, um colega emprestou-me um aquário velho e lá comecei eu a criação, depois de estudar muito bem as condições necessárias no meu improvisado borboletário e os passos a dar (nessa altura foram de extrema importância sites, fóruns, blogues... sobre o tema). Seguiram-se dias de enorme entusiasmo, com anotações diárias, fotos de toda a evolução, horas aguardando para conseguir observar em directo a transformação da lagarta em crisálida e a saída da borboleta (Agosto - férias). Tenho filmes desses momentos e senti-me um verdadeiro David Attenborough em busca dos segredos da natureza.
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Entretanto avancei na plantação de espécies para atrair as borboletas e tudo começou a funcionar muito para além das expectativas (a mais emblemática é a budleia, também designada por arbusto das borboletas – butterfly bush, de tal forma as atrai. Plantei duas e foram um sucesso – a maioria das fotos foi feita com as borboletas bebendo o seu néctar... As lantanas são também muito eficazes). Escolhi espécies variadas e combinei-as pelo jardim, repetindo as arrudas em vários locais, perto de fontes de néctar e ao sol.
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Foi um Verão de observações férteis e consegui atrair para o jardim várias espécies de borboletas diferentes das vulgares pieris (típica borboleta da couve). Podem ver as fotos que tirei no Verão de 2005 em: http://www.saborsaber.com/butterfly gardening.pdf (a única foto que não é nossa é a da pararge aergia – retirei de http://www.leps.it - um dos melhores sítios para consulta de imagens. Tudo devidamente organizado por famílias). Todavia, a pararge é das mais frequentes em todos os jardins e no meu tenho residentes que observo diariamente. Mas ainda não consegui fotografá-la convenientemente (é muito bailarina).



Assisti a posturas frequentes das fêmeas papilio machaon sobre as minhas arrudas, e recolhi ovos para criação no borboletário. Para ver uma pequena amostra do seu percurso de vida (composição/selecção de fotos minhas), o caminho do ovo à borboleta, vão até
http://www.saborsaber.com/Caminho.pdf

A terceira geração (Outono) foi numerosa e recolhi muitos dos ovos. As lagartas que deles nasceram formaram as crisálidas que hibernaram todo o Inverno e estão agora a nascer em Abril (já vos mostrei algumas). Com tudo isto enganei um pouco a natureza, pois as chances de sobrevivência do ovo até à fase adulta são de cerca de 2% (predadores e outros acidentes de percurso) e, com os incêndios da Arrábida, estas espécies ressentem-se muito. Uma vez que se suspeita que migrem, não há problema se houver um excedente aqui na zona. Não se alimentam de plantas necessárias ao Homem e, se faltar alimento, podem migrar para alguns países do norte da Europa onde deixaram de existir há alguns anos. Repovoamento na Europa a partir de Azeitão (não deixa de ser uma coisa engraçada de imaginar!).
Este ano as arrudas estão grandes e vou deixar as estatísticas da natureza funcionar... estarei atenta às posturas, acompanharei as lagartas in situ deixando a maioria pelo jardim (ou mesmo todas, se me faltar o tempo... ai o tempo... eu precisava de dias com o triplo do tamanho para tudo o que me encanta na vida e sonho fazer...) .
É verdade! Tenho arrudas em vasos no andar de cima e no Outono ali se criaram ao natural mais de uma dezena de lagartas nascidas de ovos lá colocados pelas fêmeas... Claro que quando começaram a fase de busca do local para se transformarem em crisálidas... nunca mais as vi. Mas suspeito que estejam bem e que logo logo terei notícias delas quando as vir sobrevoando o jardim, bebendo o néctar que ofereço e deixando os ovinhos espalhados pelas arrudas.

A natureza tem magias que a própria magia desconhece...
É assim um poema enorme que se escreve sozinho sem precisar da ajuda de nenhum poeta.

(Sugestão: em escolas pequeninas este é um projecto engraçado para desenvolver com os alunos... mas primeiro há que pô-los a investigar e a estudar para que tudo corra bem. Acabei de descobrir que em Outubro vai inaugurar uma exposição sobre borboletas no Museu de História Natural da Faculdade de Ciências de Lisboa e um borboletário – jardim com borboletas vivas num espaço coberto (Lagartagis - estufa com um jardim mediterrânico onde vai ser possível observar espécies típicas da Península Ibérica) em pleno Jardim Botânico de Lisboa ao pé do referido Museu.
Para uma visita virtual (filme e divulgação da exposição e do Lagartagis), antecipando algo que será (pelo menos para mim e para os meus alunos do 5º ano de Ciências) de visita obrigatória no próximo ano lectivo, podem ir até
http://www.borboletasatravesdotempo.com/ .

Para actividades com crianças e jovens (em 2006) e outras, consultar:

http://www.tagis.net/tagisdestaques.htm

Está aberto o apetite?

26 comentários:

Ivo Rodrigues disse...

Saudações Alentejanas !!!

Que grande ....... prazer te deve ter dado esta criação !!!

Eu por vezes, não muitas costumo fazer é encontrar lagartas, alimento-as, fazem casulos/crisálidas e quando aparecem as borboletas tiro fotografias e vão há vida delas !!!!

Foi assim que consegui tirar por exemplo fotografias á lagarta e borboleta da borboleta caveira -Acherontia atropos- a lagarta é linda !!!!

Já agora convido-te a visitar o meu blog sobre fauna e flora, tb já lá estão algumas borboletas !!!

Haja saude !!!

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada pela visita Ivo!
Essa borboleta é linda. COnheço dos livros, mas nunca vi! Vou visitar o teu blog, podes ter a certeza!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

as pequenas metas desta vida podem no fim tornar-se grandiosas.Simplesmente lindo (estou a tentar fazer o mesmo:))

Anónimo disse...

Vais ver o prazer que dá........................ :)

Anónimo disse...

Muitos parabéns, Teresa!!!Que belo projecto! Adorava ter um quintalito para poder fazer o mesmo!Um exemplo a seguir!

cauda-de-andorinha

Teresa Martinho Marques disse...

Obrigada! E não perca a esperança... Isto é possível numa varanda (mesmo em Lisboa, li uma história gira sobre isso)...
Aqui em Azeitão tinha vasos com arrudas na varanda e elas apareciam para depositar ovos! O quintalinho é dispensável.

Anónimo disse...

Oi, meu nome é Raquel, sou de Recife, Brasil. Sou apaixonada por borboletas, o mundo delas me encanta demais. Mas ainda tenho pouco conhecimento a respeito e seu site proporcionou-me aprendizados fantásticos e inspirou-me de tal forma, que não tenho palavras para agradecer :)))))

Teresa Martinho Marques disse...

Oi Raquel!
Obrigada pelas suas palavras. É tão bom saber que podemos ir tocando os corações de algumas pessoas. Abraço grande

Natura disse...

Olá Teresa, pelo que tenho lido do seu blog, sei que por motivos profissionais, as suas "flores do céu" têm tido um pouco menos do seu tempo. No entanto queria-lhe pedir uma ajuda, que está relacionada com este post. Tenho andado a investigar, qual a relação entre o numero de ovos e o numero de adultos, de várias borboletas no seu ambiente natural. Já tenho alguns resultados, para algumas espécies, retirados de estudos feitos por biólogos mas não encontrei qualquer referência (com excepção feita ao seu blog) relativa à Papilio Machaon. Sei que possivelmente é pedir demasiado, uma vez que este post já tem bastante tempo, mas se fosse possível fazer esse "exercício", pedia-lhe que tentasse lembrar, onde conseguiu essa preciosa informação. Desde já agradeço a sua atenção.

Teresa Martinho Marques disse...

Olá!

Logo no início da entrada refiro o livro de Ernestino Maravalhas (Borboletas de Portugal)... penso que encontrei informações aí... mas a maioria foi através da internet em pesquisas demoradas sobre o tema... Tenho na Teia um link...qq coisa como La planete des Insectes... de um senhor que cria Papilio há imensos anos... também aprendi com ele. É muito interessado e disponível.
O ideal é contactar a equipa da Tagis que tem biólogos que fazem estudos sobre os temas. Divulguei aqui na teia há pouco tempo alguns contactos... Eles serão os especialistas melhores para obter este tipo de informação. Espero ter ajudado!

http://tempodeteia.blogspot.com/2008/04/tagis-um-ano-depois.html

Abraço

Leonor disse...

Boa noite. Desde já devo dizer-lhe que tem um blog muito interessante. Chamo-me Leonor Canelas e vim parar ao seu blog porque ando numa pesquisa intensa sobre borboletas. Mais especificamente borboletas portuguesas. Estou no curso de design e tenho um projecto para fazer onde toda a base deste é relacionada com a borboleta. Tenho uma data muito limiada para entrega. E precisava de informações fidedignas. Gostava de lhe expor algumas perguntas. Tenho a certeza que me poderá ajudar bastante e tenho a certeza que vai gostar e apoiar o meu projecto.
Agradecia-lhe muito se me pudesse contactar para trocar-mos algumas ideias.
O meu e-mail: canelas_@hotmail.com
Muito obrigada pela sua atenção.

Teresa Martinho Marques disse...

or, a minha vida neste momento está meio caótica. Iniciei trabalho como formadora da ESE passo os dias fora de casa de escola em escola, para além das minhas aulas... nem consigo já vir aqui como desejava, nem dar atenção a família, mails eu sei lá... Ainda por cima, para cúmulo, o trabalho embrulhou-se porque adoeci e estou em casa com suspeita de gripe A e bastante atacada....
Peço desculpa por não ser neste momento de grande ajuda, mas vou indicar a melhor fonte de todas para obter informações (melhor do que eu, que sou apenas uma curiosa e deixei de ter tempo para me dedicar a elas como antes): http://www.tagis.org/ Centro de Conservação das borboletas de Portugal...
COntactos:
Tel + Fax: 213 965 388

E-mail: info@tagis.org

Morada:

Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal
Museu Nacional de História Natural – Museu Bocage
Rua da Escola Politécnica, 58
1250-102 Lisboa

O Museu Nacional de História Natural (MNHN) localiza-se entre o Jardim do Príncipe Real e o Largo do Rato.

Se tiver dificuldade em encontrar as nossas instalações dirija-se por favor seguranças do MNHN.

Abraço

Leonor Canelas disse...

Muito obrigada pela disponibilidade de me responder apesar de tudo o que se está a passar na sua vida.

Desejo-lhe umas rapidas melhoras e muita felicidade em tudo o que concretizar.

Cumprimentos

Leonor Canelas

Wolv disse...

Fantástico!!
Vou compra minha primeira arruda amanhã.

Anónimo disse...

Luciana Sa
Ola encontrei a sua pagina web quando buscava informacoes sobre como criar borboletas. Eu moro na Suecia e tenho um ninigolf com um grande jardim onde há muitas borboletas no verao, dai a ideia de construir um borboletario.Nossa pagina web é www.balstabangof.com Eu e gostaria de lhe pedir alguns conselhos. Um abraco, Luciana

julio tigre disse...

tenho em meu pequeno quintal uma planta onde todos os anos depositam ali ovos( ainda não os encontrei nesta forma) da Corujão, borboleta azul muito grande, as lagartas (haviam quatro este ano) são enormes, queria garantir a sobrevivência de todas elas, o que voce me aconselha.

Teresa Martinho Marques disse...

Olá a todos
Ando um pouco aflita de tempo... Para o último comentário digo apenas... arranje um espaço grandinho (ou um terrário, aquário com bom volume e rede para colocar ovos e lagartas que alimentará... convém ter ramos para depois elas fazerem as crisálidas... depois ficar atento e soltar as borboletas mal saiam da crisálida e sequem as asas :) Era o que eu fazia quando tinha tempo........... :) Mas não conheço essa borboleta... leia primeiro tudo o que puder sobre ela....!

Anónimo disse...

Oi Tereza (desculpe se errei seu nome) tenho 11 anos e adoro borboletas por causa de suas cores e transformação.Na casa da minha vó tem um jardim enorme e eu queria saber se você sabe algumas flores que mais atraem borboletas porque vou fazer a mesma coisa do aquário :D

Anónimo disse...

Me manda um email para eu saber as plantas ok? :D

Teresa Martinho Marques disse...

Olá. Estão no texto. Aa melhor é a budleia que também é conhecida por arbusto das borboletas. A Arruda atrai o papilio machaon mas se vive no Brasil, deve haver muitas outras que desconheço. Procure na internet especificamente para as vossas espécies e encontrará muita coisa.

Unknown disse...

apareceu uma lagarta na minha pimenteira, que é praticamente uma muda. Não quero matar a lagarta mas não posso deixar ela comer minha muda. Será que posso montar um borboletário e ela comeria outra coisa?

Teresa Martinho Marques disse...

Olá... elas só comem uma espécie de comida........ portanto só sobrevive com a mesma planta.

Unknown disse...

Boa Tarde,
preciso de ajuda, tenho uma empresa de animação e pediram para Abril uma largada de borboletas á saída da igreja.
aonde posso arranjar cerca de 15 a 20?
obrigado,
Vera

Teresa Martinho Marques disse...

Boa tarde
Já não desenvolvo esta atividade há muito... o único sítio que me ocorre é o Borboletário da Faculdade de Ciências de Lisboa... http://www.museus.ulisboa.pt/pt-pt/borboletario

Natura disse...

Olá Vera. Contacte-me pelo meu mail. josemanuelsilva2@gmail.com